
CLARA
Titulo do capítulo: CLARA
Autor: Cari Ramalho
Era claro e evidente que aquele louco estava disposto a me matar a mando da bruxa da minha ex-sogra.
Com toda certeza ela tinha muito que esconder e eu era uma pedra no seu sapato. Porém, não estava disposta a facilitar as coisas e não sei como eu consegui enfiar os dedos nos olhos do idiota e antes que se recuperasse o acertei com uma barra de ferro que para minha felicidade encontrei no chão do carro.
No que ele tentava se recuperar da dor consegui sair do veículo e corri para a estrada em busca de ajuda, mas a sorte não me sorriu e dei de cara com o investigador que estava atrás das fugitivas.
Tentei convencê-lo da minha inocência e que o homem me perseguindo na verdade era um assassino a mando da minha sogra, mas o idiota lindo era muito turrão, portanto fugir sozinha se resumia a minha única opção.
O problema que o investigador Fernando, mesmo tendo que resolver a situação com os dois assassinos conseguiu escapar a tempo de me perseguir na estrada, o que nenhum de nós dois contava era o que viria em seguida.
Parei o carro, colocando literalmente os dois pés no freio quando vi uma pick-up fechar a passagem a nossa frente e outra nas nossas costas, sem contar com os homens que desceram da carroceria fortemente armados.
Até mesmo o “super investigador” na moto ao meu lado foi obrigado a parar. Não fazíamos ideia do que aconteceria a seguir.
— A fuga acabou, Clara Gusmão — disse um negro alto e forte saindo do carro.
Ele era devidamente assustador usando aquele tapa olho e várias tatuagens pelos braços. Não era por preconceito que, ficasse claro, pois também tinha minhas tatuagens, mas o sujeito dava medo e não gostaria de cruzar com um homem como aquele em nenhuma situação.
Os seus homens se aproximaram de onde estávamos e nos forçaram a deixar os veículos e nos aproximarmos.
— Não faço a menor ideia de quem seja Clara Gusmão. — disse ajeitando os óculos que ainda usava do meu disfarce para visitar a cidade vizinha, abusando da cara mais sonsa e dissimulada que conseguia deixar estampada.
Sabia que era uma desculpa esfarrapada, mas a partir dela pensei em ganhar tempo, para encontrar uma saída.
— Está aí o investigador Fernando, que não me deixa mentir sobre quem é você. — disse o negro, com naturalidade, nos observando.
— Quem disse que me chamo Fernando? — perguntou o próprio Fernando, fazendo-me conter a surpresa.
Olhei para ele e percebi que usou o mesmo argumento que eu, com toda certeza, também tentava ganhar tempo para pensar sobre uma maneira de fugir, enfim concluiu que aqueles homens não eram caçadores de recompensa.
— Acho bom, os dois pararem de brincar. Sei quem são! — respondeu áspero.
Foi impossível não nos olharmos e naquele instante a minha sensação era que estava completamente perdida, quando os dois imbecis que tentaram me pegar na estrada se aproximaram junto com um caminhão e um ônibus de pessoas inocentes que seguiam pelo caminho bloqueado. Estava ali a minha saída.
Percebi quando o negro sinalizou para os seus homens acelerando as ordens, algo me dizia que se entrássemos naqueles carros estaríamos mortos, acho que Fernando pensou o mesmo, pois aproveitando a chegada dos intrusos ele atingiu um dos caras que lhe apontava a arma, criando um tumulto, e assim, iniciando a fuga. E usando o corpo do mercenário como escudo, atirou no pessoal que nos cercava.
Meu único pensamento foi entrar no carro que roubei de um dos idiotas que tentou me matar e me esconder dos tiros.
Um dos homens tentou me deter, mas fui mais rápida e com o corpo praticamente dentro do carro dei um chute o atingindo no saco provocando seu desiquilíbrio, tempo que usei para fechar a porta.
Em meio àquele tiroteio e a confusão na estrada, liguei o carro pensando unicamente em fugir.
Aproveitando o movimento dos carros consegui um espaço que dava para passar, mas como para me movimentar ainda estava com a velocidade lenta, Fernando conseguiu entrar no banco traseiro.
— Acelere! — gritou.
Não precisou falar duas vezes. Era a única maneira de fugirmos da zona de tiro. Colei o pedal do acelerador no chão do carro, levando no processo a lateral de um dos veículos dos bandidos que nos cercaram, por conta disto consegui espaço para arrancar e seguir rápido. Quando percebi que estava sendo seguida de perto.
— Inferno! Estão nos seguindo! — gritei.
Fernando se ajeitou no banco traseiro e passou para frente, sacando a arma em seguida.
— Mantenha o volante firme e nessa mesma velocidade! — falou.
— Nunca fiz parte de uma perseguição! Pior, nunca fui perseguida desse jeito! – gritei desesperada fazendo o que ele disse, já que o mesmo não deu a mínima para as minhas queixas.
Quando um segundo depois olhei para o lado, Fernando estava colocando o tronco para fora da janela e atirando no carro que estava bem atrás do nosso.
Pelo retrovisor vi quando o veículo saiu pela lateral da estrada, pelo visto o investigador era muito bom de mira. Mas ainda tinham dois carros atrás de nós.
— Continue firme, Clara! – disse.
Ele tentava acertar uma das rodas, mas os passageiros do outro veículo começaram a atirar de volta e foi forçado a entrar novamente no carro. Quando para o meu desespero ouvi as balas perfurarem a lataria.
— Vamos morrer! — gritei desesperada.
— Não vamos! — disse ele, puxando o volante para a esquerda, jogando em cima do outro carro.
Depois de algumas tentativas, finalmente vencemos e o carro acabou capotando.
— Acelere! — gritou ele.
Enquanto Fernando controlava o volante e os espelhos, minha função era manter o carro na maior velocidade possível, ainda restava um carro atrás de nós, justamente onde estava o tal homem assustador que tinha nos rendido.
— Mantenha o controle do volante e da velocidade, que tentarei atingi-los! — disse voltando a sair pela janela.
Pensei em reclamar, afinal Fernando era o policial e lidar com situações como aquela era mais fácil para ele do que para mim, mas nem me deu tempo para isso.
Novamente a troca de tiros me apavorou fazendo que acelerasse ao máximo. Foram os piores momentos da minha vida, quando enfim vi pelo retrovisor o carro que nos perseguia sair da estrada por conta de um tiro no pneu.
Fernando voltou para dentro do nosso carro, com um novo problema para enfrentarmos.
— Você está sangrando! — disse, com os olhos arregalados.
— Dirija, foi um tiro no braço, dá para resolver. — respondeu sério.
— Como é? — perguntei confusa, enquanto acelerava ao máximo para que a imagem dos nossos perseguidores sumisse do retrovisor.
— Não pense que vai fugir, por conta desse tiro que levei. — disse ele, ranzinza.
— Depois do que passamos, ainda acredita que posso ser culpada?! — perguntei zangada, com uma vontade ensandecida de dar outro tiro nele.
— Independente de qualquer coisa...tenho que...
— Fernando? — chamei, percebendo sua fala entrecortada.
Olhei para ele depois de alguns segundos de silêncio e vi que tinha desmaiado. Mas em seguida voltei à atenção para a estrada dando tudo que aquele carro conseguia para continuar fugindo, enquanto pensava na decisão de me livrar do policial, ou socorrer um homem ferido?