
O Retorno do Lobisomem Rei
Titulo do capítulo: Amor Proibido Que Se Torna Maldição (Parte 2)
Autor: T. J. Oliveira
Shhuuu… - eu continuo o caminho na certeza de que tivemos sua permissão, pois nada de ruim nos aconteceu ao que somente uma voz melódica assolou meus ouvidos e um vento forte e frio nos abraçou a todos.
— Então, são estes os seres depravados! - chegamos a um lugar onde desconheço a voz dessa pessoa. Pessoa essa, infelizmente, do mesmo tipo dos que nos trouxeram, pois sua fala prova isso e, sem mencionar que somos presos por nossos próprios parentes. Assim que me tirarem a mordaça, eles vão ouvir umas verdades…
— O que faremos com eles, feiticeira? - pai? Não pode ser! Ou eu devo estar ouvindo demais? Quando eu fui presa, o meu pai não estava envolvido nisso. Pensei, ainda que no mínimo de relance, ter o seu apoio.
— Espero que nada que fira com sua vida! - mãe? Ela também está nisso? Agora sim estou começando a me preocupar e temer por nossas vidas. Mesmo que a fala dela seja contrária a este pensamento que é a única coisa lúcida e real no momento. Debato-me porque é a única coisa que me restou a fazer e também murmuro, mas continuo do mesmo jeito. Pelo visto, Duran ainda está desmaiado, pois se estivesse acordado, a par de tudo, já teria dito algo ou, pior! Algo horrível passa pela minha cabeça e não é à toa. Mas muito pelo contrário, é bem relevante ao nosso caso: e se deram um sumiço nele? Penso, o mataram? Isso me deixa louca e me debato tanto…
— Huurrr... – desprendo-me de onde eu estava, mas ao cair ao chão bato a cabeça. Que dor!
— São vocês mesmo! Mãe! Pai! Ajudem-me! - eles para minha surpresa, permanecem estáticos.
— O que há com vocês?
— Eles não podem falar aqui, Norah! - o quê? É a única coisa que consigo dizer, não só devido ao meu espanto como também os ouvi falando, então, resolvo questioná-la:
— Eu acabei de ouvi-los falarem!
— Eles não podem interferir agora, a partir do momento que seu capuz foi tirado! - o quê? Como assim? Pergunto sem entender nada.
— Essa atitude é para que eles não interfiram no que vai acontecer! - ela diz de modo sinistro ao que caminha em minha direção. Isso me assusta! Ainda mais porque ela estende a mão em direção ao meu peito.
— Aaahhh... aaahhh... o que é isso? O que você está fazendo? Aaahhh…
quem é você? Ou melhor, o que é você? - agora eu entendi o “para que eles não interfiram no que vai acontecer”. Mesmo que interferissem, não faria diferença, pois ela já começou sei lá o quê. Só teria ajudado, de fato, se eles impedissem “isso” ou não chegassem ao ponto de sugerirem isso, pois se bem os conheço, foram eles quem devem ter tido essa ideia maluca. E dolorosa!
— Aaaarrr... você... você... você é uma —, feiticeira! Pensei que eram somente histórias. Histórias para assustar.
— Eu não a assusto? - eu já diria que “sim” para sua aparência, agora mudo para “com certeza” para a dor que ela sabe causar.
— Aaaarrr... — não suportando mais a dor e também sem entender o porquê, pergunto:
— O que você pretende com tudo isso? Aaarrr... chega a ser intencional! - ela não me responde. E nem poderia devido ao fato de que seus olhos branquearam por completo, sumindo tanto a íris quanto a bola negra. O que comprova que ela está em transe. Ou recebendo algum espírito ou divindade. E porque não, um demônio, já que ela está a me fazer um mal danado.
— Aaaarrr... — embora, não nos misturamos, seja por qualquer perspectiva, a dor se torna nosso elo.
— Mas eu não consegui... — ou outra coisa nos une. A minha resignação encontra a decepção dela que é tanta que a faz sair de seu transe e até sua fala prova isso. Ainda não sei o que ela queria, mas sua frustração me preocupa de certo modo, pois não sei o que ela pretende posteriormente. Resolvo questioná-la:
— O que você estava a fazer? O que você quer? - ela não me responde. Ao menos não com palavras, mas virando as costas para mim. De modo brusco até, no entanto, compreensivo tendo em vista que ela não está nada feliz.
