
Os Demônios de Lilly
Titulo do capítulo: Capítulo 2
Autor: Mille Meiffield
CAPÍTULO 2
Mellanie e Noah insistiram para que eu os acompanhasse até a casa de uma de suas amigas, onde haveria uma festa hoje à noite. Mesmo a contragosto, vesti um short jeans e uma camiseta vermelha, calcei um tênis All Star e prendi meu cabelo em um comprido rabo de cavalo. Desci as escadas e encontrei Mellanie e Noah me esperando na sala.
– Nossa Lilly, você está linda. – elogiou Noah.
– Acho melhor você ficar longe do Luke, eu vi como ele te olhava hoje no clube. – disse Mellanie.
– Eu não pretendo ficar perto de ninguém a não ser de vocês. – eu disse.
– Hoje vamos nos divertir Lilly, e você também. – garantiu Noah.
Noah, Mellanie e eu entramos em seu luxuoso sedan e fomos para a tal festa. Haviam se passado pouco mais de quinze minutos quando Noah parou o carro em frente a uma casa simples e de cores claras. Alguns carros já estavam estacionados na entrada. O som da música não era tão alto como nas festas da faculdade. Pouco se ouvia do lado de fora. Saímos do carro e fomos em direção à entrada. Mellanie deu duas batidas na porta e a abriu.
Percebi que algumas pessoas que estavam no clube esta manhã, também estavam ali. Fiquei nervosa e com medo de cochichos a meu respeito. Na faculdade muitos me chamavam de louca por causa dos ataques de pânico. Mas eu não estava mais na faculdade e o mundo aqui fora, poderia ser ainda mais perigoso.
– Mel, Noah, que bom que vieram. – disse uma loira de pele bronzeada. – E essa deve ser a famosa Lilly.
– Oi. – eu disse timidamente.
– Lilly não é muito de falar com pessoas que ela não conhece Paige, ela não fica à vontade. – explicou Noah.
– Ah para com isso. – falou Paige. – Você em breve vai se enturmar com o pessoal. São todos muito legais, bom, quase todos.
Paige abriu um grande sorriso e segurando minha mão seguiu casa adentro, me mostrando todo o ambiente enquanto Mellanie e Noah vinham atrás. Fomos até os fundos da casa, lá havia mais pessoas reunidas em pequenos grupos. Ela nos levou até a mesa em que Luke Svenson estava com alguns amigos.
–Uau, qual o nome dessa visão maravilhosa que você trouxe Paige? – falou um garoto que aparentava ter mais ou menos vinte e dois anos. Ele era branco de cabelos cor de bronze e de estatura mediana.
– Cala a boca Danny, acho que você já bebeu demais. – rebateu Paige.
– Vai se juntar nós Lilly? – Perguntou Luke. – A Mellanie e o Noah sempre ficam com a gente.
– Talvez. – respondi. – Vou esperar para ver o que a Mel vai decidir.
– Lilly, eu vou pegar uma bebida para você e já volto. – Disse Paige.
– Eu não bebo. – falei, mas ela já havia partido.
Luke e Danny ficaram olhando para mim enquanto meu olhar se perdia na multidão procurando Mellanie.
– Lilly, nós conversamos bastante hoje cedo, ainda não confia em mim? – indagou Luke.
– Ela não confia em ninguém que não conhece bem. – disse Noah ao se aproximar com Mellanie a seu lado. – Eu havia dito isso a você mais cedo.
Não havia percebido que estava segurando o ar por tanto tempo. Soltei o ar preso, relaxando.
– Eu não gosto muito de conversar. – Respondi olhando para meus pés.
– Lilly, trouxe uma mimosa para você. – disse Mellanie me entregando o copo. – Pode beber à vontade, tem mais suco que álcool aí. – Disse baixinho só para eu ouvir.
– Por que vocês a tratam como um bebê? Ela já é bem grandinha. – comentou Danny.
– Eu tenho um distúrbio parecido com agorafobia. As vezes tenho ataques de pânico. – expliquei.
– Ela não é um bebê Danny, nós simplesmente nos importamos com a situação dela. – Mellanie ficou desconfortável com o comentário.
Danny levantou as mãos como quem se rende e calou a boca. A noite continuou calma e fresca. A festa estava legal e tranquila. Eu ouvia a conversa a minha volta, mas raramente me entrosava. Vez ou outra, Luke esbarrava os pés nos meus e esboçava um sorriso sarcástico. Eu evitava suas provocações, mas não conseguia deixar de sorrir com alguns de seus comentários idiotas.
– Com licença, eu preciso ir ao banheiro. – eu disse.
– Eu vou com você. – Mellanie se ofereceu.
– Não precisa Mel. Está tudo bem.
– Tem certeza?
– Fica com seu celular perto, qualquer coisa eu te ligo.
Eu não gostava de andar sozinha em um ambiente ao qual eu não estava familiarizada. Não conhecia muitas pessoas aqui e o banheiro ficava do outro lado da casa. Andei depressa e sempre olhando para baixo. Esse medo de conversar com as pessoas algum dia teria que parar. Encontrei o banheiro assim que virei um
corredor. Essa parte da casa estava vazia, o que me deixava mais calma. Entrei no banheiro e tranquei a porta. Minha bexiga parecia que ia explodir.
Depois de fazer xixi fui até a pia, lavei as mãos, me olhei no espelho e passei um pouco de gloss. Saí do banheiro e me deparei com Luke Svenson apoiado no batente da porta.
– Oi. – disse ele.
– Oi. – respondi, olhando em seus olhos.
– Me desculpe, eu sei que não devia ter vindo atrás de você, mas você tem alguma coisa especial. Eu não sei o que é e não quero te deixar mais assustada, mas você me deixa, sei lá, estranho.
– Como assim estranho? – indaguei já sentindo meu coração acelerar, e não de um de um jeito bom.
– Sinceramente, eu não sei. Lilly, você já foi...quer dizer, alguém já beijou você?
– Eu nunca deixei ninguém se aproximar ao ponto de me beijar. – respondi sinceramente. Se ele soubesse, sentiria nojo de mim.
Luke passou uma das mãos pelo meu rosto numa carícia quase erótica. Seus dedos passearam pelos meus lábios e desceram lentamente até meu pescoço. Minha respiração ficou mais rápida com o toque dele. Ele deixava um rastro de calor por onde seus dedos passavam.
– Me deixa te beijar doce Lilly? – perguntou.
– Eu não sei como. – senti meus batimentos cardíacos começarem a se intensificar. Parecia que meu peito ia explodir.
– A sua inocência é tão doce que me deixa apreensivo.
– Eu tenho que ir, a Mel deve estar preocupada por eu estar demorando.
– Eu disse à Mellanie que ia buscar uma bebida e viria aqui para ver se você estava bem, ela confia em mim.
Meu corpo começou a tremer. Não sabia se eu podia confiar nele. Ele não me deixava sair dali e eu já estava ficando assustada. Luke se aproximou mais me obrigando a me apoiar na parede. Ele envolveu meu cabelo com uma mão e segurou minha cintura com a outra. Aos poucos seus lábios roçaram os meus e Luke invadiu minha boca com a dele. Seu corpo pressionou o meu contra a parede e seu beijo ficou mais urgente, intenso.
Lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto. Eu estava assustada e não conseguia me mover. Quando nossos lábios se separaram, aproveitei um segundo de distração de Luke, o empurrei e saí correndo. Cheguei à porta de entrada e saí da casa. Fui para perto do carro de Noah e fiquei ali, tentando respirar, enquanto lágrimas torrenciais escorriam de meus olhos. Um casal estava dando uns amassos atrás do carro e eu reconheci a garota, era Paige. Ela me viu e veio até mim.
– Lilly, você está bem?
– Eu só preciso de um pouco de ar fresco.
