
O Último Show
Titulo do capítulo: (US) - PRÓLOGO
Autor: Sandra Lymah
Charles Whitewood
Sinto que o suor banha a minha cama, assim que eu acordo assustado. Parecia que eu não ia conseguir acordar, mas eu acordei… afinal, não é assim que ele quer que seja. Tem que ser pelas minhas próprias mãos!
— Maldito pacto! — falo baixo e com raiva, então olho para minha esposa, que continua dormindo.
Suspiro e me levanto. Não vai adiantar eu tentar dormir de novo, pois tem sido assim a semana inteira: primeiro eu revivo as piores cenas da minha infância, sentindo agora todas as dores que eu sentia na época; depois eu o vejo me olhando com uma decepção que parece palpável, e é como se ele estivesse em minha frente… me olhando… me julgando… cobrando que eu cumpra a minha parte no pacto. Nesse momento, as cenas voltam, as dores voltam, mas tudo acontece mais devagar. A cada vez que recomeça, tudo fica mais lento que a última vez e, antes de eu conseguir acordar, parece que passei horas sentindo e revivendo tudo aquilo. Mas o relógio em minha cabeceira, mostra que eu dormi por apenas duas horas, ou menos.
Suspiro profundamente, me levanto e vou até o closet. Parece que aquela caixa cinzenta, mesmo não estando muito visível, me chama. Me aproximo dela, passo a mão vagarosamente em sua tampa, como se a acariciasse, e me parece que ela ronrona para mim, me pedindo para abri-la e usar o que tem nela.
— Hoje não, querida! — sussurro, ainda acariciando sua tampa, depois toda a sua extensão.
Me dirijo até a parede no fundo do cômodo, pego uma toalha na terceira gaveta, e volto para a cama, ignorando a caixa cinza. Estendo a toalha, para absorver o suor que ficou ali, então, beijo a testa da mãe dos meus filhos dizendo baixinho que a amo e um sorriso surge em seus lábios. Desço até a cozinha e tomo dois copos de água gelada. Entro no meu escritório que, assim como a cozinha, também fica no térreo da casa, e vou para a minha mesa de trabalho. Em meu notebook, começo a escrever o que pode ser o próximo sucesso da minha banda.
O MEDO
Onde você está, quando eu mais preciso?
Onde esteve, quando eu mais precisei?
Se fosse o contrário, sentiria a minha falta?
Faria a sua parte, se estivesse no meu lugar?
Eu te deixaria em paz, sempre odiei cobranças!
Sempre pensei que cada um sabe dos seus deveres.
Quando tive medo, chamei várias vezes,
Pois sempre amparamos um ao outro…
Bem… pelo menos, eu sempre amparei você.
Onde você esteve, quando eu mais precisei?
O que era mais importante que a nossa amizade?
O que era mais importante que o apoio,
Que você poderia me dar?
Sempre que precisou, eu estive lá!
Você não precisava me chamar, eu estava lá…
Para você… por você!
Sempre! Para você…
Sempre por você!
Será que precisa tanto de mim agora?
Eu poderia simplesmente te ignorar!
Eu não queria sentir esse medo idiota!
Mas, me perdoe, eu sinto!
Onde você esteve, quando eu mais precisei?
Por onde andava, quando eu te chamei?
O que era mais importante,
Que o apoio que você deveria me dar?
Fecho o notebook, e esfrego os meus olhos cansados.