DESEJO

Titulo do capítulo: Capítulo 3

Autor: Mille Meiffield



Cap 3

 

 

                                                                                                                DIEGO

 

                Ela parecia tão doce, frágil e delicada dormindo daquele jeito.  Ao contrário de mim e de minhas cicatrizes internas. Como eu a desejo, mais até do que a minha própria vida. Eu queria muito poder tocá-la, beijá-la, mas ela estava apagada e eu não sou um babaca como muitas pessoas pensam. Realmente quero que pensem que sou um ser asqueroso e se mantenham distantes. Quem devia me amar, nunca me amou. A maioria das pessoas que ficavam ao meu redor, era por causa do dinheiro que eu tinha. Podia contar nos dedos quem realmente se importava comigo. Leslie e Naomi só transavam comigo para ganhar presentes. Se vendiam por pulseiras, colares, bolsas e roupas da moda. Elena não. Ela era única e especial. Eu estava perdidamente apaixonado por ela. Olhar seu sono me relaxou tanto que acabei dormindo.

                Aos primeiros raios do dia, acordei e vi que Elena ainda dormia profundamente. Me levantei e fui até a cozinha. Pedi à cozinheira que preparasse um café da manhã reforçado.

                           Voltei ao quarto com a bandeja de café e Elena não estava na cama, olhei ao redor do quarto e a vi sentada no chão do banheiro encolhida e chorando. Coloquei a bandeja na mesa e fui até ela.

                – Meu amor, Elena, por que está chorando? – perguntei preocupado.

                – Não era para ter sido assim. – ela disse e chorou mais ainda.

                – O que não era para ter sido assim? – indaguei.

                – Eu nem lembro de nada. – Ela disse e eu entendi o que ela queria dizer. Ela achava que nós havíamos transado.

                Me sentei a seu lado no chão do banheiro e a puxei para meu colo. Esperei que ela se acalmasse e pudesse entender que nada havia acontecido. Acariciei seus cabelos macios e cheirosos até a sentir respirar fundo. Quando finalmente ela se acalmou, a peguei no colo e levei para a minha cama. Coloquei a bandeja de café da manhã na sua frente e ela ficou me observando com um misto de curiosidade e timidez.

                – Elena, por mais que eu queira muito ter você para mim, eu não sou um cretino filho da mãe que se aproveita de mulheres bêbadas. – disse enquanto ela molhava uma torrada no chocolate quente e colocava em sua boca de uma forma extremamente sexy. – Eu só toquei em você para te ajudar a tomar banho e a se vestir. Não a desrespeitei. Jamais poderia me olhar novamente no espelho se tivesse feito isso.

                Ela não falou nada. Engoliu o pedaço de torrada que estava em sua boca, bebeu um pouco do chocolate quente e sem tirar os olhos de mim, pegou a bandeja que estava entre nós e a colocou de volta na mesa. Eu a observava curioso. Elena voltou para a cama, sentou-se bem próxima a mim e por uma iniciativa de sua parte, me beijou. Seu beijo não era urgente. Era calmo, profundo, intenso. Quando se afastou ela fitou meus olhos por um tempo e sorriu.

                – Obrigada. – Agradeceu. – Você não faz ideia de como eu me senti quando achei que tínhamos.... – Ela não sabia que palavra usar.

                – Transado? – indaguei a encorajando a continuar falando. Sua voz era como a voz dos anjos em meus ouvidos. Ela era mais linda que um anjo.

                – Eu ia falar “feito amor”, mas acho que é um jeito de colocar a situação. – Ela sorriu e abaixou a cabeça ficando envergonhada.

                – Elena, eu sumi por dois meses, porque eu sabia que não conseguiria ficar longe de você. – Eu precisava contar tudo o que eu pudesse a ela. Seu olhar prendia o meu e para conseguir me concentrar e dizer tudo o que precisava, tentei me distrair enquanto prendia atrás de sua orelha, uma mecha de cabelo que teimava em cobrir seu rosto delicado. – Eu jamais tocaria em você sem estar sóbria. Em hipótese alguma faria alguma coisa para que se sentisse mal. Eu te amo, Elena. Ah, como eu te amo.

                 Elena segurou minha mão que estava próxima a ela e a levou a seus lábios, desferindo beijos cálidos nos nós dos meus dedos. Ela era tão delicada, tão inocente. Tudo o que eu mais queria é que ela fosse minha.

