A Filha de Dracus

Titulo do capítulo: CAPÍTULO TRÊS

Autor: Sandra Lymah

Começo a corresponder, então, me lembro de quem eu sou e me afasto.

 — Desculpe, mas acho que isso não é apropriado. — falo sem olhar em seus olhos, pois não quero ver o que há neles.

 — A culpa é minha! — ele responde, mas em vez de se afastar, se aproxima de mim, mais uma vez e pega a minha mão. — Perdoe meus maus modos, por favor. Gostaria de falar com seu pai e pedir sua mão a ele.

 — Mas… — começo a dizer, com as sobrancelhas franzidas. Como ele já quer pedir minha mão?

 — Eu sei quem você é! — ele me interrompe suavemente.

 — Quem você pensa que eu sou?

Olho em seus olhos, tentando não demonstrar meu pânico, e me preparo para fazer com que esqueça o que quer que ele fale, então, discretamente, começo a erguer minha mão para tocar em sua testa.

 — Você é a secretária do prefeito, muito atenciosa e, pelo que ele fala, extremamente competente e organizada! — ele sorri. — Pela maneira que correspondeu ao meu beijo, posso dizer que é muito recatada, uma donzela virgem, me desculpe em dizer assim. Mas posso sentir que também gosta de mim, Vivien. — ele olha para a minha mão, parada perto de seu ombro. — Pode me tocar, não vou pensar que é uma permissão para que eu possa fazer o eu bem-quiser.

 — Você me descreve como se me conhecesse muito bem. — disfarço e toco em seu rosto. — Mas vou te pedir um tempo para nos conhecermos melhor, antes de te apresentar ao meu pai, está bem?

 — Como você quiser, querida. Mas saiba que nunca senti uma paixão tão forte por alguém antes. — seu sorriso se alarga.

 — Eu… já tive algumas desilusões. — esboço um sorriso. — Me perdoe por querer algum tempo para ter certeza.

 — Não precisa se desculpar. Isso é um bom sinal! Você é madura, sensata, confiável… não é como a maioria, que tem medo de morrer sozinha, e se agarra à primeira oportunidade que surge.

 — Eu… — começo a dizer, me sentindo um pouco tímida com os elogios, e mudo de assunto. — eu te vejo amanhã na reunião.

 — Até amanhã, então, Vivien.

Mais uma vez, ele me toma em seus braços e me beija. É um beijo um pouco mais casto, e um pouco mais breve que o primeiro. Consigo sentir que suas intenções são boas, mas, com certeza, meu pai saberia qualquer coisa no momento em que o visse. Eu não sou tão boa quanto ele, para saber se há ou não, algo escondido no íntimo de alguém. Alguma coisa ruim, ou um desvio de caráter mais oculto. Principalmente, quando estou envolvida sentimentalmente, mesmo que seja uma simples amizade.

Vou para a prefeitura, para entregar meus relatórios para Adam, ainda pensando em Iancu. Refletindo sobre o que aconteceu, decido ir a pé, em vez de solicitar uma das carruagens de aluguel, que passam por mim, e consigo fazer com que, o tempo que gasto indo a pé, seja o mesmo gasto por uma carruagem. É claro que preciso falar com meu pai, mas apresentá-lo a alguém, é um pouco complicado. Afinal, ele não tem a mesma aparência dos pais normais. É mais fácil apresentá-lo como um irmão mais velho pois, poucos acham que ele parece ter, pelo menos, quarenta anos bem conservados.

Suspiro e entro na prefeitura, caminho direto para o gabinete do prefeito. Passo em frente à minha mesa, e vejo que Adam não acrescentou nada às minhas tarefas ainda, continuo caminhando até a sala, do outro lado, bato em sua porta levemente, e escuto ele dizer meu nome, com uma nota de ansiedade em sua voz. Sorrio, pois sei que ele quer saber se tudo está indo bem. Ele, com certeza, está ansioso pelas notícias.

