INFIEL. Um CEO na Minha Vida

Titulo do capítulo: Cap 02.

Autor: Tatiane B Simões

Dou uma última olhada no espelho e me apresso para ir aonde mais gosto de ir. Amo o meu trabalho. Lá as coisas são leves e as pessoas são alegres. Sair dessa casa é o momento mais gostoso do meu dia.

— Força, garota, você consegue!

Coloco um sorriso, nada sincero, no rosto e desço os inúmeros degraus da escada dessa casa e vou em direção à sala de jantar, para tomar café. Na mesa estão Gerson, Cecília e Taylor. Todos param de comer quando me aproximo.

— Olha se não é a vadia da casa. — Cecília fala destilando seu veneno.

— Bom dia para você também. Logo cedo se rastejando? Poxa! Até as cobras não são tão peçonhentas assim? — Falo a encarando.

— Dá um jeito nessa vadia, Taylor!

— Chega dessa discussão! Estou indo trabalhar, filho. Depois passo no escritório. — Gerson fala sem tirar os olhos do celular e, graças a Deus, esse maldito sai, como sempre, fingindo ser um homem respeitado.

— Senta para comer. Já que está contaminando o ar com sua presença de vadia imunda. — Cecília fala rindo.

— É, talvez eu seja isso mesmo, pois só assim, explica por que o seu marido vive atrás de mim.

— Cala essa sua boca e senta para comer, Ive! — Taylor fala batendo na mesa.

— Bom dia, amado marido. Vejo que a sua noite foi bem longa, não é?

— Você não vale nada! Maldita hora que lhe comprei!

— Realmente, Taylor, fez um péssimo negócio. Comprou um lixo de mercadoria. Nem filhos foi capaz de ter. Só sabe gastar o seu dinheiro.

— Ah, mas já que você faz tanta questão que ele tenha um filho, por que você não faz isso com ele? Lhe garanto que você vai gostar. Assim não vai precisar sondar ele tomando banho. E sobre dinheiro, eu trabalho. Não sou como umas aí que vivem encostadas.

Respiro fundo, tentando manter meu autocontrole. Não vou deixar que eles vejam o quanto as ofensas deles me afetam. Pego uma rosquinha e coloco na boca. Me viro para sair, mas Cecília insiste em me encher.

— Já vai tarde, maldita!

— Tenham um bom dia vocês também! — Falo rindo.

Acelero meus passos. Quando estou saindo pela porta, meu pesadelo volta a me atormentar. Gerson está na minha frente, impedindo minha passagem. Tento sair de suas mãos, mas é inútil.

— Oi, gostosa. Já disse o quanto você fica uma delícia nesse terno? — Ele segura meu cabelo com brutalidade e beija meus lábios com força. Consigo morder sua boca nojenta, tirando sangue dela. — Desgraçada! — Ele murmura entre os dentes.

— Por favor, me dê licença. Preciso ir trabalhar. — Tento sair de sua frente, mas é inútil.

Com o polegar, ele limpa o sangue dos lábios e me prensa na parede com brutalidade.

— O que é isso, delícia? Isso é jeito de tratar seu sogro?

Estou encostada na parede. Tudo em mim dói. Meu corpo dói. Minha dignidade está no chão. Há dois anos e quatro meses, venho aguentando seus assédios. No começo, eu contava para Taylor, mas ele não acreditava. Então, recorri a Cecília, mas adivinha? Ela disse que me insinuei para ele. Fui à delegacia denunciar, mas falsificaram um exame e alegaram que eu tinha problemas com drogas e bebidas. Até me ofereci para fazer os exames para provar que tudo é mentira, mas ninguém acredita que o delegado faria algo assim.

O empurro, mas é em vão. Gerson tem o dobro do meu tamanho. Ele passa os dedos no contorno da minha boca, me fazendo tremer por inteira de medo. Quando ele tenta me beijar novamente, fico com raiva e cuspo em sua cara. Com força, ele aperta meu pescoço, mal consigo respirar. Levo minhas mãos para tentar escapar, mas não consigo. Ele desliza a outra mão para os meus seios. Tento me soltar de todo jeito, parece que as forças me abandonaram de vez.

