Contrato Perigoso

Titulo do capítulo: capítulo dois

Autor: Natalie Orsini


A igreja estava com um número razoável de pessoas quando chegamos, Claire optou por sentar no meio alegando ser um ponto estratégico onde teríamos uma visão boa de tudo. Estava um pouco quente e usar terno não me agradava nem um pouco.

 Logo o lugar estava cheio, Derek na frente do altar, a jovenzinha das alianças entrou jogando algumas pétalas de rosas, até que enfim a noiva chegou. Seu vestido era coberto de brilho, o design reto e sem graça, a maquiagem era a única coisa bonita naquele monte de panos brancos. 

As orações começaram, havia um tipo de folheto para todos poderem cantar junto ao coro, eu estava respirando fundo enquanto a impaciência tomava conta de mim e quando olhei para o lado vi Claire concentrada, cantando junto ao resto dos convidados, demonstrando uma animação assim como todos no ambiente.

Além de me agradar muito com sua aparência, também gostava de observar o quanto Bennet conseguia se encaixar dentre todo tipo de multidão. 

— Algum dia você vai escrever votos? — ela perguntou num sussurro fazendo com que eu tivesse que me abaixar para escutá-la.

— Fiz meus votos no momento em que te vi naquele estacionamento — sussurrei de volta enquanto ela me fitava com uma expressão satisfeita.

Quando o momento religioso finalmente acabou e pude sentir o ar fresco entrar em meus pulmões, a única coisa que passava na minha cabeça era a possibilidade de um cigarro.  A festa seria na casa de Derek, precisei da ajuda de um gps para chegar, mas a viagem à um todo durou menos de dez minutos. Estacionar foi uma coisa difícil em vista à tantos carros, acabei deixando o meu em frente à uma casa rosa cheia de macieiras ao redor, Claire me esperou para atravessar a rua e antes de enfim entrarmos no local fui surpreendido pelo calor de sua mão esquerda que agora estava entrelaçada na minha.

 A casa de Derek era demasiada, porém bem decorada. O quintal da frente servia de salão, havia uma ótima decoração e garçons por todos os lados, assim que chegamos um deles nos ofereceu champanhe. 

A boneca pareceu animada com a festa, conversou com a noiva e as madrinhas por um longo momento enquanto meus colegas falavam sobre as garotas bonitas da festa, Derek havia acabado de dizer sim à uma vida inteira ao lado da mesma mulher e ainda sim conseguia falar de outras como se fosse o cara mais solteiro do mundo.

Como segue a breve tradição, os noivos iniciaram a dança.

Quando todos os convidados se posicionaram para dançar, não ficamos de fora. Mantive a postura correta enquanto seguia os passos, tentei não olhar para os pés de Claire que se equilibrava perfeitamente em seu salto, deixando nossa altura perfeita. Depois uma música mais animada começou a tocar e senti meu corpo ser erguido em direção à um dos garçons, o mar estava agitado e eu tinha que controlar o barco. 

Enquanto bebericava seu champanhe, a boneca passou um tempo encarando a pista de dança, o quadril se movendo de leve demonstrando seu desejo em dançar um pouco mais. 

Em nosso acordo inicial, precisávamos apesar comparecer em eventos sociais e familiares, dormir na casa um do outro quando um trabalho surgisse, para que um álibi pudesse ser levantado em casos extremos e, em algumas vezes, acabávamos transando para passar o tempo.

— Estou com fome — reclamou iniciando sua talvez, terceira taça de vinho.

Aquele era um sinal brando de que estava imensamente entediada.

— Devo admitir que estou animada com a ideia de trabalharmos juntos pela primeira vez — o timbre de sua voz era suave como um pedaço de seda — por mais que acredite que devemos ficar aqui por mais tempo, a ansiedade é notável.

A respiração quente pousava sobre meu pescoço graças a sua aproximação demasiada, afinal ela se movia como em uma dança. Como era de se esperar, felicitamos os noivos, dançamos duas canções e partimos. A escolha para o trabalho mútuo me animava em demasia, afinal seria o meu primeiro após uma longa pausa não planejada. 

Tinha estudado cinco caras antes de escolher Robert, analisei seus passos e costumes, os lugares que gosta de frequentar e sua família e, por este não ter uma, as coisas se tornaram ainda mais interessantes. Foram trinta e sete dias de pesquisa.