                Afastando seus lábios do dorso da minha mão, Elena acariciou meu rosto, fazendo me sentir um menininho de 8 anos que espera ansioso pela atenção dos pais. Aquele pequeno gesto de carinho aqueceu mais ainda meu coração. Me aproximei ainda mais dela, acabando com o pouco espaço vazio que havia entre nós. Segurei seu rosto com ambas as mãos e olhando profundamente em seus olhos, a beijei.

                O beijo se intensificava automaticamente, como se nossos corpos de repente ganhassem vida própria e quisessem se tornar um só. Elena se deitou me puxando sobre ela. Suas mãos percorriam desajeitadamente por minhas costas e subiam até minha nuca. Eu estava perdidamente apaixonado por essa doce mulher com alma de menina. Minha ereção roçava sua intimidade por cima de nossas roupas, a fazendo soltar um gemido tímido.

                Me afastei rapidamente dela a deixando confusa de imediato. Seu rosto estava vermelho de vergonha e vi o brilho de seus olhos sumir, dando lugar a um olhar de tristeza que fez meu coração se partir em mil pedaços.

                – Não podemos, meu amor. – Eu disse da forma mais carinhosa que pude. – É a sua primeira vez e eu quero que seja especial e inesquecível.

                – Mas eu quero você. – Ela disse, fazendo beicinho.

                A cobri com um lençol, me deitei a seu lado a virando para que ficássemos abraçados enquanto acariciava seus cabelos. Sentir sua cabeça deitada em meu peito era reconfortante. Elena estava muito quieta, então também não falei nada. Só a deixei assimilar tudo e se sentir confortável para falar e fazer o que quisesse. Depois de algum tempo ela se mexeu um pouco e falou:

                – Diego, estou com fome.

                – Depois de tudo o que aconteceu ou não aconteceu, você abre a boca apenas para falar que está com fome? – indaguei em meio a risos. Elena por sua vez voltou a ficar quieta e isso me incomodou. Alguma coisa estava errada. – Elena, por que está tão quieta?

                – Eu não queria ser uma vadia, e olha eu aqui na cama, com você.

                Eu a virei de frente para mim e olhando seriamente em seus olhos, disse: – Elena, ei... quem foi o maldito que te disse isso? – Pude ver pavor em seus olhos e aquilo me deixou colérico. – Quem disse que você é uma vadia? – Questionei furioso. Como alguém poderia falar algo tão horrível para a pessoa mais doce do mundo.

                – Minha mãe. – Uma lágrima escorreu de seus olhos. – Ela sempre dizia que eu era uma vadia quando eu chegava atrasada da escola ou dos trabalhos de verão e de meio período que eu fazia.

                – Meu amor, nós não fizemos nada de errado. – Disse olhando seriamente em seus olhos – E mesmo que tivéssemos transado...

                – Ou “feito amor” – Ela me interrompeu.

                – Ou “feito amor” – Repeti sorrido para ela. – Não seria errado. Primeiro porque eu te amo e ter você em minha vida é o que eu mais quero, segundo que ter relação com alguém não a torna uma vadia. Você é perfeita, Elena. Não admito que se sinta menos que perfeita.

                – Eu lembro de você ontem, na boate, com a Leslie. – Ela disse com o olhar triste e tentando mudar de assunto.

                – Leslie sempre foi apenas um passatempo para mim, assim como eu sempre fui para ela. – Eu disse. – Ela nunca quis compromisso e eu também não. Ao menos não com ela.

                – O que você quer comigo, Diego? – Perguntou tão rápido que se eu não estivesse totalmente focado nela, não teria entendido.

                – Quero você, quero seus beijos, quero conquistar o seu coração.

                Senti Elena segurando suas lágrimas e ao mesmo tempo ouvi um ronco alto vindo de seu estômago. Não esperei ela falar nada e me levantei a puxando comigo.

                – Vamos descer, você está com fome e já está na hora do almoço.

                Ela assentiu e saímos do quarto, abandonando o resto do café da manhã que seguia em cima da mesa quase intocado.

                À mesa, Elena se sentou a meu lado e comeu devagar. Fique observado cada um de seus movimentos e até o jeito que ela bebia água era sexy para cacete. Não podia deixar meu lado ogro me dominar, não com ela. Quando acabamos de comer e a empregada veio retirar os pratos e trazer a sobremesa, vi seus olhos faiscarem e um brilho de surpresa se prendeu ali.

                – Pudim? – indagou feliz. – Como sabe que eu amo pudim?

