A Maldição de Caim

Titulo do capítulo: ⋆❈ ⋅•❂ Cena III ⋅⋆· Curse ❂•⋅ ❈⋆

Autor: Elliot

✹⋆ Londres ·· Século XII ✹⋅

— O que diabos ele está fazendo dessa vez? — O olhar afiado da mulher de cabelos ruivos e longos estava fixo nos dois garotos que riam embaixo de um carvalho antigo.

— Não seja tão mal-humorada — o ser de cabelos loiros zombou — o garoto está aproveitando a vida, ao menos alguém nessa família tem que aproveitar, não é?

Uma das sobrancelhas da ruiva se ergueu.

— Ao menos alguém, Lúcifer?

— Claro, querida — o loiro sorriu, um sorriso arqueado e cheio de malícia — você não para de encarar o pobre garoto como se o mundo inteiro estivesse prestes a ser destruído caso ele cometa um pequeno deslize.

As unhas pontudas e vermelhas da mulher afundaram na pele alva de suas mãos.

— Me desculpe se não quero ver meu filho aos prantos, quebrado como quando-… — ela parou, os lábios franzidos enquanto desviava o olhar para longe de Caim e para longe daquele mortal, aquele que algo em seu peito dizia não ser uma coisa boa na vida de sua preciosa criança.

O rosto sorridente do caído se tornou sério.

— Caim não foi o único ferido em meio aquela maldita situação — murmurou com certo rancor em sua voz, um rancor resignado com dor e uma agonia quase pessoal.

O rosto orgulhoso daquela que entre tantos já era conhecida como senhora do inferno — se tornou rígido, sério.

— Não o quero daquela forma outra vez — simplesmente repetiu, o pesar parecendo resplandecer na imensidão esmeralda de seu olhar caído.

Lúcifer suspirou.

— Mas você não pode intervir — disse com calmaria e quietude — no fim, a vida ainda pertence a ele e uma parte de Caim — ainda é mortal.

As unhas finas afundaram na carne viva e o sangue escorreu por seus dedos enquanto encarava o carvalho.

— Sei — suas palavras saíram com o medo impregnado em cada letra — essa é a verdadeira maldição em ser mãe. Não, a dor do parto, não a agonia em esperar por meses…, mas que impedir que sofra é o mesmo que impedir que viva.

O caído suspirou, uma das mãos apoiadas no rosto enquanto se recostava na parede escura do castelo.

— Querida…, essa é a maldição em se ter uma cria — soltou com um bufar alto — você jamais poderá impedir que a sua prole sofra, mas o destino não se sente feliz em te torturar apenas dessa forma, então… ele o força a assistir. Assistir enquanto a sua criança amada é esmagada pela vida que ainda não conhece e os sentimentos que ainda não sabe lidar.

A boca da ruiva se abriu — mas não saiu uma única palavra naquele momento — porque, no fim do dia, Lúcifer estava certo. A risada de Caim agora podia ser ouvida claramente por eles.

— Ao menos ele parece feliz — o loiro disse com um arquear que tentava animar a mulher de vontade de ferro que continuava ao seu lado.

— Parece? — Lilith murmurou, os dedos estalando, as íris caçando sua criança entre aquelas roupas, aquele cabelo que agora estava longo.

Seu doce e lindo Caim que parecia tão manchado pela humanidade.

— Caim não é mais a sua criancinha, Lily — o rei disse como se repetisse isso para si todos os dias — e uma parte da ruiva se perguntava se isso não era realmente verdade. Se ao deitar a cabeça naqueles travesseiros absurdamente fofos, o rei do inferno não se recostava e repetia.

“Ele já não é uma criancinha, você precisa deixá-lo viver”.

Ela precisava — sabia disso, mas nem mesmo por um único segundo — se tornava mais fácil apenas por se saber.

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Os olhos de Caim brilhavam, os dedos deslizando pela pele bronzeada.

— Você sempre me encara assim — Louis sussurrou, os cabelos bagunçados enquanto arqueava o rosto em direção ao do ruivo, os lábios roçando os dele — como se tivesse medo que, em algum momento, eu simplesmente fosse desaparecer em frente aos seus olhos.

Os lábios rosados e vivos, formaram uma meia-lua quase perfeita enquanto o olhar de esmeralda se tornava um tanto quanto vago.

— Talvez… — o ruivo admitiu.

— Talvez? — Louis riu, um riso cheio de zombaria — e como eu sumiria, meu caro? Hum?

Os dedos finos deslizando pelo rosto do ruivo, os lábios selando os dele.

— Por que eu sumiria? Por que iria a qualquer lugar que não fosse ao seu lado? Hum?

“Por que eu sumiria? Por que eu iria a qualquer outro lugar que não fosse ao seu lado?” Uma voz familiar, uma que ele não gostava de se recordar —

repetiu em sua mente, em uma memória que Caim desejava ter apagado, deixado para trás com as lágrimas que derramou em uma árvore perdida, em um momento ao lado de um completo desconhecido.

— Porque… — sua boca parecia seca, seu coração pesava, mas algo em Caim — não desejava mentir, não desejava esconder isso de Louis — porque havia alguém que sempre sumia em frente aos meus olhos — admitiu — alguém inconstante e leviano que ia e vinha ao seu bel-prazer.

Os olhos de turquesa o encararam com descrença.

— Houve… outro alguém?

O pânico tomou conta da mente do pobre ruivo.

Louis não sabia?

Ah! Como saberia?

Seu peito acelerou, seus olhos vagando pelo quarto enquanto buscava por algo, por uma âncora que pudesse ajudá-lo, trazer de volta um pouco de

sanidade. 
Louis havia pensado ser o primeiro, assim como Caim havia desejado ser o primeiro amor daquele alguém — de um céu estrelado que jamais teria o poder de amar a ele, a alguém além da estrela que ainda iria surgir.

— E-eu…

Louis suspirou, o corpo se erguendo na cama enquanto os cabelos caiam para o lado.

— Não foi uma crítica — disse com certa delicadeza — apenas me surpreendeu.

Os olhos de esmeralda o encararam.

— Por quê?

— Porque uma parte minha… desejou muito que não houvesse tido ninguém em seu coração antes de mim — o tom aveludado da voz do rapaz de cabelos ondulados, fez o coração do pobre meio-demônio, acelerar.

Acelerar como se agora fosse um adolescente apaixonado em meio a descoberta de seus sentimentos.

Tudo com Louis era assim — Caim se deu conta.

Tudo, com Farrell, era um misto de sentimentos, uma bagunça que o tomava avassaladoramente e o deixava sem rumo em meio a um quarto escuro e uma cama de lençóis bagunçados e perfumes misturados.

Era novo.

Era bom.




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