– Ah meu deus, você está chorando. O que houve?
– Está tudo bem Paige, não precisa se preocupar comigo.
– De jeito nenhum. Kurt, eu preciso que você traga a Mellanie aqui agora. – Disse Paige ao rapaz que estava com ela e ele imediatamente fez o que ela pediu.
– Lilly, o que aconteceu lá dentro? – Perguntou Paige novamente. Ela era muito parecida com a Mellanie. Não na aparência, mas nas atitudes. Minha amiga sempre me falava dela quando estávamos na faculdade.
– Luke me beijou.
– Ah não. Aposto que ele foi um cretino e falou alguma coisa ruim para você.
– Não. Ele foi legal, mas a intensidade do beijo me assustou. Quase tudo me apavora. Hoje mais cedo no clube, eu tive uma crise de pânico porque a água da piscina estava muito gelada. – O tremor no meu corpo só aumentava e minhas pernas começaram a parecer gelatina. Me apoiei no carro para conseguir ficar em pé.
– Calma Lilly. Me desculpe, mas eu não sei o que fazer para ajudar. A Mel já está vindo.
– Me desculpa te incomodar, eu só faço mal às pessoas. – minhas lágrimas rolaram novamente.
Paige se aproximou para me abraçar. Ela ficou meio receosa no começo, mas depois chegou mais perto e me deu um forte abraço. Mellanie chegou em seguida e me tomou dos braços da Paige.
– Calma querida, calma. Respira fundo e me conta, o que houve? – Perguntou Mel enquanto eu chorava de soluçar.
– Luke a beijou à força. – respondeu Paige.
– O quê? – Mellanie estava furiosa. – Eu disse para ele ficar longe dela.
– Senti que havia voltado ao que aconteceu quando ele me prendeu contra a parede. – eu disse entre lágrimas.
– Aquilo nunca mais vai acontecer de novo Lilly, Noah e eu estamos aqui para te proteger.
– Não quero ser um peso para vocês Mel. Amo vocês demais para deixar isso acontecer.
– Deixa disso. – Mellanie parecia furiosa. – Noah precisa resolver uns assuntos com a Meg e vai para a casa dela. Eu estou com as chaves do sedan, você vai ficar melhor em casa.
– Não precisa ir embora por minha causa Mel. Eu te espero aqui.
– Se eu ficar mais um segundo aqui, amanhã almoçaremos picadinho de Luke Svenson.
Mellanie sempre falava a coisa certa. Sempre me fazia sorrir. Ela era minha melhor amiga. E sabia que eu valorizava isso. Agradecemos Paige pela ajuda e entramos no carro para ir embora.
LUKE
Eu deveria ter ido atrás dela, mas estava paralisado. Seu beijo era doce, inocente. Em algum momento durante o beijo eu me perdi. Me perdi nela, no seu cheiro, nos cabelos macios. Eu a conheci hoje, não poderia estar tão vidrado nela.
– Luke, o que você fez com a Lilly? – perguntou Noah em tom acusatório.
– Nós nos beijamos. – Respondi. – Não aconteceu nada demais.
– O que? Você a beijou? Mesmo depois da Mellanie ter falado que não era para você se aproximar dela?
– Eu não sei o que deu em mim, e afinal, por que está tão irritado? Foi só um beijo.
– Para você. – gritou Noah. – Vou te avisar apenas mais uma vez, fique longe da Lilly.
– Por quê? – indaguei irritado. – Por um acaso você a quer para você? Pensei que estivesse com a Meg.
– Eu estou com a Meg seu cretino. A Lilly é como uma irmã para mim, você não a conhece. Fique longe dela. Esse é meu último aviso.
Noah se virou e foi embora, eu devia ter ido atrás dele. Devia ter dito que eu não queria fazer mal a ela, que eu apenas não sabia o que havia acontecido. Minha mente estava confusa. Eu precisava ir embora e tentar dormir um pouco.