
Amor Interrompido
Titulo do capítulo: Estabanada
Autor: Mary Jully
*Aurea Donato*
Acordo assustada com o meu despertador gritando no meu ouvido e, no automático, dou um pulo da cama. "Ai, meu Deus! Estou atrasada pra a escola..."
Saio correndo em direção ao banheiro, quase caindo e fazendo o maior barulho quando tropeço. Começo a tirar minha roupa e nisso lembro...
"Aureaaa! Pelo o amor de Deus! Deixa de ser louca, você está de férias! Apenas esqueceu de desligar o despertador..."
Volto para o quarto rindo de mim mesma... Em seguida minha mãe entra e parece assustada, até imagino porquê.
— Filha escutei um barulho, está tudo bem?
— Sim, apenas eu sendo a estabanada de sempre. Achei que estava atrasada para a escola e saí correndo para tomar banho... acabei tropeçando. — Digo rindo.
— Meu Deus, filha! Tenha cuidado! Eu e seu pai quase enfartamos. Ele deve estar vindo com a maleta de primeiros socorros e a polícia junto, do jeit...
Ela não termina de falar quando o pai entra cansado, como se tivesse corrido uma maratona, com a maleta de primeiros socorros na mão. E diz.
— Quem machucou, minha princesa? — Eu e minha mãe nos entreolhamos segurando o riso.
— Eu mesma paizinho, por ser uma estabanada. — Com isso minha mãe cai na risada e eu junto. Ele suspira de alivio e acaba rindo também.
— Você quer matar seus pais não é possível! Até fico preocupado em saber que vai pra longe. Quem vai te socorrer? — Ele diz ainda rindo.
— Ah, paizinho, não se preocupe. Ficarei bem... eu acho. — Digo rindo.
— Qualquer coisa, filha, liga que chegamos antes mesmo de colocar o telefone no gancho...
— Amo vocês e sentirei muita saudade desses nossos momentos.
— Também te amamos! Meu coração já está apertado em saber que vai para longe, mas o orgulho que sentimos é bem maior, princesa! Pode ter certeza que o que sua mãe disse irá acontecer. Se nos pedir ajuda, sairemos daqui correndo.
Me aproximo, abraço os dois e ficamos assim por um tempo. Após isso, eles saem e eu vou tomar um banho porque vou para o treino, mas antes irei tomar café com eles.
Uffa... concluí um treino pesado! Hoje foi bem puxado, mas gosto quando é assim, fico tão relaxada. Arrumo as minhas coisas saio da academia para voltar pra casa... Durante o caminho coloco meus fones e venho observando as ruas enquanto escuto uma linda música, It's You - Ali Gatie. Sei que é um pouco deprê, porém eu amo escutar ela... Enfim. Estou quase chegando em casa, quando vejo minha amiga, Sofia, saindo de casa. Peço pro meu motorista parar, desço do carro e dou sinal com a mão para ela, que vem correndo.
— Miiiiiga... Hum... já treinou hoje, né, gostosa?
Fala dando tapa em minha bunda, o que me deixa constrangida, mas relevo: é o jeito dela.
— Treino de perna, hoje estou a capa do Batman.
Olhamos para o lado e vimos Júnior, filho dos meus padrinhos, passando de carro e buzinando. Ele baixou os óculos e deu uma olhada um tanto maliciosa para Sofia, que retribuiu e eu fiquei intrigada.
"Hum o que está acontecendo aqui? Vou perguntar lógico!"
— Por que Júnior olhou desse jeito para você? Melhor ainda, por que retribuiu da mesma forma maliciosa?
A expressão de Sofia mudou para assustada... E claro, tentou disfarçar.
— Melhor você perguntar a ele, Aurea.
Ela entrelaçou o braço no meu e entramos em minha casa, tenho certeza que ela está tentando esconder algo de mim, mas, já-já vou descobrir, conheço Sofia como a palma da minha mão. Assim que entramos, subimos para meu quarto, preciso tomar um banho para irmos almoçar, Sofia se jogou na minha cama ...
— Vou tomar uma ducha. — Falo enquanto deixo minhas coisas na cômoda e caminho em direção ao banheiro.
— Tá bom, vou te esperar aqui, enquanto atualizo minhas redes.
— Certo!
Tomo aquela ducha maravilhosa, lavo meu cabelo e saiu do banheiro de roupão e enxugando o cabelo com a toalha. Olho pra Sofia e descido perguntar o que tanto quero saber.
