
ESCRITO NAS ESTRELAS
Titulo do capítulo: Golpe do Destino
Autor: Pauliny Nunes
Helena se aproximou dos rapazes parados na calçada, bem no lugar que ela havia reservado para o aluguel de bicicleta e turismo sobre duas rodas. Estava distraída quando observou um dos rapazes se virar em sua direção e, qual não foi sua surpresa ao se deparar com o rosto de Bruno. A loira sentiu sua face arder, tendo certeza de que naquele momento seu rosto havia se transformado em um pimentão. “Controle-se, Helena”, pensou enquanto chegava mais perto deles. A situação só piorou quando Bruno sorriu em sua direção, dizendo:
— Oi, namorada.
— Namorada? — questionou Lucas, sem entender nada.
— Olá, Bruno. — respondeu Helena, sem graça, ajeitando seu cabelo atrás da orelha, disfarçando sua timidez. — Tudo bem?
— Namorada? — reforçou Lucas, encarando o amigo.
— Estou bem e você? Como está depois do seu aniversário de...
— Namorada? — repetiu Lucas, sendo ignorado.
— Vinte e dois anos. — completou Helena.
— Eu também fiz... faço... quer dizer, eu também tenho vinte e dois anos. — gaguejou Bruno.
— Legal... — soltou Helena, sem jeito.
— Legal... — repetiu Bruno, encarando-a.
— Então, Bruno, você não vai apresentar a sua nova namorada? — perguntou Lucas, chamando a atenção dos dois.
— Que grosseria da minha parte. Lucas, essa é a Helena. Ontem ela foi minha namorada por cinco minutos durante seu aniversário. Helena, esse é o Lucas, um dos meus melhores amigos e que trabalha aqui comigo na loja.
— Prazer. — falou Helena, sorrindo em direção a Lucas.
— Prazer é todo meu. — respondeu Lucas antes de desferir dois beijos em cada bochecha da jovem, que se surpreendeu. — Costume local.
— Okay... — soltou Helena, sem graça. Ela se virou em direção a Bruno e continuou: — Que coincidência você trabalhar aqui. Eu tenho uma reserva aqui…
— Ótimo, me acompanhe. — disse Bruno, dando passagem para Helena, que entrou na loja. Ele já ia segui-la quando Lucas segurou seu braço.
— O que foi?
— Esqueceu da promessa que fez?
— Não, não esqueci.
— Parece que esqueceu, ainda mais da forma como está olhando para essa garota. Vai quebrar a promessa?
— Bom, na verdade eu a conheci ontem. — explicou Bruno com um sorriso malicioso. — Então, tecnicamente, não conta.
— Sei... muito esperto você. — disse Lucas, estreitando os olhos para o amigo.
— Ei, eu não ia imaginar que ela viria hoje... Digamos que foi apenas um golpe do destino.
— Golpe do destino? Você é foda!
— Relaxa, Lucas. Ontem ela conheceu a Suzana, provavelmente não está nem um pouco interessada em mim. — finalizou Bruno antes de entrar na loja.
Ele se aproximou do balcão acompanhado de Lucas e ficou observando Helena, que agora conversava com Jonathan. Era incrível o magnetismo que Helena tinha sobre ele, ainda mais quando sorria, mesmo não sendo em sua direção.
— Localizei seu pacote. — falou Jonathan, trazendo Bruno de volta à realidade. — Pacote de quatro dias, aluguel de duas bicicletas. Está esperando alguém chegar, ou deseja que eu libere apenas uma bicicleta, Senhora Albuquerque?
A fala de Jonathan desestabilizou Bruno: Helena era casada? Como assim? Ela não tinha jeito de ser casada, nem ao menos aliança, ou será que ele não reparou? Em todo caso, ele se esforçou para enxergar a mão esquerda da jovem, que estava completamente vermelha.
— Não sou senhora Albuquerque. — corrigiu Helena, nervosa, encarando Bruno sem entender o motivo de ter feito isso. — Quer dizer, era para eu ser a Senhora Albuquerque nesse momento, mas… Ahmmm... não sou. — continuou Helena, mostrando a mão esquerda sem aliança. — Enfim, teria como eu trocar esse pacote que fiz para uma lua de mel que não
aconteceu?
— Claro. — disse Bruno, aliviado. — Jonathan, veja um pacote melhor para ela... para compensar.
— Olha, podemos oferecer um pacote com guia turístico e aí acrescentamos uma diferença…
— Sei, mas aí eu vou pagar mais? É isso? — perguntou Helena, séria. Já não bastava a humilhação de estar ali sozinha, ainda teria que pagar a mais por isso.
— Não, na verdade Jonathan pode conceder o serviço de guia grátis. Eu mesmo prestarei o serviço para você. — finalizou Bruno, encarando Helena.
— Tá bom. — falou Jonathan, nem um pouco surpreso.
Oferecer desconto era a forma de Bruno dizer que estava interessado na cliente, então o fato de ele ter deixado de cobrar só podia significar que ele estava muito interessado na jovem.
— Obrigada. — agradeceu Helena, nervosa diante do sorriso de Bruno.
— Disponha. — respondeu Bruno, admirando Helena. Ele se apoiou no balcão e continuou: — Você gostaria de começar o passeio em qual horário?
— Agora, se possível. — falou Helena, oferecendo seu melhor sorriso em seguida.
— Ótimo, gosto desse entusiasmo! — elogiou Bruno, se virando para Jonathan. — Deixe minha agenda de hoje fechada para ela, sim?
— Está bem... Don Juan. — respondeu Jonathan para o amigo.
— Então, vamos escolher sua bicicleta? — propôs Bruno.
