Tensão entre nós

Titulo do capítulo: Capítulo 1

Autor: Diene Médicci

Amira tem vinte e nove anos, muito focada e inteligente, sempre soube o que queria para si, desde criança fazia planos e os seguiu sempre que pode. 

Namorou com o Kadu desde os quinze anos, saiu do ensino médio direto para a faculdade, noivou e casou antes do vinte e cinco. 

Tudo parecia perfeito, nunca houve uma dúvida se quer sobre ter escolhido a pessoa certa para compartilhar a vida e construir uma família. Juntos estudaram, e batalharam por anos, para ter a casa própria, então só faltavam os filhos, que vieram de uma vez, gêmeos Kaleb e Kira. 

Amira nunca foi do tipo que desistia de nada na vida, amava seu trabalho e se sentir útil, com um caráter excelente, nunca gostou ou soube mentir, mais em um mundo onde somos instantes, foi forçada a mudar. 

Cheia de regras e rotina, gostava de viver assim, as sete da manhã era sempre a primeira a chegar no trabalho, as treze horas ia almoçar e pontualmente, encerrava o expediente as cinco e meia, fazendo chuva ou sol, ela nunca faltou um único dia e nem perdeu qualquer prazo, era a mais competente sem sombras de dúvidas. 

Andrus um magnata de temperamento difícil, carregava com orgulho a fama de carrasco, quando passava, os funcionários corriam, o evitando com medo, até em sua própria casa. Nem com a família, ele não conversava com frequência. 

Gerenciando uma fusão de empresas, voltou para o Brasil, depois de uma longa temporada na Itália e se mudou para uma cidade nova. Nunca escondeu seu desprezo por tudo, o calor, praias lotadas, festas populares de todos os tipos, odiava fumaça de churrasco e carrinhos que vendiam coisas nas ruas, ignorava os ambulantes e entregadores de panfletos, sem o menor remorso ou empatia. 

Adiantado e muito ardiloso, chegou antes do esperado, passou pela portaria sem dificuldade ou apresentação, foi testando cada funcionário que encontrou, assim ficando cada vez mais descontente. 

Muito bonito e com aquela pinta de rico, não foi barrado em momento algum, até chegar na mesa de Amira, que estava concentrada preenchendo relatórios, ao vê–lo se aproximando, levantou-se de imediato 

– Olá boa tarde, o senhor... 

Foi interrompida. 

– Boa tarde, tenho uma reunião! 

Sem ter outra opção, se colocou a frente dele, o impedindo de passar 

– Oi, desculpa, não pode entrar. 

– Sem ser anunciado. 

– Quem é você? 

– Com certeza não tem uma reunião agora. 

Ele estava mexendo no celular, a olhou sério com desprezo 

– Tem certeza de que quer me impedir? 

– Sabe com quem está falando? 

Convicta do que fazer, abriu os braços na frente da porta 

– Moço, eu não sei quem você é, e se tivesse o mínimo de educação, iria respeitar o meu trabalho. 

– Se afaste da porta, vou chamar os seguranças. 

Ele sorriu sarcástico, olhando as axilas dela, marcando suor e um furo mediano 

– Para comer essa pizza, que se encontra aí? 

– Seu salário é tão ruim, que não consegue remendar as camisas ou usar um desodorante decente? 

– Achei que essa empresa tinha um padrão melhor, assim como os incompetentes que me deixaram vir até aqui, sem a menor dificuldade, vou começar demitindo você também. 

A porta se abriu atrás dela, seu chefe saiu todo simpático 

– Andrus já chegou, seja muito bem-vindo. 

– Amira com licença? Traga um café para nós, rápido! 

Enquanto ela se afastou contrariada, Andrus sorriu com deboche 

– O meu sem açúcar, Anira! 

Com o sangue fervendo, ela já soube o tipo de pessoa que ele era, ignorou e foi buscar, começou conversar na cozinha, espalhando a notícia, quando voltou para servir, eles nem estavam mais na sala. 

Quase no horário de encerrar o expediente, Andrus voltou sozinho 

– Anira se vai trabalhar pra mim, precisa ser mais ágil, temos uma reunião e eu não recebi o que te pedi, a meia hora. 

Ela o acompanhou com o olhar 

– É Amira, e eu não sei do que está falando senhor. 

Ele havia entrado na sala, voltou com uma cara de poucos amigos 

– Não verifica seus e-mails? 

– Para onde pensa que vai? 

– Anira! 

Ela estava organizando a mesa, desligando o computador, foi pegando a bolsa 

– Meu expediente já encerrou, amanhã posso verificar os e– mails. 

– Costumo ser muito competente e pontual, sua reunião estava agendada para amanhã. 

Perplexo, ficou a encarando fixamente sério 

– Quem sabe com as horas extras, consiga comprar uma camisa nova, sua mal-educada! 

Ela foi saindo tranquila. 

–  Tenho que buscar meus filhos, na escola. Seja bem-vindo! 

Ele ficou bravo, pegou um porta retrato na mesa dela, era uma foto da família, as crianças com os rostos pintados com desenhos artísticos, reparou no quanto pareciam padrão e felizes, ficou pensando que ela não aguentaria uma semana. 

Logo saiu em baixo de chuva, stressado com as possibilidades, seco e aquecido dirigindo seu carro de luxo, a duas quadras da empresa, parou no semáforo, foi soltando a gravata e ao olhar para o lado, viu Amira brigando com o guarda-chuvas, em um ponto de ônibus, cheio de más intenções, resolveu dar a volta e passar por ela. 

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