— O que está acontecendo entre você e o Júnior? Aquela desculpa não me convenceu. — olho diretamente em seus olhos. Sofia senta na cama coloca o celular ao lado e diz
— É eu sei, mas não está acontecendo nada demais. Estamos só ficando. Júnior é maravilhoso, mas não posso me empolgar. Daqui a pouco estaremos cursando medicina juntas em Harvard e ele estará aqui no Brasil, como CEO de uma das empresas dos pais, enfim… Só estamos ficando mesmo.
Assim que termina de falar, dá um longo suspiro e deita na cama novamente, me aproximo dela e deito ao seu lado.
— E quando você iria me contar ?
— Amiga, foi mal! É que… foi de repente. Nem achei que iria ser mais de uma vez.
— Quando começou esse rolê aleatório entre vocês dois, então?
— Bom, eu percebi que ele me lançava olhares disfarçados, às vezes até retribuía, mas ele nunca teve iniciativa e tal. Lembra do jantar em comemoração da aprovação de Ana Laura para juíza?
— Sim, lembro.
— Começou naquele dia, Júnior disse que estava indo para casa, pois tinha aula no dia seguinte pela manhã. Assim que ele levantou da cadeira, levantei também e disse aos meus pais que precisava ir, pois estava cansada e que iria aproveitar a carona com Júnior. Fiz isso proposital. Precisava dar um empurrãozinho pra pegar aquele gato. Assim que chegamos no carro, como o bom cavalheiro que ele é, abriu a porta para que eu entrasse, sentei ele me pediu pra colocar o cinto de segurança. Antes que ele desse a partida derrubei propositalmente meu celular no chão, fingir que tentei pegar e não consegui então Júnior foi pegar pra mim, lá estava aquele gato do caralho com a cabeça entre minhas pernas. Abri as pernas dando a visão da minha calcinha para ele. Júnior foi levantando a cabeça lentamente, olhou pra dentro da minha saia e em seguida pra mim, mordendo o lábio e, antes que ele falasse qualquer coisa, eu tirei o cinto rápido e o beijei... e que beeeeijo! Nossa! Só de pensar já me dá arrepios! Fomos para a casa dele; pra ser mais precisa o seu quarto. E já sabe, né, o que fizemos?
— Não, Sofia, pula esse detalhe! Sinceramente eu não quero saber.
Falo a interrompendo, ela dá risada e volta a falar.
— Então, depois desse dia faz 3 meses que estamos ficando. Minha mãe já sabe que estamos nos envolvendo, ela até gostou. Disse que Júnior é um rapaz muito bom, mas meu pai nem sonha com isso, porém acredito que, se soubesse, não apresentaria objeção: ele vive elogiando o Júnior. Eu e meu gato nos vemos todos os dias. Lembra quando terminava a aula e eu sumia? Você me mandava mil mensagens e não respondia? Estava com Júnior, ele saia da universidade e me pegava. Também saímos à noite para as festas, tanto da universidade dele, quanto dos amigos dele. Já conheço toda a galera do seu curso. Júnior é muito atencioso, carinhoso, inteligente... ele literalmente me trata muito bem, mas estou tentando não me apegar, até porque daqui a pouco ficarei uns 8 anos em outro país e… Eu não sei se namoro à distância dá certo, sabe?
Sofia fala em Júnior com sentimento. Achei fofo, já que ela nunca tinha falado dessa maneira dos outros meninos que ficava.
— Huum… sinceramente amiga, acho que você já se apegou... Não percebeu que está apaixonada?
Digo abraçando Sofia, ela pega o travesseiro e joga na minha cabeça.
— Não, xuxuzinho. É só ficada mesmo. Amiga, vou te falar, viu? O Júnior faz coisas maravilhosas com a língua, mas como você é bebêzinha, não me permite dizer.
Diz fugindo da resposta. Ela sabe que eu não gosto desses
assuntos.
— Ihhh... não vem falar das suas transas pra mim não, Sofia! Quero nem escutar!
Levanto e vou secar meu cabelo, enquanto ela cai na risada e quando para, continua falando sobre ela e Júnior. Ou seja, teremos bastante lágrimas com essa viagem. Pelo o que senti isso não é só ficada. Não só para ele porque, pelo o que conheço dele, não é esse tipo de cara e muito menos a minha amiga. Mesmo sendo doidinha nunca a vi dessa forma: falando e suspirando por um garoto. Vamos ver o que a vida está reservando para eles nesses dois meses que faltam para nossa viagem... Assim que acabo, vou ao meu closet, coloco um vestido solto, passo uma base, gloos, por fim meu perfume e descemos para almoçar. Meus pais já estão na mesa.