                – Eu sei tudo sobre você, amor. – Respondi. – Bem, quase tudo. Conversamos muito hoje e acho que nos entendemos.

                – Acho que sim. – Ela respondeu tímida.

                – Preciso te fazer uma pergunta. Esperei muito por isso, mas quero que seja sincera em sua resposta.

                – Prometo que serei sincera. – Ela disse com um pequeno sorriso em seus lábios.

 

ELENA

               

                Diego se levantou e foi até o escritório. Não demorou muito, ele voltou com algo em sua mão. Chegando perto de mim, ele se ajoelhou e abriu a pequena caixinha, revelando um lindo anel em ouro branco com uma zircônia rosa em formato de coração.

                – Aceita ser minha namorada, Elena? – Perguntou me fazendo rir em meio às lágrimas instantaneamente. 

                Eu não conseguia parar de sorrir. Esse bad boy de cara amarrada era sem dúvidas o homem mais fofo e gentil que eu já havia conhecido. A forma como ele me tratou assim que nos conhecemos, roubando beijos e me deixando sem fôlego, me irritava, mas tinha algo mais. O jeito que apareceu na boate e cuidou de mim até agora, nunca ninguém havia se importado tanto comigo como Diego. Eu também o amava, não conseguia tirar aqueles beijos da minha cabeça. Ele estava ansioso esperando uma resposta enquanto eu apenas o fitava sem conseguir falar. Finalmente, disse o que ele queria ouvir.

                – Sim, mil vezes sim. – Respondi com entusiasmo e o beijei intensamente. – Eu também te amo, Diego. Tentei negar esse sentimento milhares de vezes, mas não tenho mais forças para ficar longe de você.

                Passamos toda a tarde trancados em seu quarto. Diego sempre um perfeito cavalheiro. Carinhoso e atencioso comigo. Quando anoiteceu, eu disse que tinha que voltar ao dormitório, que precisava conversar com Gia, senão ela ia surtar. Eu havia desaparecido sem dar explicações, só Marcos sabia com quem eu estava.

                Chegamos ao dormitório e Diego subiu comigo até meu quarto. Ao entrar me deparei com Gia, Dylan e Marcos, os três estavam conversando e pararam assim que eu entrei.

                – Elena, onde você estava? – Indagou Gia furiosa.

                – Estava com Diego.

                – Você faz ideia de que só estávamos esperando completar vinte e quatro horas para declarar você como desaparecida?

                – O Marcos sabia que eu estava com o Diego.

                – Em minha defesa, eu pensei que ele a tivesse trazido para o dormitório.  – Marcos estava visivelmente irritado. – Não imaginei que fosse se aproveitar de uma mulher bêbada, Diego.

                – Do que você está falando? – Diego indagou furioso. – Você me conhece desde que éramos crianças, acha mesmo que eu ia me aproveitar da Elena?

                – Só estou constatando os fatos. Vocês chegaram juntos e à essa hora.

                – O que aconteceu ou deixou de acontecer entre nós dois, só diz respeito a ela e a mim.

                – Elena não está acostumada a beber e você a levou para a sua casa, mesmo sabendo que ela era virgem. – Gritou Marcos.

                – Você não é nada dela, Marcos. – Gritou Diego. – Ela não é sua responsabilidade.

                – E por um acaso ela é sua responsabilidade? – Indagou

                – Mais do que você imagina.

               

                Eu não entendia o porquê de toda aquela discussão. Gia percebeu que eu estava chorando e veio até mim, segurando meu braço tentando me tirar do quarto e deixar que os dois se resolvessem sozinhos. Dylan foi buscar alguma coisa que Gia havia pedido e enquanto estávamos no corredor, a discussão dentro do quarto ficava cada vez mais intensa.

                – Você é um cretino miserável. – Marcos não parava de gritar com Diego. – Eu esperava qualquer coisa de você, sempre fomos amigos, mas não tenho como aceitar que se aproveite de uma pessoa tão doce e inocente. – Ele deu um soco em Diego. Eles trocavam socos e xingamentos, mas Diego era mais forte e logo ele estava atacando Marcos. Na hora em que ele pegou seu amigo pela gola da camisa e armou um soco que provavelmente quebraria seu nariz, eu corri de volta para dentro e segurei seu braço.

                – Por favor, não faça isso. Ele é seu amigo – A nuvem negra que cobria seus olhos se dissipou imediatamente. – Marcos não sabe de nada.