— Nãoooo... - o meu amado é descoberto de seu esconderijo e revelado de seu cativeiro, ele está desacordado! Preocupada eu não deixo de estar, porém, um acalento me invade, pois morto ele não está. Grito seu nome. Sem resposta.
— Saia de perto dele, sua demônia!
— Não fale assim dela, Norah! — minha mãe sai de seu estado petrificado e me repreende. Ainda que em sussurro. Realmente, eu não sei se fico feliz ou triste. Eu resolverei essa questão com meus pais depois, pois o mais importante agora é o meu amor.
— Eu não estou nem aí para ela, mãe. Ela é uma feiticeira do mundo dos mortos, sabia? Sabia, meu pai? E mesmo assim, com a reputação que ela tem vocês se uniram a ela contra mim. Contra mim! — queria resolver isso depois com eles, mas não deu. É muita revolta.
— Não toque nele, feiticeira! — debato-me desesperadamente, pois ela o tocou no rosto ao mesmo tempo em que tem o poder de não só erguê-lo, mas também de acordá-lo. Aproveito este momento e chamo por ele.
— Norah? É você? — com voz fraca ele atende ao meu chamado. Eu fico contentíssima por ele ainda estar não só vivo, mas como também se lembrar de mim, tendo em vista com o que e não quem nós estamos lidando.
— Minha filha, pare de se meter! — o quê? Digo com tom alto simbolizando mais revoltada do que surpresa com meu pai. E acrescento que estou muito desapontada com eles. Eu esperava qualquer coisa de qualquer pessoa, mas não deles. Que deveriam me proteger e não fazerem…
— Mas isso é proteção, minha filha! — minha mãe entra na conversa tentando argumentar.
— Como tirar o amor de alguém pode ser proteção, mãe? Explica-me! Por favor. Eu não consigo entender.
— Ele é seu... — todos ficam mudos, mesmo tendo não só coisas a serem ditas, e relevantes, suponho, sendo o mínimo que eu espero, devido à conversa, mas também as bocas nitidamente se movimentam, mas nenhuma palavra sai delas. Como eu ouvi da outra vez, isso é para que não atrapalhemos a feiticeira. Isso não está certo! Nada aqui é natural! Nada do que acontece aqui pode ter um resultado harmônico, certo. Duran começa a gritar! Assim como eu. É obvio que não aguento vê-lo sofrer e berro mais do que ele. Obviamente que ninguém me dá atenção e me desespero pelo único que poderia fazê-lo, mas está impedido pela dor. Dor esta que sei o quão profunda e dolorosa ela é e, somente torço para que ele resista, assim como eu. Para que o amor dele por mim resista, assim como o meu. Que o amor dele seja mais forte do que a dor.
Ela está se esforçando, eu devo admitir, para tentar remover o amor de dentro de nós. De dentro de nossos corações!
— Resista, meu amor! Por favor, resista! Você consegue! Resista, Duran! Resista por nós! — mmmm... somente murmuros é o que eu produzo, mas ainda sim, eu consegui gritar o que eu queria. Mesmo ela em transe, o feitiço consegue me parar. Mas se ela pensa que isso me deterá, ela está muito enganada. Eu fecho meus olhos e nada de pensar, mas sim, sentir e transmito o meu amor, bem como também, coragem.
Ciente de tudo o que está acontecendo, eu testemunho o que eu já sabia, ou melhor, o que meus sentimentos já me diziam, ela também falhou ao extrair o amor de meu amado que mesmo sofrendo, resistiu! Assim como eu!
— Que bom que você resistiu, meu amor!
— O que está acontecendo aqui, Norah?
— Essa feiticeira do mundo dos mortos está tentando retirar o nosso amor!
— O quê? — ele apresenta a mesma incredulidade em um primeiro instante e, como ser diferente? Saber, ou melhor, ouvir essas coisas é uma coisa e estar envolto a elas é outra bem diferente. Mas o mais importante é que ele resistiu. Agora, creio eu, ela não poderá nos fazer mal.