— Um dia eu vou chupar o seu corpo todinho, e você vai ver que, todos esses anos me ignorando, fugindo de mim, foi a coisa mais estúpida que você fez. Você vai gostar, eu juro!

— Por favor, me solta... — Falo quase sem voz. Gerson ouve o carro que chamei se aproximando e me solta. Começo a tossir, tentando recuperar o ar. Antes dele me deixar passar, Gerson fala perto do meu ouvido e me dá um aviso, mais como uma ameaça.

— Essa mordida aqui, eu vou cobrar. Tá vendo esse sangue? Durma com os olhos abertos essa noite.

Empurro ele com o resto das minhas forças, entro correndo no táxi e olho pela janela. Ele está rindo. Meu coração está destruído. Fecho os olhos, respirando devagar, tentando acalmar meu coração, mas é inútil. Eu já não aguento mais.

Me olho no espelho do carro. Minha maquiagem está borrada pelo beijo forçado que ele me deu e pelas lágrimas que escorrem sem parar. Pelo caminho inteiro, fui me perguntando o que fiz de errado para merecer tudo isso. Por que minha vida inteira foi de provações? Será que é um teste para ver como anda minha fé? Se for, sinto em dizer que hoje ela já não é como antes. Sei que Deus não abandona um filho seu, eu realmente sei disso, mas estou tão cansada de tudo isso.

Depois de 30 minutos, consegui me acalmar e chegar no meu trabalho, agradeci ao taxista pelo lenço e por sempre ser discreto. Ele nunca me pergunta o que acontece, pois ele sabe. Em dois anos me levando para o trabalho, ele já notou o que eu sofro. Mas sei que não se arrisca a tentar fazer alguma coisa, nem posso julgá-lo, pois eu mesma já desisti de me ajudar.

Entro pelas portas da grande empresa e já vou revisar a agenda do dia. Olha que ironia, meu chefe tem uma reunião com o meu marido, havia me esquecido.

— Hoje vai ser um dia de merda...— Resmungo sozinha.

— Que é isso, amiga? Você está destruída! — Danielle entra sorrindo. Com ela, os dias sempre são alegres.

Dani tem um brilho nos olhos que é radiante. Nos tornamos mais que amigas, é como se fôssemos irmãs. Nossa conexão parece coisa de outro mundo. Em dois anos, ela ocupa um espaço no meu coração, e na minha vida, que nem minha irmã de verdade foi capaz de ocupar.

— Bom dia, minha loira. — Levanto e lhe dou um abraço.

— Bom dia, amiga. Por que está com essa carinha tão abatida?

— Minha vida é uma droga, mas isso você já sabe.

— Sinto muito, amiga. Mas pensa pelo lado bom, faltam 8 meses para você se divorciar e resgatar sua dignidade, que perdeu nesse casamento.

— É... — Minha respiração falha só de pensar que eu não vou mais ver Taylor. Me sento com os ombros caídos em derrota. Mas eu sou uma idiota mesmo, por querer continuar casada com esse babaca.

— Amiga! Não é possível isso! Por que aceitar tão pouco se você pode ter tudo? Ive, você merece um amor tão lindo quanto o seu coração. — Dani fala segurando minha mão por cima da mesa. Mesmo falando calmamente, percebo que ela está tentando se controlar para não me xingar. Abaixo a cabeça pensando no que ela disse.

— Nisso eu concordo. — Levanto rápido com a entrada do meu chefe. Com as pontas dos dedos, limpo minhas lágrimas que só agora percebi que voltaram a cair.

— Bom dia, chefe! Desculpe, hoje o dia não começou muito fácil!

— Sinto muito, Ive. Você não merece passar por isso. — Olho em seus olhos. Ele é tão bom comigo, sempre me aconselha a lutar pela minha felicidade. — Já disse, não uma, mas várias vezes, você é incrível demais para receber migalhas. A partir do momento que você conseguir enxergar como realmente é, não aceitará menos do que merece ter.

