
Os Demônios de Lilly
Titulo do capítulo: Capítulo 1
Autor: Mille Meiffield
Os Demônios de Lilly
Capítulo 1
A chegada ao North Palm Beach County Airport foi tranquila. Avistei Mellanie Schields, minha melhor amiga que viera me buscar. Ela vestia um minúsculo short amarelo, uma regata branca e um Allstar. Estava distraída conversando com seu irmão Noah. Quando me viu ela jogou sua bolsa em cima de seu irmão e veio correndo na minha direção me segurando em um forte abraço.
– Não acredito que você veio!
– Prometi que vinha. Desde quando quebro minhas promessas? – Indaguei
– Você nunca quebrou uma promessa. Não sei como eu conseguiria me formar se não fosse você. – Mellanie estava radiante com a minha chegada.
– A queridinha dos professores sempre tirou ótimas notas, não tenho nada a ver com isso.
– Claro que tem. Se eu não tivesse conhecido você no primeiro dia na faculdade, com certeza acabaria me tornando uma daquelas vadias sem cérebro de alguma irmandade. – Mellanie tagarelava sem parar.
– Nem todas são vadias sem cérebro, Hanna Klein era legal e inteligente.
– Hanna Klein dormiu com mais da metade da turma em uma semana.
– Tem razão, mas ao menos ela tinha um cérebro.
Nós rimos.
– Lilly, estou muito feliz mesmo que você tenha decidido ficar com a gente.
– Mel, o que eu faria da minha vida pós faculdade sem você? – Nos abraçamos mais uma vez. Noah se aproximou me erguendo em um de seus famosos “abraços de urso”.
– Seu vôo só atrasou cinco minutos e a Mel quase enfartou. Ainda bem que você veio, só assim meus pais terão um pouco mais de sossego. – Disse Noah ao me colocar no chão.
– Não entendi. – Falei confusa.
– É que a minha irmãzinha aqui não parava de falar em você e dizer aos empregados tudo o que você gosta para que se sinta à vontade e em casa.
– Mel, não precisava de tudo isso. Você sabe que eu sempre fui uma pessoa simplista.
– Lilly, quero apenas que se sinta confortável.
– Com você e Noah me mimando acho que não sairei de Palm Beach tão cedo.
– É essa a intenção. – Disse Mellanie sorrindo.
O início de julho estava mais quente que o normal. Mellanie e eu fomos para o country clube onde ela e Noah eram sócios. Ela estacionou o carro na vaga
reservada a ela e fomos para a piscina.
As garotas que tomavam sol nas espreguiçadeiras eram lindas. Bronzeadas, corpos esculpidos em mármore, não pela cor, mas pela perfeição. Mellanie e eu nos dirigimos para as últimas espreguiçadeiras que estavam na beira da piscina. Ela estendeu uma toalha leve pela espreguiçadeira e se jogou em cima. Me sentei a seu lado e peguei um livro para ler. Sempre usava meus óculos escuros para ler, porque minha vista sempre foi sensível à claridade solar. As garotas nos encaravam como se eu fosse alguma aberração e a Mellanie estivesse em perigo ao meu lado.
– Mellanie Schields com uma amiguinha que veste a mesma roupa de banho que a minha avó. – Disse uma loura alta, de olhos claros e longos cabelos que desciam em cachos abertos até a cintura. – Pensei que depois da faculdade fosse escolher melhor suas amizades, mas vi que não.
– Prefiro uma amiga com cérebro a uma vadia como você, Brandi. – Disse Mellanie sem se abalar. – E você, já parou de chupar os namorados das suas amigas?
– Que eu saiba nunca fomos amigas, e não, não há nada melhor que encontrar um gostoso como o seu ex, bêbado e solitário, quero companhia.
– Então continue a cacarejar com suas amiguinhas e nos deixe em paz. – Mellanie nem se abalava com as palavras daquela garota insuportável.
Enfim aquela detestável criatura decidiu ir embora. Mellanie ficou muito quieta depois dessa discussão. Esse não era o seu normal. Eu, como sempre, não sabia muito bem o que falar, então fiquei quieta e continuei com meu livro.
