
Assim na Terra Como no Morro
Titulo do capítulo: Página 2
Autor: Taay Carvalho
Ela riu, e disse que não tinha medo de mim, ela está jurando que eu vou assumir ou ter algum tipo de relacionamento com ela, coitada.
Não quero mais ninguém pra ter relacionamento, mulheres são todas pra serem usadas e jogadas fora, quem assume mulher hoje, tá assinando contrato pra ser corno.
Deixei o celular de lado, fui comer alguma coisa e beber água, tenho certeza que dropei balinha, eu detesto, por que depois parece que passei 40 dias num deserto, sede do caralho.
Desci pra cozinha, minha mãe estava preparando um banquete, saudade de me reunir pra comer com ela, lá dentro não tinha metade do que tem aqui fora.
Percebi minha mãe um pouco quieta, parecia triste, eu não consigo ver ela desse jeito.
— Qual foi das ideias mãe, tá com essa cara por quê? Perguntei.
— Deixa pra lá filho, está tudo bem. — Falou com uma voz baixa.
— Se estivesse tudo bem, você não estava com essa cara de triste, fala logo mãe. — intimidei.
— É que a mãe da falecida, eu encontrei ela na rua hoje, ela ficou me olhando com cara de raiva, como se eu tivesse culpa. — Disse inquieta.
— Culpada é a filha dela, e uma hora dessas ela está lá no inferno, não tem que ficar perturbando você não, próxima vez você me avisa que eu faço as duas se encontrarem rapidinho.
Tomei meu café, e já parti pro morro, não estou num dia bom, mesmo fodendo ontem de noite, estou num mal humor do caralho.
— Todo mundo sentado sem fazer nada, é pra isso que eu pago vocês? Se a polícia invadir aqui, desse jeito morre um por um. — Falei com tom de voz alto.
— Bom dia chefe, estamos em alerta, fica tranquilo. — Tranquilizou.
— Desse jeito? Nem me viu chegar, pateta, presta atenção, se perder mercadoria desconto de vocês.
Saí pra comprar refrigerante na vendinha da Dona Vera, calor do caralho, não dá pra trabalhar assim. Ela me ama, diz que sou o neto que ela não teve, ela é uma senhorinha muito boa pra comunidade.
Chegando lá, a mãe da falecida também entra, me olha dos pés a cabeça e faz cara de nojo. Vou deixar barato? Vou o caralho!
— E aí, dona Ilda, comeu alguma coisa estragada de manhã? Maior cara de cu hein, sou proctologista não. — Falei com raiva.
— Cheio de piada como sempre né? — Debochou.
— Lógico, rir é o melhor remédio, mais aí vou te mandar o papo, sua filha morreu por que traiu bandido, não morreu na mão do meu pessoal não, quem mandou ela direto pro inferno fui eu, então se tiver que peitar alguém, honra tua buceta e bate de frente comigo, não é com minha mãe não!
— Você é ridículo trovão, minha filha estava grávida. — emocionada.
— De quem? Você sabe quem era o pai? Sua filha era tão santa, que morreu sem saber quem era o pai, e se falar que era eu você tá mentindo, se fosse eu ela teria me contado. — Cortei o papo.
— Eu sei da verdade da minha filha, ela te amava! — escorre uma lágrima.
— Tá dona Ilda, acredita em papai Noel também né? Recado tá dado, se você ficar de picuinha com minha mãe, eu te mando pro inferno junto com sua filha. — Virei as costas.
Peguei o refrigerante e sai, voltei pra loja, uma loirinha gostosa apareceu pedindo maconha, deve ser moradora nova ou não é daqui, mas acho mais fácil ser daqui, ninguém entra sem eu não ficar sabendo.
— Nome dela é Eduarda. — Disse me olhando.
— Já quero passar, nem olha tá? — Falei sorrindo.
— Todo mundo aqui já tentou, ela diz que não se envolve com bandido. — Disse jogando um balde de água fria.
— Não se envolve com avião, olheiro, cargo baixo. Você tá ligado que mulher de favela age assim. — Me gabei.
— Tem razão, é do chefe que elas gostam! — Me deu um tapinha de leve no ombro.
Fiquei de marola com os caras, e a novinha passou de novo, me deu uma olhada que até fiquei com vergonha, não falei? Mulher é safada, gosta de patente alta.
— Eai loira, passa o whats? — Mexi.
— Passa o teu, eu te chamo — Soltou uma risadinha.
— Me manda um oi aqui pra eu ver. — Falei olhando de cima á baixo.
— Você não namora não né? — Disse preocupada.
— Bandido não namora gata, fica tranquila.
— Te chamei aí, tchau até mais.
E ela não rendia pra bandido né? Imagina se rendesse...
Estava no morro, quando do nada deu um trovão, barulho do caralho, quase me assustei mas lembrei que sou o próprio trovão.
— E aí trovão, aquela mina lá? — Perguntou um dos moleques todo curioso.
— Qual meu parceiro? — Em duvida de qual piranha ele estava falando.
— A do QG, espalhou pra geral que te deu. — Relembrou.
— Sério? Ela é gostosa. — Lembrei do dia que comi essa menina.
— Tá ligado, vai fazer baile esse fim de semana? — Animado.
— Acho que sim, não sei. — encostei na parede.
— Tem que ter, dez anos sem você aqui... — Levantando os braços.
— Vamos ver, te aviso. — Desencostei de onde estava.
Dei toque de mão neles e fui pra casa, hoje não tem o que fazer mesmo, cheguei em casa e já fui ligando o videogame, não demorou muito, fui pro celular, de cara, vi a última foto que tirei com a Isabela, lembrança da galeria do celular, te falar que não bate saudade, a raiva que senti no dia, sinto depois de 10 anos, filha da puta.
Respondi o oi da loirinha, já vou arrastar mesmo, não tem volta, isso se ela se render pra mim.
— Você mora aqui muito tempo?
— Não, me mudei esse mês.
— Tendeu, quer vir pro QG de noite?
— Vamos vendo.
Já vi que vai me enrolar, odeio esse tipo de mulher, a função dela é só dar e fica de graça, ninguém merece.
Criei um grupo pra resolver as coisas do baile, carga de bebida, droga, tudo, quero tudo certo e organizado, primeiro baile depois de um tempo, tem que ser o melhor de todos.
Minha mãe tá me agradando pra caralho, fazendo várias coisas, tô gostando, imagino o quanto ela sofreu comigo lá dentro.
— Eai dona Camila, vai pro baile né? — Brinquei.
— Já estou lá, olha minha idade menino. — Fez cara séria.
— Estou te zoando, "veia"... Mãe, eu estava pensando em ir no cemitério matar a saudade da Camila, o que você acha? Será que não vai pegar mal pra mim? Mesmo ela errando, ela faz falta.