Concordo com a cabeça e fico em silêncio, olhando para ele. Todos sabem que sou casada, mas não sabem que o meu adorável marido é o cara com quem eles terão reunião hoje.

Ninguém sabe o que eu passo nas mãos do meu sogro. Ninguém sabe que meu casamento é só de fachada. Digo, só a Dani. Contei por alto em um dia de crise, mas não disse quem é o meu marido. Ela, desde então, é meu único apoio daquele inferno e odeia Taylor com todas as forças, mesmo sem saber quem ele é.

— Obrigada, senhor! — Agradeço e volto ao meu modo profissional.

— A sala está pronta?

— Sim! Preparei ontem à noite. O contrato está na sua mesa para que o senhor possa revisar. Se estiver tudo OK, tiro as cópias para os convidados da reunião lerem e assinarem.

— O que seria da minha vida sem você? — Abro um sorriso e ele retribui. Com sua maleta preta em mãos, ele vai entrando no seu escritório. Antes de fechar a porta, ele dá uma olhada na minha direção. Eu faço o mesmo por alguns segundos.

Hoje ele está mais bonito. No escritório, ele não usa terno, só quando vai ter algum evento ou reunião, seus olhos verdes têm um brilho neles que não sei explicar. Ele é alto, tem 1,90 de altura. Seus lábios carnudos ficam lindos sorrindo, formando suas covinhas. Renan não é apenas lindo na aparência, mas também no caráter. Realmente, ele é uma pessoa admirável. Daria tudo para que Taylor fosse um terço do homem que Renan é.

— Oh, homem gostoso! Pena que perde tempo amando uma pessoa que está cega por outro. — Olho para Dani sem entender, mas acabo rindo da forma como ela sempre fala dele.

— Você não existe! Ainda bem que não preciso ir à reunião hoje. — Falo me sentindo aliviada.

— Por que não quer ir? Dizem que esse investidor é muito bonito e muito pegador. Vai que você se encanta com ele e esquece o babaca do seu marido.

— É, é o que dizem, mas não tenho interesse. — Ela revira os olhos e vai para sua sala.

Depois de duas horas de trabalho, Renan me liga. Atendo e com a voz rouca ele fala.

— Ive! Pode vir à minha sala, por favor?

— Sim, senhor. Agora mesmo! — Desligo o telefone e me levanto, arrumando meu terno. Aproveito e passo na cozinha para pegar seu café. Entro e ele está com os olhos no computador.

— Hum! Café? Obrigado! — Renan toma um pouco do seu expresso e me olha. Acabo ficando nervosa por ele perceber que eu estava observando seus movimentos.

— A reunião com o senhor Jolins vai ser em um restaurante. Ele disse que não pode vir ao escritório.

Deve estar com uma ressaca da bebedeira da semana inteira. Sou para Taylor tão insignificante que, quando comecei a trabalhar, contei que era em um escritório, falei o nome do CEO e tudo mais. Só que ele nunca se interessou. Acho que ele nem lembra que trabalho aqui. Eu tentava me aproximar, pelo menos para ter um pouco de paz, para que eu pudesse, ao menos, ter sua amizade novamente. Mas paz e Taylor não fazem parte da mesma frase.

— Ok, senhor, já preparei os documentos, deixei tudo separadinho.

— Obrigado! Mas você vem comigo!

— E... eu? — Falo com um nó se formando na minha garganta.— Que pergunta idiota, claro que sou eu.— sussurro.

— Claro que sim! Você vai, não como minha secretária, e sim como minha amiga, Ive! Você precisa distrair a cabeça, fugir um pouco da sua realidade.

— Não, senhor, eu não preciso, digo, não posso ir. — Falo nervosa, tentando encontrar uma boa justificativa para não o acompanhar.

— Se não pode ir como minha amiga, vai como minha secretária!

Tamanho fonte: