
DESEJO
Titulo do capítulo: Capítulo 1
Autor: Mille Meiffield
Desejo
Cap 1
Era meu primeiro dia na faculdade. Finalmente consegui sair de casa e vir morar no campus. Deixar tudo o que me aconteceu no passado não seria fácil, mas eu estava disposta a tentar. Vim para Nova Iorque para estudar e conseguir um futuro diferente.
Meu quarto ficava no terceiro andar do alojamento, quase no fim do corredor. Cheguei, abri a porta e me deparei com um lado do quarto já decorado e com alguns objetos pessoais, e agradeci o lado vazio ser o lado em que a cama ficava próxima à janela. Larguei minha mochila com as poucas roupas que eu trouxe de casa e minha mala com alguns dos meus poucos pertences. Eu tinha um bom dinheiro guardado de todos os serviços de babá que eu fazia na maioria dos fins de semana. Nunca fui muito de sair, não tinha amigos. Só responsabilidades e obrigações. Minha mãe só vivia bêbada depois que meu pai nos trocou por uma mulher com metade da sua idade e nos largou sem um centavo. Ela trabalhava em jornada dupla e eu sempre fazia todo o trabalho que podia, principalmente no verão.
Um barulho vindo da porta do quarto me tirou dos meus pensamentos e fiquei aliviada quando vi minha colega de quarto entrar.
– Olá, sou Gia Hayes, sua colega de quarto, e você? – Gia era uma linda morena de olhos verdes. Estava vestindo um vestidinho leve e florido e sandálias de meio salto. Usava uma maquiagem nem tão leve e nem tão pesada e tinha um sorriso muito bonito, e o melhor de tudo, era uma garota normal. Não aquelas todas esquisitas em que eu via na maior parte do campus.
– Elena Byron. – Disse e estendi a mão para cumprimentá-la. Abrindo um largo sorriso em seguida.
– De onde está vindo, Elena?
– Eu morava na Carolina do Norte com a minha mãe, mas ganhei bolsa integral para a Universidade de Nova Iorque e aqui estou.
– Nossa, bem longe de casa.
– Se eu pudesse iria para o outro lado do planeta. – Desabafei com um ar meio pesado e senti que Gia percebeu.
– Bom, mudando de assunto, hoje tem uma festa na casa de um dos meus amigos e você está mais do que convidada, vai ser a hora perfeita para conhecer o pessoal. E não se preocupe, são todos normais. Percebi a cara de alívio quando me viu passar pela porta.
– Obrigada, mas minha intenção aqui é estudar mesmo, nunca fui a uma festa, nem saberia o que vestir ou como me comportar.
– O que vestir é o de menos, hoje eu vou te deixar linda.
O entusiasmo de Gia me assustou um pouco, eu era muito tímida, mas acho que já estava na hora de viver um pouco. Ela me ajudou a organizar minhas poucas coisas e depois de tomar um belo banho e me vestir, passei apenas um gloss e fui com minha nova amiga a tal festa que ela iria com seus amigos.
– Nossa! Elena, está arrasando com esse vestido.
– Obrigada, você também está linda.
– Dylan vai ficar se mordendo de ciúmes hoje, por isso caprichei. – Disse Gia.
– Quem é Dylan?
– Meu namorado, quer dizer, ex-namorado – Ela disse torcendo o nariz. – Terminamos e voltamos o tempo todo, mas sei que aquele cretino me ama. – Ela riu.
A festa era na casa de um dos amigos de Gia que morava próximo ao campus e estava no segundo ano de direito. Pela primeira vez eu ia a uma festa assim e estava ansiosa para ver como funcionava a coisa toda.
Chegamos e ela estacionou seu carro em uma das vagas da garagem. A casa estava silenciosa, não parecia que havia uma festa ali. Ao nos aproximarmos da entrada, a porta se abriu e um homem lindo com olhos verdes e cabelos loiros que caíam sobre seus olhos, abre um largo sorriso e seus braços para recepcionar Gia.
