ESCRITO NAS ESTRELAS

Titulo do capítulo: Dê-me a sua mão...

Autor: Pauliny Nunes

Os últimos raios de sol desapareceram no horizonte, sendo ovacionados por um grupo animado de quatro surfistas que assistiam sentados na areia da praia com suas pranchas ao último pôr-do-sol do verão compartilhado entre eles:


— É isso aí, galera, esse foi o melhor encerramento do resto da minha vida. — disse um deles emocionado enquanto observava seus outros amigos.

— Calma lá, Gabriel. — pediu um deles rindo do drama de seu amigo. Ele se levantou ajeitando insistentemente o short por cima de sua barriga saliente, sem sucesso. — Ainda tem esse ano, parceiro. Tem a formatura...

— Tem a Nilton's Bike. Aliás, eu só quero saber o que vai acontecer daquele seu e-mail que você enviou para a noiva que tomou um pé na bunda do cara há poucas horas do altar... Você foi bem atrevido na resposta, então trate de estar na loja quando essa bomba estourar. — Falou o amigo de cabelos ondulados castanhos, sério.

— Pois é. — concordou o outro amigo de dread se levantando ao mesmo tempo em que limpava o calção. — Hoje foi só o começo do fim.

— Eu sei, eu sei. — afirmou Gabriel também se levantando. — Porém, admitam, esse momento nunca mais vai se repetir... Cada um vai seguir seu rumo. O Lucas... — apontou para o amigo que ainda lutava contra sua barriga. — já está com a vaga garantida no Canadá. O Jonathan... — apontou para o de dread. — daqui a uns meses pretende casar-se...

— Cara, você é muito dramático! — resmungou o quarto, que ainda encarava o horizonte alaranjado. Ele se levantou em um pulo e pegou sua prancha. — Vamos viver o agora, tá bom? Esse drama você pode deixar para o discurso de encerramento da turma.

— E você, Bruno? — continuou Gabriel apontando para o amigo — Você vai... você vai… sei lá, o que é que você quer?

— Pegar gatinhas. — respondeu enquanto caminhava.

— É sério! — insistiu Gabriel praticamente correndo ao lado do amigo.

— Gabriel... — começou Bruno abraçando o amigo ao mesmo tempo. — a única coisa que tenho na minha mente agora é que tem várias gatinhas andando pela orla em busca de companhia para admirar as estrelas... E eu sou essa companhia.

— Eu sei, Bruno. Porém, o que você quer no futuro? — perguntou Gabriel, curioso. — Tipo, todos nós sabemos o que queremos para depois da faculdade, mas você... você nunca tocou no assunto.

— Isso é verdade. — concordou Lucas sendo acompanhado por Jonathan, que encaravam Bruno.

Os rapazes caminharam em silêncio até chegar ao calçadão, onde se lavaram na ducha. Assim que Bruno finalizou seu banho, se deparou com os amigos que ainda esperavam uma resposta.

— Pessoal, vocês precisam relaxar com esse lance de futuro... Até porque ninguém sabe o que nos reserva lá na frente... — começou vestindo sua regata. Ele sorriu enquanto passava pedalando uma menina de cabelos castanhos distraída escutando música. — Por exemplo, eu posso me casar com essa menina daqui a uns meses... ou ficar rico daqui a quatro anos, ou morrer aos 30... Ou até mesmo amanhã... Ninguém pode dizer como será o nosso futuro.

— Eu posso! — afirmou uma voz feminina atrás deles.

Os quatro se viraram assustados, encontrando uma mulher de longos cabelos pretos, um lenço vermelho de moedas cobrindo toda a cabeça. Seu corpo era quase todo enfeitado por joias que tampavam a blusa vermelha que combinava com sua longa saia cheia de camadas do mesmo tom. Em suas orelhas, grandes argolas. Seus olhos pareciam duas grandes jabuticabas que encaravam Bruno sem piscar.

— Eu posso dizer a vocês como será o futuro. — afirmou a mulher que sorriu mostrando seus dentes de ouro. — Permitam-me mostrar o futuro de vocês, por apenas quinze reais… cada um.

— Obrigado. — agradeceu Bruno, cético. — Mas nós não acreditamos nessas coisas.

— Nós? — questionou a mulher encarando o rapaz. — Até mesmo você?

— Eu sou o que menos acredita! — reforçou Bruno rindo.

— Então não vai se importar de eu ler sua mão. — afirmou a mulher erguendo a mão em direção ao jovem.

— Realmente não estou interessado. — respondeu Bruno revirando os olhos para os amigos que riam.

— Será que tem medo? — provocou a cigana.

— Do que eu teria medo? — questionou Bruno se virando.

— Do seu futuro. — respondeu a morena.

— Você quis dizer medo de amontoado de palavras genéricas que levam a frases genéricas, sobre fatos que podem acontecer com qualquer um a respeito de uma coisa óbvia... — retrucou Bruno.

