
O Retorno do Lobisomem Rei
Titulo do capítulo: Amor Proibido Que Se Torna Maldição
Autor: T. J. Oliveira
CASARÃO DOS ELRON – NOITE
— O que você está pensando, meu marido? - eu já sei o assunto, mas pergunto querendo me aprofundar nele, no entanto, a resposta que está por vir me dá medo. Não é o caso de eu ser mulher e não ter vez nas decisões, mas muito pelo contrário, sou eu quem comanda nessa família, porém, o medo de ele agir impulsivamente é o que me apavora. Eu conheço bem meu marido. Os anos se passaram desde nosso namoro arranjado por nossas famílias, na verdade, tempos difíceis para quem era romântica e queria casar com o grande amor da vida. A única coisa que fiz querendo foi casar virgem, o resto, foi tudo obrigação, no entanto, hoje, olhando para trás, foi até bom. Não me arrependo de nada nem do que eu fiz ou meus pais fizeram e ele nesta questão da impulsividade só piorou. E mesmo tendo nossa filha envolvida, eu temo que o pior possa acontecer, pois ele não mede esforços para agir, ainda que de cabeça quente, e resulta sempre em desastre. Tentarei desta vez não ser tão passiva e agirei…
Ele está de fato concentrado que nem respondeu minha pergunta até agora! O jeito é perguntar de novo…
— O que você está pensando, meu marido?
— Hã? O quê? - desta vez consigo uma resposta. Bom, nem tanto uma resposta, mas já valeu para que ele retornasse de onde quer que estivesse. O empurrão ajudou.
— O que você quer, Giulia? - pela fala truculenta, ele não gostou de ser interrompido em seus pensamentos. O mundo de si mesmo, porém, era necessário então respondo:
— Quero saber em que você está pensando!
— Nada! Nada! Deixe-me a sós! - esse é um grande erro. Deixar um alguém de seu círculo familiar de fora. E só piora, pois eu estou envolvida diretamente. Isso já não é mais querer me resguardar, mas sim, deixar de confiar.
— Você acha que eu não sei o que você já sabe? - mesmo de costas para mim, ele só vira a cabeça. Talvez envergonhado por eu ter tido ciência e me encarar nos olhos. Não precisava agir assim. Até parece que ele está cometendo adultério. Talvez esse seja o modo pai, protetor de ser.
— Mas como você...? - às vezes eu me sinto uma alienígena e que eu vim de outro mundo. Ou que ele me acha estúpida demais.
— Salviano, meu querido, em primeiro lugar é só ver que as coisas estão ao redor e nem digo que é preciso sentir, só olhar mesmo e, segundo, porém, não menos importante, sou mãe e eu sou mulher. Sei quando nossa filha está triste, angustiada, feliz, preocupada e o que mais se encaixa na situação, apaixonada. Desejando um alguém.
— Tudo bem, tudo bem, me desculpe! É que... - abraço-o e digo:
— Nossa menina cresceu! É hora de deixá-la voar e ir…
— Esse não é o problema, Giulia! Eu estou odiando esse momento, embora, eu sabia que era inevitável…
— Eu não entendo. Se você sabia que era inevitável que nossa filha ia se apaixonar, qual é o problema?
Toc... Toc... Toc…
— Entre!
— Tio, ele acabou de sair. E às escondidas! Como o senhor alertou! Ele seguiu a pé para a floresta negra.
— O que está acontecendo, Salviano?
— Romeu, pegue os cavalos e chame o José! Tudo de modo furtivo também. Não queremos perder o fator surpresa. - perfeitamente, tio!
— O que está acontecendo, Salviano? - dessa vez minha voz é mais abrangente ao que o pego pelo braço, mas não são essas intimidações que o fazem parar, mas sim, meu olhar preocupado.
— Eu sou mãe dela. Eu tenho o direito de saber! - acrescento.
— Tudo bem, Giulia. De fato você tem o direito de saber. - um silêncio perturbador recai entre nós, bem como, um respiro que vem lá de dentro, bem do fundo, trazendo consigo uma tristeza na qual ainda não decifrei.
— Estou correndo contra o tempo para, se Deus quiser, evitar que uma desgraça recaia sobre nossa família…
— Do que você está falando, homem? - já logo trêmula digo engasgada.