– Minha pequena, pensei que só viria mais tarde. – disse o amigo de Gia. – Dylan está lá nos fundos com Marcos, Leslie e Naomi.
– O que aquela vagabunda está fazendo perto do Dylan? – Gia estava irritada.
– O que tem de pequena, tem de raivosa, calma Gia, a Leslie não merece que você fique assim.
Eu por minha vez, observava tudo em silêncio. Até que o amigo de Gia me nota a seu lado e seus olhos brilharam tão intensamente que causaram uma dormência leve em minhas pernas, parecia que elas iam ceder ali mesmo. Que olhar era aquele. Com aquele estilo roqueiro bad boy, uma de suas tatuagens começava na nuca, fazendo uma leve curva no pescoço e desaparecia sob a gola da camisa. Ele usava uma camisa preta de alguma banda de metal, spikes em ambos os pulsos e uma calça preta rasgada.
– Quão mal-educada você é, Gia. – disse seu amigo. – Não vai me apresentar sua amiga virgenzinha? – disse ele debochando de mim. Na hora despertei do torpor que estava enquanto o olhava e olhei em seus olhos friamente.
– Não começa, Diego. – disse Gia. – Elena não vai entrar na sua lista de mulheres fáceis. Deixa–a em paz. – Ela se virou para mim. – Vem Elena, vamos conhecer o pessoal.
– Gia, eu agradeço, mas vou me sentir melhor em casa. – Eu disse olhando somente para ela. – Amanhã cedo tenho aula e já percebi que não sou bem-vinda aqui.
– Virgem. – Ele disse e caiu na gargalhada enquanto entrava em sua casa, deixando nós duas ali.
– Elena, fica. – disse Gia quase implorando. – Ele é um cretino e prometo colocar ele na linha, você tem que conhecer o pessoal, Diego é o único babaca aqui.
– Está bem, eu fico, mas se ele voltar a me incomodar eu vou embora.
– Ele só está fazendo charme. – Disse Gia me puxando para dentro da casa. – Diego é um cara maravilhoso, tipo melhor amigo e super carinhoso. Depois que a Kyra deu o fora nele, ele começou a vestir essa armadura para não se apaixonar por ninguém mais. – Ela foi me explicando enquanto me conduzia a um pátio nos fundos da casa.
– Você deve ter despertado alguma coisa nele, nunca o vi sendo tão cretino assim.
Enfim chegamos aonde estavam seus amigos.
– Ora, ora, Gia trouxe uma amiga nova. – Disse um homem até que muito bonito, mas suas roupas diziam que era aquele tipo riquinho que esnoba os outros. – Nos apresente sua amiga, pequena Gia.
– Marcos, essa é Elena. Espero que não seja um cretino como o Diego e a assuste.
– O que o Diego fez? –Indagou um outro homem que estava com eles.
– Dylan querido, poderia pegar para mim dois daiquiris por favor? – Pediu Gia.
– O que eu não faço por você, amor? – ele indagou retoricamente e se retirou para buscar as bebidas.
– Então, Gia, o que o Diego fez? – indagou Marcos. As meninas que estavam conversando com eles, apenas nos observavam curiosas.
– Ele a chamou de “virgenzinha” em tom de deboche. – Gia falava já se irritando novamente ao lembrar as palavras de Diego.
– Nunca o vi destratar alguém assim, por nada. – Disse Marcos. – Depois vou conversar com ele. – Ele se virou para mim. – Sinta-se em casa, Elena. Aqui somos todos amigos.
Marcos se afasta para falar com as meninas, enquanto Gia e eu vamos para uma outra parte do jardim. A casa era enorme. Eu me perderia facilmente ali.
Finalmente Dylan volta com as bebidas e entrega uma a, mim e outra a Gia. Ficamos ali bebendo e jogando conversa fora. Não vi mais o tal do Diego.
