Das Cinzas aos Recomeços

Titulo do capítulo: Prólogo: Desejo de Morte

Autor: RHANYKELEM MONTEIRO DE ARAUJO

All Night Pub, Manaus

22 de fevereiro de 2016




Dizem por aí que, há mil e umas maneiras diferentes de morrer!

Embora conhecendo sua profissão, conhecia somente as mais comuns das diversas formas de morrer, e nem ao menos sequer, conseguia raciocinar se o que havia acontecido poderia ser considerado uma delas.

“Não seria uma péssima ideia ter morrido naquele dia, se aquela garota não tivesse me impedido”, o médico pensou.

Não sabia qual era a sensação de estar morto. Suas mãos estavam frias, o sangue quente em suas veias e artérias pareciam frios e coagulados, não sentia o seu próprio pulso e não escutava nada ao seu redor. Um nó se formou em sua garganta o dificultando de contar suas e dores aos seus amigos da faculdade, sentiu sua cabeça girar e sua visão ficar turva após mais um gole do Whisky.

Ele estava realmente morto!

Quatro lágrimas seguidas caíram no copo da bebida no momento em que um relâmpago atravessou o firmamento da Capital. Conforme a tempestade molhou as ruas ele desejou lavar sua alma. Otávio e Rodolfo se entre olharam como se estivessem falando que ele merecia por ser um homem ingênuo.

– Deveria ter acabado com a raça dele, não era para ter aceitado isso – firmou o olhar sobre o amigo.

– Não consegui, Rodolfo. Não fui capaz de dar um soco na cara do infeliz – esbravejou. O soco desferido em cima do balcão do bar não doeu tanto quanto seu corpo estava doendo.

“Esse soco tinha que ser no Victor... no Victor!”

Rodolfo bateu sua palma da mão duas vezes nas costas do homem desconsolado na tentativa inútil de acalmá-lo.

– Eu tinha que ter descoberto antes...

– Você teria feito o quê? Nada, cara. Não ia ter jeito de voltar no tempo e desfazer, o que aconteceu – Otávio balançou a cabeça, ingerindo uma dose do drink de Pitaya com rum. – Eles se aproveitaram do seu bom caráter, ele não respeitou a sua amizade e ela nem sequer lembrou dos votos que fizeram.

– Eu sei, cara. Só quero... esquecer! – Gritou, assustando seus dois amigos. – Esquecer aquela maldita noite, aquela visão infernal e esquecer vocês sabem de quem – ingeriu todo o conteúdo do Whisky de uma única vez. A cada segundo a dor em seu coração se tornava insuportável.

Ele se levantou do banco, deixando em cima da mesa o pagamento da bebido que consumiu no local, passou as duas mãos entre seus cabelos escuros, recebendo olhares confusos de Otávio e Rodolfo. Revirou seus olhos e saiu rapidamente da frente deles com os punhos cerrados. De longe escutou Rodolfo gritar:

– O que vai fazer? Está caindo uma tempestade e você não tem condições de dirigir.

– Sei lá – ergueu os braços, elevando também a voz – vou procurar extravasar essa sensação de morte em algum canto dessa merda de cidade. Minha vida acabou, será que não percebem? Não sinto meu corpo, não sei o que estou pensando para o meu futuro daqui para frente, não sei para onde ir. Eu morri. Se querem me ajudar, dirijam o carro ou sumam da minha frente.

Os dois amigos se olharam com o mesmo pensamento para tirá-lo do fundo do poço na qual se encontrava:

– Um novo Leonardo vai surgir, Rodolfo. Escuta o que estou dizendo, na verdade faz melhor, anota!

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