— Você está me assustando! - acrescento o que não quero, porém, necessário.
— A desgraça a qual falo é... é... nossa filha…
— Anda homem de Deus desembucha! Você está me deixando aflita demais!
— Nossa filha está apaixonada, como você disse enxergar ao seu redor, porém, o que você não viu e nem sentiu foi por quem.
— Quem poderia ser este homem por quem ela se apaixonou que seu amor é sinônimo de desgraça?
— Duran!
— Quem? Duran! O filho do meu irmão? - exatamente! Novamente, com uma palavra só dita, ele faz, de fato, meu mundo ruir.
— E o que você está tramando chamando o Romeu e o pai da Josefina? - ela me faz uma ótima pergunta. Pergunta esta que eu preferiria não responder e deixá-la não no campo da mais vasta ignorância, mas sim, no simples desconhecido, mas como ela é mãe, não posso deixá-la de fora e sou obrigado a dizer afirmando:
— Nossa família, Giulia, como você bem sabe, não é a das melhores, mas também não é a pior, embora, temos discussões, às vezes acaloradas demais, há mais amor do que qualquer outro sentimento ruim, o que é até normal, considerando a raça humana, mas o que quero dizer é que sinto já há um tempo que nossa família está se dividindo e, não é por uma questão normal, como se alguém fosse viajar, tentar a vida em outra cidade ou país, ou ainda se casar e ir viver outra vida em outro lugar, mas essa divisão —, sinto que é para sempre!
— Como assim?
— Não sei ao certo, mas sinto, ou melhor, vejo uma escuridão se aproximar. Tempos de solidão em um inverno rigoroso de sentimentos falhos e incompreensíveis. Uma tormenta de desespero e luta por sobrevivência.
— Assim você me assusta, Salviano! - minha intenção não era essa, no entanto, ao ouvir estas palavras, não só ditas com tristeza e pesar, mas elas falam por si próprias então, não há quem não se sinta assustado e preocupado, porém, infelizmente, essa é a mais pura e crua verdade que assolará nossa família. Não sei se ela terá início com este namoro proibido, o que será importante para o nosso futuro não tão próximo sabermos, mas no fundo um sentimento lá no fundo, uma luz piscando, me leva a crer que a causa, que todo nosso infortúnio começa com o namoro destes dois e, mesmo assim, vou correr contra o tempo e lutar do jeito que for, com as armas que tenho e com as que eu adquirir para impedir que esse levante contra a moral e os bons costumes siga adiante. Despejo tudo logo de uma vez.
— O que você vai fazer então? - não posso ficar aqui de conversa. Preciso ir. Digo com a urgência necessária.
— Ah, mas você não vai me deixar aqui aflita desse jeito não. Conte-me! Agora! - ela me segura forte pelo braço. Eu sempre a respeitei como ser humano e mulher e, não será agora que começarei a desfazê-lo então…
— Vamos pegá-los e levá-los a Ianã!
— O quê? Você enlouqueceu, Salviano? Você não pode recorrer a sua…
— Não diga o final dessa frase, por favor!
— Você sabe o que ela fez. Você sabe o que ela se tornou. E pior, pois ele existe após as duas frases passadas, você sabe onde ela está. Além de que você nem consegue ouvir o que eu ia dizer.
— É nossa pequenina que está em jogo. É nossa família que foi posta em xeque e, eu sei que não foi por maldade, mas não posso deixar nossa família se desmoronar, Giulia. Por favor, não peça para eu não recorrer a ela quando, ou melhor, vou ser otimista, se precisar. - a situação é séria mesmo para ele recorrer a sua... não, não vou nem ousar pensar.
— Tudo bem! Pelo bem de nossa família, faça o que tiver de ser feito! - não só eu o abraço, como logo em seguida, beijo-o. Não um beijo de amor, ardente, pois a situação não pede, mas um beijo singelo de apoio. Saímos em direção ao destino de nossa família. E que este tenha ao menos a sutileza da solidariedade e não nos pregue uma peça.