– Gia, preciso ir ao banheiro. – Eu disse.
– Eu vou com você. – Ela disse e sorriu.
– Não precisa, pode ficar conversando com o Dylan, só me diz onde fica.
– Atravessando a cozinha e a sala, você vai ver um corredor, é na segunda porta à direita.
– Obrigada. – Agradeci e fui andando pelo caminho indicado.
– Eu sempre fui péssima em prestar atenção nas coisas. Gia disse à direita ou esquerda?
Como não lembrava, tentei a porta à esquerda e o vi. Ele estava recostado em uma chaise com o zíper da calça aberto e tinha uma morena de cabelos cacheados e com um vestido mega curto com seu membro na boca. Eles levaram um susto e antes que eu pudesse fechar a porta, senti os olhos dele atravessarem os meus e gelei com a sensação. Saí rapidamente dali e entrei pela segunda porta à direita – onde finalmente encontrei o banheiro – me trancando ali imediatamente. Uma lágrima rolou pelo meu rosto. Por que eu me importava tanto com quem estava com aquele idiota? Eu nem o conhecia. Me recompus, ajeitei os cabelos e o vestido e abri a porta para sair do banheiro.
Ele estava ali. Parado. Com o braço apoiado no batente da porta, me esperando sair.
– Gostou do que viu, Elena? – Indagou. Sua voz era fria, mas estranhamente me aquecia.
– Peça desculpas à sua amiga por favor. – Eu disse tentando contornar a situação. – Só me perdi. Não queria interrompê-los.
– Ah, eu acho que queria sim. – Disse ele me empurrando de volta para o banheiro e fechando a porta atrás de si. Ele estava sem camisa, e agora dava para ver bem a tatuagem. No meio do seu peito, havia um enorme dragão tatuado e a cauda era tão grande, que passava pelo ombro e pescoço e parava na nuca. – Gosta do que vê? – Indagou me trazendo de volta à realidade.
– O que você está fazendo? – Perguntei. Ele estava me deixando com medo e ao mesmo tempo excitada. Eu nunca havia passado de beijos e só com um carinha, uma vez. – Eu preciso ir embora.
– Está com medo de mim, Elena? – Disse me olhando profundamente.
– Na..não te..tenho porque ter medo. – Que droga, por que eu tinha que gaguejar logo agora?
– Esses lábios me deixaram louco assim que os vi. – Ele diz olhando para meus lábios e os tocando com seus dedos.
Sinto minha intimidade umedecendo e pulsando só com seu toque, e quando percebo, estou arfando e me segurando em seus braços. Diego aproveita aquele momento de vulnerabilidade e me beija. Seu beijo é quente, seus lábios macios. Sua língua se move suavemente pedindo passagem. Eu retribuo o beijo e ele intensifica seus movimentos. Nossas línguas dançam em fúria como se precisássemos um do outro para sobreviver. Eu não conseguia mais pensar em nada. Até que uma batida na porta o faz se afastar de mim abruptamente. Ele abre a porta e encontra Gia que fica de boca aberta quando vê que era comigo que ele estava ali.
– Sua amiga é deliciosa. – diz Diego saindo do banheiro e desaparecendo pela casa, me deixando ali, sem saber como reagir.
Gia fica me olhando por um tempo até que eu me recomponho, ajeito os cabelos novamente e saio passando por ela que está vindo logo atrás de mim.
– O que foi que aconteceu ali? – Gia parecia preocupada.
– Podemos conversar sobre isso em casa? – Pedi.
– Vou chamar o Dylan e vamos.
– Não. – Eu disse. – Se eu for embora agora, aquele cretino vai achar que tenho medo dele ou que fui para casa correndo por causa do que aconteceu, não quero dar esse gostinho a ele. – Peguei na mão da Gia e fui com ela até onde estavam seus amigos. – Vamos nos divertir. – Eu estava decidida a não acabar com a noite.