                – Me perdoa, eu não queria que visse isso.

                – Está tudo bem. – Sorri para ele. Virei para Marcos que estava no chão – Diego não me desrespeitou, Marcos. Agradeço por se preocupar comigo como sempre, mas eu não tenho o que reclamar do modo como ele me tratou. Seu amigo foi um perfeito cavalheiro comigo.

                – Está me dizendo que ele não tocou em você? – Perguntou se levantando.

                – Ele não só não me tocou, como cuidou de mim.

                – Se eu soubesse que você me vê como um monstro, eu nem te chamava mais de amigo. – Disse Diego.

                – Meu amor, vocês se conhecem a tanto tempo. – Eu disse a ele. – Uma amizade assim não acaba por causa de um mal-entendido.

                – Você o chamou de meu amor? – indagou Marcos incrédulo.

                – Eu a pedi em namoro e ela aceitou. – respondeu Diego.

                – E depois diz que não se aproveitou dela.

                – Marcos! – Agora foi a minha vez de gritar com ele. – Como Diego disse isso só diz respeito a mim e a ele. Mas já que está tão curioso, não aconteceu nada.

                – Eu vou embora. – Disse Marcos extremamente irritado. – Até qualquer dia, Gia. Vou dar um tempo de aparecer por aqui. – falou enquanto saía do quarto batendo a porta com força. Não demorou muito, Dylan voltou trazendo uma sacola com alguma coisa que Gia o havia pedido.

                – Elena, pedi que Dylan comparasse um calmante para você, esse aqui é natural, não quero que tenha pesadelos.

                – Obrigada, Gia. – Abracei Diego e o beijei. – Acho que você deveria ir para casa descansar.

                – Não quer ir comigo? – ele perguntou enquanto me puxava para si.

                – Diego, vamos com calma, por favor. – Eu disse olhando em seus olhos.

                – Por mim eu não te soltava mais, mas te entendo. – disse e me deu um leve beijo. – Te vejo amanhã na aula, meu amor.

                – Até amanhã, amor.

 

Me despedi de Diego, ele e Dylan foram embora e eu sabia que não dormiria tão cedo respondendo as mil e uma perguntas que já sabia que Gia me faria.   

 

                – Acho que vou tomar um banho e dormir. – Eu disse. – Estou me sentindo muito mal com toda essa confusão. Não entendi qual a intenção do Marcos com isso tudo.

                – Sem essa, Elena. – disse Gia. – Quero saber cada detalhe dessa sua noite com Diego Frazier. E vai me dizer que ainda não percebeu que o Marcos é apaixonado por você?

                – Não tem nada para contar, Gia. E não, nunca percebi nada vindo do Marcos, sempre o considerei um amigo e só.

                – Só você não percebeu que ele está caidinho por você. Parece até um cachorrinho. – Eu não podia acreditar no que Gia falava. Jamais vi Marcos como um possível namorado, sempre como um bom amigo.

                – Eu não sinto nada por ele. – Disse sinceramente. – Nada além de amizade.

                – Então vamos mudar de assunto, se você acha que eu esqueci a história do Diego está enganada. Pode falando tudinho.

                – Gia, é sério, não aconteceu nada. – disse novamente. – Diego me enfiou debaixo do chuveiro, me deu uma cueca e uma camisa larga para vestir quando terminei de me secar e me colocou na cama.

                – Nem um amasso mais picante? – insistiu Gia.

                – Não. Como eu disse ao Marcos, Diego foi um perfeito cavalheiro.

                – Esse homem que você está falando deve ser outro e não o Diego Frazier que eu conheço. O Diego que eu conheço teria devorado você na primeira oportunidade. – disse Gia rindo descontroladamente. Ela estava feliz com toda essa história. Só essa minha amiga maluquinha para me fazer sorrir depois da briga dos meninos.

                Me levantei da cama, fui até uma das gavetas da cômoda, peguei uma roupa e antes de entrar no banheiro, parei na porta e disse à Gia:

                – Eu confiaria minha vida ao Diego.

                Entrei no banho e fiquei lá por um bom tempo, deixei que a água quente escorresse pelo meu corpo até sentir todo o peso que estava sentindo ir embora. Quando voltei ao quarto, Gia já estava dormindo. Fui até minha cama em silêncio, me deitei e dormi rapidamente. A última coisa da qual me lembro antes de pegar no sono, é do doce sorriso de Diego. Um sorriso que me iluminava e me aquecia.

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