— Vocês, saiam daqui imediatamente! — acho que errei sobre isso. Instantaneamente meu corpo congela por dentro. O simples ato em respirar me é retirado por medo do que está por vir. A feiticeira manda meus pais saírem. Pelo visto a coisa vai ficar feia. Eles a questionam e ela responde que nenhum mal acontecerá a mim. Isso é impossível do ponto de vista amoroso, pois o que mais estão a fazerem aqui é me machucar. Eles obedecem, como a súditos de um rei, sem questionarem, e pior, sem olharem em meu rosto, pois sabem se o fizerem, a vergonha os atingirá. E pior ainda, a cada passo da saída o remorso começa a os acompanhar e estarão com eles por onde forem. Hoje é um dia triste. Hoje é o dia em que perdi, nesta casa maldita, neste chão amaldiçoado, o meu amor sincero por eles. A quem estiver disposto a procurá-lo o encontrará aqui e não nascerá uma flor bela e formosa, mas sim, neste lugar, a terra morrerá e o chão secará. A minha tristeza o adubará e nascerão galhos secos e contorcidos.
— Deixe-me aproximar de meu amado! — não sei se ela está em transe e, naturalmente, não pode me ouvir ou se não quer mesmo responder. Nada mais é irritante do que isso. Falar com alguém e não ter uma resposta. Ser ignorada. Como eu não sei bem ao certo o motivo, eu resolvo perguntar de novo:
— Deixe-me aproximar de meu amado! — novamente o silêncio vem como uma faca e me atinge em cheio me perfurando lentamente e causando dor. Eu resolvo mudar a estratégia dizendo:
— Você nunca amou?
— Uuuaaarrrggg...
— Aaaarrr... — sou pega pelo pescoço com força que chego a me incomodar com o ataque. Mas o que mais me apavora, ou devo pensar, mais me intriga, foi que ela se moveu tão rápido que nem notei. Sem mencionar o berro assustador e, não pelo tom, mas pela palavra, ela sentia dor. Eu posso estar errada, mas foi isso mesmo. Eu sou mulher. Eu entendo dessas coisas.
— O que você sabe sobre amor, criança? Você acha que este sentimento infantil que nasceu com a única pessoa diariamente presente em seu convívio, em seu círculo pessoal significa amor? Você acha que só pronunciar “eu te amo” já conta como estar apaixonada? Você acha que cartas de amor com frases pré-prontas significam amar de verdade? Ou pior, você acha que um rosto bonito é sinônimo de amor? Ou de ser amada? Você acha que tramar fugir significa que você está vivendo um grande amor? Você não sabe o que é amor de verdade! Você não sabe sequer o que é ser amada! Ou amar alguém de corpo e alma e ser traída. Trocada por outra de menor valor em moralidade e retidão.
— Não queira comparar a mim ou a qualquer outra pessoa com os acontecimentos da sua vida, feiticeira. As pessoas não são iguais, você sabia? Se alguém a traiu, eu sinto muito, pois isso jamais deveria acontecer com ninguém, mesmo com a pessoa merecendo, pois deve machucar muito o coração e, eu sei, deve doer tanto que nem deve cicatrizar, mas...
— Nada de, mas...
Chega dessa conversa moralmente correta que não te levará a lugar algum, no entanto, eu tenho um lugar a ir. - não sei aonde ela vai, mas ela encerra a conversa que eu ainda tinha mais o que dizer, me dá as costas e eu vejo-a começar a pegar jarros que...
Não dá para ver daqui o que tem dentro.
— Duran! Duran, meu amor!
— Norah! Coitado! — com uma voz fraca ele me responde. Ainda bem que consegue fazê-lo. Isso me alegra um pouco, mas ainda estou receosa com o que irá acontecer.
— Duran, aguente firme, meu amor! Eu vou tirar nós dois daqui!
— Você sempre foi a mais forte da nossa família, Norah. Bem como, a mais esperançosa, mesmo quando não mais havia esperança.
— É preciso, meu amor, sobretudo neste momento difícil.
— Nós não sairemos vivos daqui!
— Não diga isso, por favor. Assim como, não se entregue! Se entregue a mim! Vamos! Ainda dá tempo. Ela não fará mal a mim, pois meus pais... quero dizer, umas pessoas acertaram isso com ela.