Claro que dentre todos os delitos que rondavam a pequena MoonVille, a corrupção, soberba e política sempre falaram mais alto, deixando que lixos como Robert, um abusador de merda, pudesse caminhar livremente pelas ruas da cidade.

Bom, poderia caminhar.

O homem saiu do bar depois das duas da manhã, passou pelo meu carro e pegou as chaves para enfim dar partida, esperei alguns minutos curtos e dei partida seguindo-o discretamente, pois sabia exatamente onde ele iria e Claire me ajudara tão bem nesse trabalho que nada daria errado. 

Como era de esperar, o carro foi estacionado onde ninguém o veria. Parei alguns metros antes, deixei os faróis desligados para que tudo pudesse ser realizado. 

Nos trocamos às pressas, um de cada vez para que o outro ficasse de vigia. Colocamos uma capa de chuva por cima. Seguimos por uma das trilhas que havíamos estudado que dava acesso onde Robert estaria fumando como sempre, dois dias antes minha namorada e eu fizemos uma limpeza sobre o lugar, retirando as coisas que poderiam entregar nossa presença e pelo visto estava tudo em perfeita ordem. Me posicionei ao lado do carro, estava abaixado esperando Claire fazer sua parte. Ela caminhou tranquilamente pelos arredores até finalmente se aproximar, Robert ficou surpreso ao vê-la.

— Hey — chamou.

A boneca pisou firme naquelas folhas secas, apontou para frente com o indicador, Robert se virou e eu acenei enquanto Claire dava uma rápida corrida em nossa direção. Seu movimento fora tão rápido que consegui apenas captar o momento em que suas mãos tocaram a cabeça de Robert que fora virada para esquerda com precisão e em seguida seu corpo caiu sobre as folhas secas onde o espasmo muscular se iniciou. Naquele momento tão fodido fiquei imóvel por alguns instantes, os olhos fixos sobre o corpo que parava de se mover aos poucos até finalmente a vida se esvair por inteiro. 

Isso não estava nos planos

— Vamos mover o corpo — sugeriu. 

Dei de ombros tentando não focar na ideia dela ter roubado minha matança. O colocamos no porta malas forrado de plástico e então dirigi duas horas até SunVille. Claro que não podia ser honesto com minha psicóloga, mas as crises que andava tendo nos últimos seis meses parecia estar relacionada com uma sede estranha pela morte ao ponto de me desestabilizar por completo.

Fora justamente por isso que passei tanto tempo sem nenhum trabalho, pois, Claire, tinha sugerido uma pausa longa para tentar entender melhor as crises. Segundo ela mesma, eu estava em um estado novo, onde apenas os trabalhos limpos não conseguiam me sustentar, o que poderia me levar a uma série de atos irresponsáveis. 

Quando estacionei de frente a velha cabana, um fio de suor escorria pelas costas.

Aquela parte não era vigiada por conta de uma mina de ouro muito antiga que tinha risco de desabar a qualquer instante, sendo assim ninguém gostaria de arriscar uma turnê pelo lugar, ninguém além de nós. Movemos o corpo, deixei o corpo rolar as escadas já que o lugar estava coberto por plásticos e qualquer DNA ali seria impossível. Havia uma maca de hospital no centro, Claire retirou a mochila das costas e pegou meu kit o deixando em cima de um banquinho de madeira também forrado por plástico. Com uma caneta hidrográfica ela marcou os pontos que deveria cortar, pegou a serra elétrica e a ligou na tomada.

Isso de fato me animou, pois seria a primeira vez desmembrando corpos. 

Fiz o que ela pediu com cuidado tendo meu rosto sujo pelo sangue que respingou bastante pelo lugar, de fato o plástico tinha sido uma ótima ideia. Depois de termos cortado tudo, embalamos os pedaços em sacos de lixo, levamos para próximo do carro e enquanto eu cobria o porta-malas de plástico, Claire recolhia o que estava sujo de sangue. Colocamos tudo para dentro e então segui para próximo do pântano que ficava a alguns metros da cabana, perto do lago havia dois crocodilos adormecidos, Claire tirou os primeiros pedaços e os jogou na água, fazendo eles despertarem para uma refeição. 

Era deveras gratificante ver os répteis abocanhando a carne com vontade, o rastro vermelho que manchava toda a água escura.

— Você é terrivelmente ruim em desmembramento — Claire arqueou a sobrancelha enquanto olhávamos os plásticos queimando no topo do penhasco.


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