— Sentem, meninas. Vamos comer.
Diz meu pai, que não para de me olhar todo orgulhoso, depois que soube da minha decisão de estudar medicina em Harvard seu orgulho por mim triplicou.
— Já estão despedindo-se dos seus amigos? Faltam só dois meses para que vocês possam ir para a Inglaterra.
— Ainda não, tio, mas vamos nos despedir de todos em grande estilo, pelo menos eu vou.
Sofia fala olha pra mim e pisca um olho, reviro os meus. Diferente de Sofia, não costumo ser popular entre as pessoas.
— E você, filha?
— Ah, pai, já estou me despedindo de quem é importante pra mim, nesse caso vocês.
Meu pai sorri e volta a atenção para sua refeição.
— A propósito, meninas, lembrem que hoje temos o jantar na casa dos seus padrinhos. Ana Clara está retornando hoje para o Brasil e vamos recepcioná-la.
Minha mãe fala e eu assinto. Assim que terminamos nossa refeição, Sofia e eu ficamos no jardim deitadas na grama, passamos quase a tarde toda conversando.
— Já parou pra pensar que nossa vida vai mudar pra caramba, daqui a dois meses?
Sofia pergunta, enquanto fico olhando para o céu sorrindo com a felicidade que estou sentindo.
— Sim, amiga. Assim que me formar e voltar para o Brasil, nos horários que não estiver no hospital trabalhando, vou fazer algumas ações sociais.
— Ai, amiga! Você tem mania de planejar tudo. Já pensou se algo acontecer e isso mudar, inverter tudo que planejou? Como você agiria? Melhor, o que faria?
— Nossa, Sofia! Que horror! Mas não sei o que faria, ia depender da situação, mas faria o melhor naquele momento...
— Hum... Falando assim pareceu o Jorge falando agora, tão centrada ao mesmo tempo tão irresponsável com o que falou.
— Tá doida? Me comparando aquele desmiolado?
— Ah, não fala assim! Você não o conhece como eu. E sendo sincera, acho que vocês combinam e muito. Ai, meu Deus! Se bem que Jorge poderia ir conosco para Harvard, aí vocês ficariam juntos, mas preferiu fazer faculdade aqui no Brasil mesmo.
Ela fala um absurdo atrás do outro, como se eu não estivesse ali, imagina eu e aquele garoto?
"Isso nunca... Porque será que arrepiei? Afff..." — Reviro os olhos, Sofia percebe e fala.
— Por que você não gosta dele?
— Posso fazer uma lista pra você, mas a princípio, digo que ele é o tipo de pessoa que me dá repulsa.
— Você precisa conhecer Jorge ele é uma ótima pessoa, pena que ele não mostra esse lado dele para todos.
— Sei bem o tipo dele. Me poupe amiga... E mais: essa loucura aí dele comigo, se voltar a repetir falo para seus pais que está doida, e ao invés de ir pra faculdade te internamos no manicômio... Ele e eu nunca nessa vida!
— Hum... já ouviu aquele ditado?
— Que ditado?
— Quem desdenha quer comprar... — Fala com um certo deboche.
Dou de ombros ignorando o que disse, pois isso não tem cabimento algum... Prefiro nem responder um absurdo desse. Enfim, mudamos o assunto para coisas aleatórias e sobre a universidade, assim que se aproximou o horário do jantar Sofia foi para casa se arrumar e eu para meu quarto me arrumar também, daqui a pouco iríamos nos reunir novamente na casa dos meus padrinhos Eduardo Muniz e Ana Bela Lins. Com aquele desmiolado do Jorge Muniz. Aff.
Pense em um garoto que nunca suportei, desde que me conheço por gente, ele sempre implicava comigo de forma gratuita. E claro, mesmo sendo uma pessoa calma, que não perde a paciência tão facilmente, que abomina a violência, retrucar, debater ou algo parecido, eu simplesmente me transformava e fazia o pior toda vez que ele provocava. Eu queria debater, gritar, estapear e até matar aquele idiota! Infelizmente ele mexe com um lado negro que existe dentro de mim, mas que só aparece quando o idiota está por perto.
— Ahhh! Eu odeio aquele idiota!
— Hum... sei não. Parece uma paixão encubada, isso sim!
Saio dos meus pensamentos com a frase da Sophia, que se acaba de rir da minha cara. Droga, nem percebi que falei em voz alta em quem estava pensando.
— Ai, nada ver...
Saio pisando duro indo em direção ao banheiro enquanto Sophia se acabava... Imagina eu e aquele idiotas, isso nunquinha.