— Coloque sua mão sobre a minha e veremos…

— Não, muito obrigado. Talvez você consiga algo com eles. — rebateu Bruno.

— Bom, por mim tudo bem. — falou Jonathan enquanto estendia a mão em direção da cigana, que agarrou firmemente. — Ei…

— Jonathan… — começou a cigana analisando a mão do rapaz — Você tem dois caminhos em sua vida… um caminho que se iniciará em breve, mas se encerrará tão rápido quanto começou… um outro caminho mais longo… duradouro. Bom, é isso, quinze reais, senhor. — finalizou recebendo os quinze reais do rapaz.

— E o meu futuro? — perguntou Lucas estendendo a mão para a cigana.

— Lucas… encontrará no frio o calor necessário para aquecer o seu coração. — profetizou a cigana antes de soltar a mão de Lucas, que a encarava, surpreso. Ele praticamente arrancou as notas do bolso e entregou à mulher.

— E quanto a mim? — perguntou Gabriel, nervoso. — Por favor, seja boazinha.

— Gabriel… Hmmm… vejo seu destino se entrelaçar com o de outras pessoas após uma tragédia… Tenha sabedoria para lidar quando o momento chegar.

— Obrigado, muito obrigado. — agradeceu Gabriel também pagando o valor para a cigana.

— E quanto a você, meu rapaz? — questionou a cigana encarando Bruno.

— Olha só, eu realmente não estou a fim e nem tenho grana. — respondeu Bruno se virando.

— Para você eu faço questão de não cobrar nada. — insistiu a vidente.

— Vai, Bruno! — pediu Gabriel, curioso.

— É, cara, acaba logo com isso! — falou Jonathan.

— É, brother. Faz logo a parada pra irmos pegar as gatinhas! — incentivou Lucas.

— Tá bom... — aceitou Bruno erguendo sua mão em direção à cigana.

A vidente segurou a mão do rapaz com força enquanto percorria as linhas da palma com todo cuidado...

— Hmmm… interessante... — comentou admirando.

— E começou a sessão do óbvio... — resmungou Bruno.

— Você se casará...

— Viram? Óbvio! — debochou Bruno tirando risadas dos amigos.

— Jovem... — completou a cigana apertando uma das linhas com a unha — terá filhos... — ela vasculhou as outras linhas — morrerá mais jovem do que seu pai... Porém, antes se tornará um homem muito rico! — finalizou a cigana sendo observada pelos rapazes que estavam em silêncio.    

Até que Bruno riu encarando a vidente com ar de desprezo:

— Você tem certeza de que isso tudo estava na minha mão? — questionou Bruno olhando para sua mão.

— Sim, tenho certeza absoluta. — respondeu a cigana.

— Okay, agora quero os números do jogo. — debochou Bruno.

— Você pode não acreditar no que digo... — continuou a mulher. — porém, o destino nunca se engana.

— Tudo bem... — respondeu Bruno balançando a cabeça. — o problema é que o “destino” não me disse quando é que ficarei rico, nem quando eu vou morrer. Quero dizer, vou morrer mais cedo que o meu pai... Mas se o meu pai viver até os 100 anos... Tipo, é óbvio que eu vou morrer antes.

— Ah, entendi... Você quer números mais precisos... — compreendeu a cigana. — Tudo bem. Dê-me a sua mão...

— Não mesmo! — recusou Bruno. — Você já ficou com ela tempo demais e aposto que já até decorou as minhas linhas. Aliás, se é tão boa assim, teria adivinhado sem olhar...

— Você está certo, Bruno. — afirmou a mulher, séria. Ela encarou o rapaz, dizendo — Você se casará até os 24 anos, terá quatro filhos. Ficará rico, mas não fazendo o que ama e muito menos através de jogos de azar. Seu pai falecerá aos 60 anos e você morrerá dois anos mais jovem do que ele. E então, melhorou?

Bruno a encarou sério, seu pai já tinha cinquenta anos e aquela mulher tinha a ousadia de dizer que só tinha mais dez anos de vida?

— Sim... — sussurrou o rapaz. Ele pigarreou e então continuou. — Posso te fazer uma pergunta?

— Evite morenas. — respondeu a cigana como se estivesse dentro da mente do rapaz. — O seu destino está atrelado a uma jovem de cabelos castanhos... Sua maior alegria e seu fim. — finalizou se afastando dos rapazes.

— Tá legal. Só loiras. — debochou o rapaz, sem dar bola para a profecia.

— Ainda bem que você não acredita nessas coisas. — falou Lucas.

— É como dizem: o futuro a Deus pertence. — afirmou Bruno.

— É, mas só por garantia… Eu nunca mais olharia para nenhuma morena. — comentou Jonathan.

— Por mim, está tranquilo, pois sempre gostei mais de loiras. — brincou Bruno com os amigos. — Nenhuma morena jamais vai entrar no meu coração.

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