Noah e um moreno alto vinham em nossa direção. Olhei para eles disfarçadamente e cutuquei Mel com a ponta dos pés. Ela olhou na direção em que eu olhava e abriu um largo sorriso.
– Luke Svenson! – Exclamou Mellanie pulando da espreguiçadeira e abraçando aquele lindo moreno. – O que está fazendo aqui?
– Esqueceu que esse clube é do meu pai? – Brincou o desconhecido.
– Eu quis dizer o que está fazendo aqui em julho. Pensei que só voltasse em agosto.
– Bom, você sabe como é o velho. – Disse sorrindo. – Ele mexeu uns pauzinhos e aqui estou eu, formado e de férias eternas. E quem é essa gata que está ao seu lado.
– Pode tirando o olho dela. – Disse Mel mudando a expressão rapidamente de feliz a brava.
– Essa é Lilly Ashwood, ela foi colega de quarto da Mel na faculdade e nós três nos tornamos grandes amigos, não é Lilly? – Perguntou Noah.
– Claro Noah, menos quando você namorava Abby Masters. – Eu não consegui segurar uma boa gargalhada e Mel também riu.
– Abby Masters? – indagou Luke. – A mesma Abby Masters do colegial? – Luke também riu de Noah, como se Abby Masters fosse alguma piada particular dos dois.
– Desculpa Noah, acho que falei demais.
– Abby Masters foi a primeira de Noah. – disse Mel. – Só que ela gravou e colocou o vídeo na internet.
– Não entendo por que você voltou para ela cara. – disse Luke.
– Claro que você não entende. – Rebateu Noah. – Eu gostava dela. E você, como sabe se gosta ou não de uma garota se cada noite tem uma diferente na sua cama?
– Ei Noah, me desculpe. Fui eu quem começou a brincadeira. Droga! Sempre faço tudo errado.
– Claro que não Lilly, me desculpe você. Abby é um assunto delicado para mim, mas você não sabia disso. Está tudo bem.
Noah me abraçou e se sentou na espreguiçadeira a meu lado.
– Vai se juntar a gente? – Mel perguntou a Luke.
–Infelizmente não, o coroa me encarregou de cuidar da administração do clube, então tenho que trabalhar. Mas, hoje vai ter uma festa na casa da Paige, se quiser ir.
– Claro que eu vou. Estou morrendo de saudades da Paige, as melhores festas são as dela, sempre.
– Leve sua bela amiga junto. – Disse Luke como seu eu não estivesse ali. Ele olhou para mim de um jeito que me deixou com falta de ar e senti um arrepio
frio percorrer minha espinha. O amido de Mellanie saiu da área da piscina e foi andando até a sede do clube.
Noah estava calado e parecia ter adormecido já Mel estava com os fones de ouvido no último volume.
Apreciei uma cálida brisa que tocou minha pele. Voltei a me concentrar na leitura e fiquei assim por um bom tempo.
– Lilly vamos mergulhar? – Chamou Mel.
– Claro.
A água estava mais gelada do que o esperado. O medo tomou conta de mim e comecei a sufocar.
Mellanie chamou por Noah que se levantou imediatamente e veio me ajudar a sair da piscina. Ele me colocou no banco do carona de um carro elétrico enquanto Mellanie pegava nossas coisas. Ela entrou na parte de trás do carro, jogou nossas coisas no banco ao lado e segurou meus ombros, fazendo uma massagem leve para eu me acalmar.
Chegando ao prédio principal do clube, Noah estacionou e me ajudou a sair do carro. Ele passou a mão pela minha cintura para me ajudar a caminhar e me guiou até a porta da administração. Bateu duas vezes e entrou. Mellanie veio logo em seguida.
– Luke, preciso de água e açúcar, a Lilly está tento uma crise de pânico.
Imediatamente Luke pegou o telefone e ligou para alguém pedindo a água e o açúcar. Assim que desligou ele levantou da cadeira e veio até mim e meus amigos. Eu estava vendo tudo o que acontecia e até entendia o que se passava ao redor, mas não conseguia falar. Mais um dos meus constantes ataques de pânico.
– M..me desculpa. – Eu disse com a voz trêmula.