Quando encontramos os meninos, as duas mulheres que estavam com eles antes, já não estavam mais. Marcos me ofereceu um copo com bebida e eu aceitei, sem nem saber o que era. Simplesmente virei de uma só vez.
– Ei! Elena. – Chamou Gia. – Vai com calma.
– Hoje não, confio em você para me levar para casa se eu não conseguir ficar em pé.
Gia não falou mais nada e se afastou quando Dylan a puxou para dançar. Marcos me chamou para dançar e eu fui. Até que ele era legal e conversamos muito. Ficamos um bom tempo dançando. De tempos em tempos, Marcos buscava algumas bebidas para nós dois. Estávamos dançando e conversando distraidamente e num repente senti mãos fortes em minha cintura e vi Marcos se afastar como quem se rende. Antes de olhar para quem estava me tocando, eu já sabia quem era. Aquela mesma corrente elétrica percorria meu corpo, apenas com um toque.
– Podemos dançar, ou é acompanhante exclusiva do Marcos? – Aquela voz grave e meio rouca fazia minha calcinha ficar enxarcada e os pelos do meu corpo arrepiarem.
– Obrigada, mas estou muito cansada e prefiro parar um pouco. – Eu disse me afastando de Diego e indo me sentar em um dos bancos.
Ele veio até mim e se sentou ao meu lado.
– O que você está fazendo comigo, Elena? – ele perguntou enquanto segurava meu queixo para que eu olhasse em seus olhos.
Eu não sabia o que responder, então fiquei ali o encarando firmemente, por mais difícil que fosse. Finalmente Gia apareceu e pigarreando, se interpôs.
– Hum... Hum... Elena, estou com sono, vamos para casa? – indagou, ignorando Diego completamente.
– Também estou cansada. – Respondi. – Cansada até demais. – Me despedi de Diego apenas com um aceno de cabeça, me levantei e segui Gia até seu carro.
Chegando ao nosso quarto, Gia se senta em sua cama e eu na minha. Ela me olha e respira fundo. Penso que ela vai falar alguma coisa, mas ela não fala nada. Só fica me esperando falar. Me dando o tempo que preciso para organizar as palavras.
– Gia, eu... eu não sou uma vadia que sai se agarrando com qualquer um, por favor, não pense isso de mim. – Me expliquei.
– Elena, eu conheço o Diego há muito tempo. – Ela disse se levantando e vindo em minha direção. – Sei que ele deu em cima de você, e mesmo que fosse o contrário, eu jamais te acharia uma vadia. É normal o que aconteceu.
– Não para mim. – Comecei a chorar e Gia se sentou ao meu lado. – Desculpa Gia, eu nunca tive um namorado, nunca me envolvi com ninguém, não sei nem como agir.
– Elena, isso é normal. – Gia me abraçava e tentava me confortar. – Dylan e eu sempre temos esses “momentos”.
– Sabe, sempre que eu demorava um pouco mais após o colégio, ou voltando de algum trabalho, minha mãe me chamava de vadia. – Contei à minha nova amiga. – Ela dizia que eu estava “dando” para qualquer um, por isso chegava tarde. – Chorei mais ainda nos braços de Gia.
– Elena, eu não posso imaginar pelo que passou. – Ela disse sincera. – Mas se vamos ser amigas, você tem que confiar em mim, jamais te julgaria por algo tão banal e normal.
– Eu confio em você, só...aquele beijo para mim foi mais do que um simples beijo. – Desabafei. – Eu não consigo tirá-lo da minha cabeça.
– Diego não merece uma mulher como você. – disse Gia sorrindo. – Olha, vai tomar um banho que em seguida eu também vou, vamos dormir que amanhã é um novo dia. Se é Diego Frazier que você quer, é Diego Frazier que você vai ter.
– Como assim? – questionei confusa.
– Só...deixa comigo e confia em mim.