— Claro. — respondeu Helena, acompanhando Bruno.
***
Depois de escolherem as bicicletas ideais, Bruno deu uma aula para Helena com orientações para pedalar em segurança por Paraty. Mesmo as ruas sendo planas em geral, as ladeiras íngremes exigiam atenção. Bruno ajeitava os cadeados nas bikes enquanto Helena ajustava seu capacete na cabeça. Quando o rapaz se aproximou e começou a ajudá-la, tocando em seu rosto, ela prendeu a respiração.
Helena buscava entender o motivo pelo qual um toque de Bruno a fazia arrepiar dos pés à cabeça. A situação se agravava ao notar que ele sempre deixava um sorriso bobo nos lábios. Bruno apertava o fecho do capacete embaixo do queixo de Helena, que se controlava para não morder seus lábios na frente dele enquanto repetia o mantra “ele tem namorada” em sua mente.
— Agora sim, está pronta. — comentou Bruno encarando Helena. Ele se afastou e então montou em sua bicicleta. — Preparada para o melhor passeio da sua vida?
— Sem dúvida. — respondeu Helena, acomodando-se em sua bicicleta.
Os dois saíram pedalando em direção ao tour preparado por Bruno. Em poucos minutos, pegaram a estrada de asfalto, ganhando velocidade com toda a segurança e orientação necessária. Bruno acompanhava Helena a todo momento, sinalizando por onde iriam e a hora de parar. Desceram por trilhas, caminhos de terra e com pedras, do jeito que Helena imaginava. Pegaram uma curta e estreita rua pavimentada que dava acesso a uma pequena capela, marcando também o início de outra trilha curta. Pedalaram mais cinquenta metros até chegarem a uma praia.
— A primeira parada é a Praia do Corumbê. — avisou Bruno, parando sua bicicleta e sendo acompanhado por Helena, que observava a paisagem, admirada. — Essa parada permite um banho e observar toda essa paisagem sem pressa.
Helena desceu da bicicleta, prendendo-a em uma das árvores junto com seu capacete, e caminhou em direção à praia. A praia era linda, com águas calmas. Na entrada havia um bar aconchegante e uma piscina formada pela água represada de uma cachoeira próxima. Helena colocou os pés na areia, observando o mar e os barquinhos ancorados, agradecida pela vista privilegiada.
Bruno vinha logo atrás, contemplando a forma como Helena caminhava pela areia e depois corria em direção ao mar, jogando a água salgada para cima, como uma criança vendo o mar pela primeira vez. Os cabelos da jovem voavam ao ritmo do vento. Ela se sentou, sem deixar de olhar em direção ao mar. O rapaz se aproximou e sentou-se ao lado de Helena, que o encarou com um enorme sorriso.
— O que foi? — perguntou ela ao notar que ele analisava cada canto do seu rosto, deixando-a tímida.
— Nada... — sussurrou Bruno, pigarreando para consertar a voz. — Quer dizer, há muito tempo que não vejo alguém ter uma reação igual a sua.
— Fiz mal em agir assim? Foi ruim?
— Não, imagina. Foi... bonito de se observar. — respondeu Bruno, sendo sincero, algo raro para ele, que geralmente preferia esconder sua opinião para conquistar suas clientes. Ele então aproximou sua mão do rosto da jovem, que o encarou assustada, e tirou os fios loiros que estavam próximos dos lábios rosados de Helena, conduzindo-os em direção à orelha. — Quem é você, Helena?
— Como assim? Quem sou eu? — perguntou Helena, sem graça.
— Bom, eu sei que você quase se casou, mas não sei o motivo de não ter se concretizado. — explicou Bruno.
— Você pergunta da vida de todas as suas clientes? — questionou Helena rapidamente. — O que sua namorada pensa?
— Ex-namorada. Ou melhor, nem chegamos a esse ponto. — corrigiu Bruno, recebendo um olhar surpreso de Helena. — E só pergunto daquelas que acho interessante saber.
— Eu não sou interessante assim.
— Eu discordo, Helena quase Albuquerque.
— É complicado… — falou Helena. — E demorado…
— Temos bastante tempo, aliás, coloquei meus serviços gratuitos para você. — argumentou Bruno. Ele tocou o ombro de Helena com o seu e continuou: — Vamos lá, namorada, me conte o que o número um fez?
— Por que acha que foi ele quem me deixou? — questionou Helena.
— Por quê? Foi você quem largou? Uau, então realmente preciso saber o que aconteceu. — falou Bruno, sorrindo.
— Está bem. Eu conto para você, se... — começou Helena, estreitando os olhos para Bruno. — Eu ganhar de brinde a semana toda de aluguel da bicicleta e do guia.
— Hummm... você é difícil, hein?
— Sou, já que você está tão interessado na minha história... é assim que vai ser — decidiu Helena, encolhendo os ombros. — Pegar ou largar.
— Okay, uma semana de serviços da Nilton's Bike. — aceitou Bruno, estendendo a mão em direção a Helena, que apertou. — Pode começar, mocinha. Porém, quero saber tudo.
Helena suspirou e olhou para o mar por alguns segundos, recolhendo coragem para começar a contar sua história.
— Tudo bem. Eu vou te contar tudo. — disse ela, olhando para Bruno, que a observava atentamente. — Meu noivo... ex-noivo, na verdade... se chamava Leandro. Nós estávamos juntos há um bom tempo e, bem, ele parecia ser o homem perfeito. Era carinhoso, atencioso e todos achavam que éramos o casal ideal.
— Mas? — incentivou Bruno, percebendo que havia um “mas” na história.
A fala de Bruno fez com que Helena fechasse os olhos, permitindo-se voltar ao momento que a levou até ali.