Coloco a mão na maçaneta para abrir a porta, e quase caio de frente, pois Adam a abre rápido e de repente, mas ele me segura em seus braços.

 — Que bom que voltou, Vivien! — ele fala baixo, sua voz meio rouca. — Você está bem? Se machucou? Me perdoe por abrir a porta dessa forma, eu… eu quis te ver imediatamente. — ele me mantém segura, junto ao seu corpo, como nunca havia feito nesses meses que trabalho com ele.

 — Eu estou bem, senhor Cracium. — sorrio levemente.

 — Me chame de Adam. — ele fala suavemente, e eu começo a estranhar sua atitude.

 — Eu apenas não esperava que abrisse a porta. Está tudo bem, já pode me soltar. — falo também suavemente.

 — Não quero te soltar, Vivien. — ele acaricia meu rosto.

 — Senhor Cracium…

 — Adam. — ele me interrompe de maneira suave, mas não deixa que eu continue falando. — Venha se sentar. Deve ter sido um grande susto, eu ter aberto a porta desse jeito. — ele me conduz até a cadeira estofada, em frente à sua mesa. — Vou pegar um pouco de água para você, está bem?

Inesperadamente, ele beija minha testa, e se afasta. Começo a pensar nos motivos dele estar se comportando de maneira tão estranha comigo. Está carinhoso demais para um chefe! Em meses, ele sempre fez questão de me tratar um pouco distante, até!

Ou o observo ir até a moringa, do outro lado da mesa, e encher de água, um copo que está ao seu lado. Em seguida, ele o traz para mim, e o coloca em minha mão, quase me ajudando a beber.

 — Beba, querida…

Querida? Ele me chamou de “querida”! E num tom muito carinhoso! Mesmo estranhando sua postura, decido beber a água que ele me trouxe. Assim que tomo alguns goles, ele retira o copo de minha mão, o coloca em cima da mesa, e se senta ao meu lado.

 — Está melhor? — ele acaricia meu rosto.

 — O que está acontecendo com você? — pergunto de uma vez, sem rodeios, e franzindo as sobrancelhas.

 — Só estou te tratando como deve ser tratada, Vivien. — ele continua a acariciar meu rosto. — Você é uma pessoa muito especial para mim, e já estava na hora de eu começar a te tratar bem! Aliás, te tratar de maneira especial! Como você merece!

 — Eu trouxe os relatórios das entregas, sen… — ele abre a boca, e eu já sei o que ele vai dizer, então me corrijo rapidamente, e ele sorri. — Adam. Você deveria olhá-lo. — continuo profissionalmente, apesar de chamá-lo pelo primeiro nome.

 — Prefiro ficar te admirando e conversando, querida. — ele fala baixinho, ainda acariciando meu rosto.

“ — Eu preciso de você!” — chamo meu pai mentalmente. Sei que ele me monitora. Ele me monitora há séculos, desde que saí de casa. Aliás, mesmo quando estava em casa, e saía para uma viagem ou outra, ele sempre me monitorou.

 — Olha… Adam. Acredito que não é apropriado o que você está fazendo.

Me levanto e começo a me afastar dele, mas ele se levanta e vem atrás de mim. Sem dizer uma só palavra, pega a minha mão, e me faz aproximar dele. Me faz aproximar muito mais do que quando estávamos sentados. Sinto todo o seu corpo começar a tocar o meu, enquanto ele passa seus braços em torno da minha cintura, me puxando para cada vez mais perto.

 — Adam, preciso ir para casa, descansar. — tento me afastar, tentando não parecer rude, afinal, posso não saber o que está acontecendo, mas está muito estranho.

 — Claro, querida! Foi uma pequena viagem, mas sei o quanto pode ser cansativo, ir até as terras de Bucur. — mas, em vez de se afastar e me deixar ir, ele começa a se aproximar ainda mais. Vejo sua boca se aproximar da minha.

“ — Preciso de você! Preciso de você! Preciso de você!”

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