NÃO MUITO DISTANTE DALI…
— Você conseguiu, Duran, meu amor! - antes da resposta com palavras, dou-lhe um abraço apertado. Segundos depois solto-a, não que o abraço não fosse sincero ou não o quisesse fazê-lo, na verdade, se eu pudesse escolher, eu morreria nos braços dela, mas a preocupação me impede de ter um minuto que seja de sossego. Mas isso não me impede de presenteá-la com um olhar amoroso e um beijo cheio de desejo.
Sou eu quem o para, infelizmente. Pela sua atitude é fácil entender que ela queria que o beijo continuasse e também pelos seus olhos fechados. Embora, tudo já estivesse explícito, digo:
— Sim, minha bela, eu consegui! Aqui estão as passagens. - os olhinhos dela brilham. Mais do que o normal, na verdade. Isso me alegra imensamente. Assim como ela, eu penso que talvez nós tenhamos uma chance. Uma esperança consistente de sermos felizes longe de tudo e todos.
— Tome. Pegue a sua. - imediatamente ela pega a sua e sorri. Ela tem o sorriso mais lindo do mundo, mas agora, afortunado, presencio um ainda mais lindo. Não sabia de que ela era capaz de um assim. A felicidade já a invadiu e, começo a senti-la também em mim. Espero, sinceramente, que tudo dê certo para nós. Que tudo dê certo para dois amantes. Dois seres que só querem se amar. Viver. Serem felizes juntos. O que aqui será impossível. Com toda essa gente e suas manias, fantasias, especulações, delírios, desvios da verdade e superstições escabrosas que deturpam a realidade e fere a quem não as compartilha. Recebo um abraço! Mesmo detrás de uma árvore centenária e larga fecho meus olhos por um instante para contemplar, sentir, o que é o abraço feliz de alguém que amo!
— Achamos vocês, seus depravados!
— O quê? Soltem-na seus…
— Duran, meu sobrinho mais forte, mais inteligente e o mais cotado para ser o rei de nossa família, rogo-lhe em nome desse amor e respeito que nutrimos, todos nós da família Elron, sua família, e em especial em nome de seu pai Deusdécio, a quem você ama demais, não siga adiante por este caminho, não alimente este amor que nasceu não sei como e quando ou onde.
— Tio, o senhor me pede para deixar de viver, de sentir, de respirar, de amar —, pois tudo que sou está diante de você agora!
— Eu sinto muito então, meu sobrinho!
Traack… - eu levo uma paulada na cabeça, mas mesmo assim não me desfaço, não me entrego, e lutando para não desmaiar, vejo-a lutando contra, mas ela não escapa. Ela pode estar sendo agarrada, mas sua boca profere o que quer. Tenho a certeza de que são palavras apropriadas para nossa salvação, nossa libertação, mas tenho a certeza também de que certamente estão sendo ignoradas. Meu tormento só aumenta antes de eu…
— Deixem-nos em paz, seus mal amados! Seus cabeças ocas. Seus…
— Cale-se! - huu... huu... huu... eu sou amordaçada e só consigo mesmo é murmurar. Matarem-nos eles não vão! Nosso destino me intriga e ao que este está nas mãos de gente presa ao passado, a superstições retrógradas. Logo em seguida sou encapuzada e não vou ver onde estão nos levando. Só faz aumentar meu desespero. Nem tanto por mim, mas mais pelo Duran, pois homem desde o início dos tempos é tratado de forma bruta, rústica e quase sempre, leva o peso da culpa…
— Sigam-me! - adentramos na Floresta do Medo, ainda que, sob uns protestos veementes. Ao passo que Giulia já começa a questionar meus métodos, porém, não posso fraquejar agora. Eu odeio este ser, este monstro, não porque agora ela é uma morta-viva, pois não ousaria chamá-la de ser humano se ela não estivesse nessa condição, mas não tenho outra escolha. O único problema agora é se ela vai aceitar fazer o que preciso. Ignoro as falas contínuas de minha amada esposa, agora muito preocupada, e falo baixinho:
— Ianã, feiticeira do submundo, rainha dos mortos, guardiã dos feitiços e conhecedora do mal supremo, dê-nos passagem segura através de sua floresta e abra sua porta para nos receber! - pronto! Os dizeres foram ditos.