– Para com isso Lilly, eu conheço esses seus ataques de pânico há tempo demais para você ficar pedindo desculpas. Eu só não sei o que houve. Querida, qual foi o motivo dessa vez.
– E..eu...àgua...a àgua...m–muito gelada.
– Alguma coisa deixou você nervosa antes disso, tem quase três anos que você não tem esses ataques quando entra em uma piscina.
– E..eu n–não sei Mel. – Eu não conseguia parar de tremer. – Eu juro.
– Eu acredito em você. – Mellanie me abraçou apoiando minha cabeça em seu peito. – Eu vou marcar uma hora com a doutora Harmony, ela é muito legal e vai continuar te ajudando aqui.
– Não se preocupe com isso Mel, em breve eu vou embora.
– E vai para onde? – Perguntou Noah. – Você não tem ninguém Lilly, só a Mel e eu, então para com essa merda de pensamento, você não vai a lugar nenhum.
– Noah! – repreendeu Mellanie. – Você não está ajudando.
Após duas batidas na porta, um homem de meia idade entrou trazendo uma bandeja com uma garrafa de água, um copo e um potinho de alumínio, deixou em cima da mesa e saiu. Luke abriu a garrafa e despejou um pouco da água no copo, colocou duas colheres de açúcar e levou até mim. Ele me ajudou a segurar o copo e a levá-lo até os lábios.
Bebi a água adocicada em pequenos goles até esvaziar o copo. Aos poucos os tremores foram abrandando.
– Mel, eu preciso dos meus remédios. – Falei. – Eles estão no quarto.
– Não se preocupe eu vou buscar. Noah vai me levar e antes eu vou passar no restaurante e mandar trazerem algo para você comer.
– Eu não quero ficar sozinha.
– O Luke fica aqui com você. Ele pode parecer um canalha, mas é uma boa pessoa. – Disse Mellanie carinhosamente.
– Obrigado pela parte que me toca Mel.
– Lilly, você mal consegue andar quando tem essas crises. – Mellanie estava preocupada. – Precisa ficar sentada por um tempo.
– Não quero incomodar. – Respondi ainda tremendo.
– Fique à vontade. – Disse Luke, não há incomodo algum.
Mellanie e Noah foram embora, me deixando sozinha com um total desconhecido. Minhas pernas não paravam de balançar. Luke estava sentado em sua cadeira. Embora meus olhos estivessem voltados para o chão, não conseguia deixar de sentir os olhos dele estudando todos os meus movimentos.
– Sabe, eu não mordo. – Disse ele sarcástico. – Por que não conversamos um pouco? Acho que um pouco de conversa é mais confortável do que todo esse silêncio.
– Eu não sou muito de falar.
– Uma mulher tão bonita, deveria se comunicar um pouco mais.
– Por favor, podemos voltar a ficar em silêncio? Eu tenho medo de conversar com quem não conheço.
– Eu não vou lhe fazer mal. Conheço os Schields desde que nasci, somos como irmãos.
– Não tenho medo de você, tenho medo de mim.
– Haha, com tanto que você não seja uma criminosa internacional ou assassina de aluguel, não me assusta. – Disse Luke rindo.
– Posso garantir que sou pior que isso. – Esbocei um leve sorriso.
– Pago para ver.
A conversa continuou leve e agradável. Para meu espanto, me esqueci completamente do ataque de pânico. Havia muito tempo que eu não me sentia tão relaxada. Luke era moreno claro, de cabelos castanhos e olhos acinzentados. Algum tempo depois Noah e Mellanie voltaram.
– Vejo que sobreviveu aos encantos de Luke Svenson. – Brincou Mellanie.
– Até que ele não é má companhia. – Afirmei.
– Vocês meninas, são tão amáveis. – Retrucou.
– Sempre. – Disse Mellanie. – Está bem o suficiente para conseguir andar, Lilly?
– Estou melhor.
– Então acho que já podemos ir para casa. – Concluiu Noah.
– Nos vemos na festa da Paige mais tarde? – Perguntou Luke.
– Claro, tem muito tempo que não reunimos o pessoal. – Respondeu Noah.
– Vejo você lá também Lilly?
– Talvez.