A Maldição de Caim

Titulo do capítulo: ⋆❈ ⋅•❂ Cena I ⋅⋆· End ❂•⋅ ❈⋆

Autor: Elliot



✹⋆ Inferno ·· 5º Círculo ✹⋅

Os olhos de esmeralda bruta cintilavam com raiva, descrença e obvia tristeza.

— Não faça isso — o ser de cabelos negros praticamente sussurrou um pedido cheio de melancolia e dor.

— Não fale como se eu estivesse errado, estivesse fazendo algo ruim — o ruivo soltou, as palavras sendo atiradas como facas afiadas em direção aquele demônio de olhos estrelados e ombros baixos.

— Você está terminando comigo…, como quer que eu fale? — O moreno parecia tentar medir suas palavras, um murmurar fraco saindo por seus lábios

enquanto seus olhos eram inundados por um certo vazio.

— Terminar? Alguma vez realmente tivemos algo? — A voz do ruivo agora era tomada por um riso fácil, frouxo e sem vida — nós nunca tivemos nada além de momentos nos quais você tinha interesse em estar — desferiu, os olhos fixos naquele semblante pálido — você vinha quando queria, ia embora quando se cansava ou algo te desagradava — disparou — sempre foi assim com você e sempre seria, não é? Porque “estrelas não amam”.

— Esse não é o ponto, Caim — o moreno tentou dizer, uma das mãos erguidas em direção ao rapaz.

— Não! — O de olhos esmeralda se afastou, o rosto choroso — esse é EXATAMENTE o ponto — seus lábios trêmulos se arqueavam em um sorriso que ele não queria dar — você NÃO me ama e não pode ME amar.

Estrelas não amam! — O príncipe infernal soltou, baixo e quase espremido em dor.

— Mentira — o filho de Lilith sussurrou — estrelas amam, Astreae; é você quem não quer amar. É você quem não quer me amar.

A voz de Caim agora estava completamente impregnada por aquele tom choroso, o tom de uma criança ferida por algo que não sabia ao certo se deveria ter visto.

— Você pode amar, Astreae — o ruivo disse enquanto encarava o chão escuro daquele lugar, daquele quarto que por tantas noites dividiu com o herdeiro do trono do inferno — você vai amar, mas… não serei eu.

— Do que você está falando? — O ser de olhos estrelados parecia confuso, perdido enquanto continuava parado, esperando uma permissão que não

viria — para que enfim pudesse se aproximar.

— Eu vi.

“Ah!” A mente do pobre príncipe parecia enfim se abrir, expandir enquanto entendia onde havia mudado — onde os fios tinham se distanciado daquele futuro que tanto esperou, o futuro onde sentaria no trono do inferno, onde estaria com Caim ao seu lado, sorrindo. Uma coroa dourada sobre os cabelos ruivos, os olhos de esmeralda bruta cintilando com o poder de um demônio recém coroado.

Ele não precisava de profecias, não precisava de muito para que entendesse o que significava ser feliz — porque por mais que o amor para uma estrela fosse como decretar sua própria morte — Astreae estava disposto há um dia — amar verdadeiramente Caim.

A dar a ele seu coração.

— Eu já te disse, profecias podem mudar, os fios sempre podem mudar — o demônio de olhos estrelados murmurou, suas mãos de unhas negras e longas agora tremiam como não haviam tremido nem mesmo em tempos de guerra — eu…

— Fios podem mudar… — Caim repetiu, quase como se contasse uma piada — mas em nenhum deles… você escolhe a mim.

Os olhos do demônio se arregalaram.

— O quá…

— Estou cansado — o ruivo sussurrou — estou cansado de sempre me questionar o que tem de errado comigo, de nunca ser o suficiente e de… pensar

que com o tempo tudo pode melhorar — aquelas palavras foram como dardos enfiados cruelmente no coração do ser de olhos estrelados e naquele momento mesmo que quisesse, Astreae já não conseguiria mais falar ou tentar impedir Caim — porque ele sabia onde aquilo iria chegar; então, o ruivo continuou — eu não quero mais cometer o mesmo erro, eu mereço mais — os olhos de esmeralda não lapidada cintilaram com dor — mereço o amor que você não pode me dar, mereço alguém que consiga me amar; e esse alguém não é você.

— Não?

— Não — o ruivo murmurou, como uma sentença — não importa em qual realidade iremos estar, nem em qual fio iremos seguir… — você jamais irá me

amar, Astreae.

“Isso não é verdade”, o demônio ouviu uma voz gritar em sua mente, mas sua boca não se mexeu, não se abriu.

O rosto delicado, os lábios rosados — a expressão de Caim que ele passaria tantas horas acordado apenas assistindo —, tudo pareceu se perder quando o ruivo deu as costas para sair, para descer a escada daquele lugar.

— Caim… — a voz de Astrae era como um fantasma, o fantasma do tom cantante e comumente carregado de vida — por favor… não faz isso, por favor…,não vá.

O corpo do ruivo enrijeceu, suas costas parecendo carregar um peso além do que se era suportado, mas ainda assim, ele não se moveu. Não se virou

para encarar os olhos estrelados que agora estavam cheios com lágrimas que eram seguradas apenas pelo restante de orgulho que lhe restava.

— Eu não estou fazendo nada — simplesmente murmurou — eu só estou sinceramente cansado…

— Não vá…, não me deixe… — era um pedido, um pedido descarado, carregado por um sentimento de medo que o demônio não estava acostumado a

sentir.

— Então diga — o ruivo soltou em um tom bufado — diga que consegue me amar, diga que estou errado.

A boca do moreno se abriu, suas unhas afiadas afundando na palma de suas mãos.

Ele queria dizer, queria se agarrar aquele fio pequeno e frágil que ainda cintilava na escuridão do destino — queria contar a Caim sobre a coroação, sobre o inferno, sobre ambos; sobre seu coração, seu destino, seu possível amor. Queria contar sobre o juramento naquela cabana de flores, sobre

o significado de cada uma de suas palavras — e, ao mesmo tempo… ele queria que o ruivo simplesmente entendesse.

Astreae queria não ter que explicar nada.

E como um barbante fraco demais sendo puxado de um lado para o outro — o fio se desfez em frente aos seus olhos.

— Não… — o demônio soltou, sua voz carregada de angústia e desespero.

Os olhos de esmeralda se arregalando enquanto as lágrimas de Caim se derramavam por suas bochechas quentes e rosadas.

Aquele era realmente o fim. 

· · ❂⋆ · ·

Tamanho fonte: