
Os Demônios de Lilly
Titulo do capítulo: Capítulo 3
Autor: Mille Meiffield
Capítulo 3
LILLY
Mellanie me trouxe para casa e ficou comigo até achar que eu havia dormido. Como eu sempre queria poupá-la, fingi acalmar minha respiração, até ela ter certeza de que eu dormira.
Assim que fiquei sozinha me levantei e fui até o banheiro. Bebi um analgésico para melhorar a dor de cabeça que começava a despontar e um antidepressivo para tentar relaxar. Tirei as roupas, enchi a banheira com água bem quente e entrei. Deixei meu corpo relaxar naquela água quentinha. Derramei um pouco dos meus variados sais de banho e metade de um pequeno potinho de óleo hidratante. O aroma desses produtos misturado ao das velas aromáticas atenuava o estresse.
Após quase uma hora no banho, me levantei, peguei a toalha que estava pendurada no cabide e me sequei metodicamente. Precisava manter a mente ocupada. Beijar Luke me deixou ansiosa e estressada. Ele era lindo. Seu beijo foi saboroso, não posso negar. Mas como ficar com alguém depois do que aconteceu durante boa parte da minha vida? Nem Minha melhor amiga sabia de todos os horrores que eu havia passado. Ninguém poderia saber. Era humilhante e vergonhoso demais.
Eu precisava pensar. Pôr a cabeça em ordem. Eu raramente achava algum rapaz da faculdade gostoso, ou me sentia atraída por ele. Sempre vivi na zona de conforto. Passei despercebida por todos os anos da faculdade. Ninguém me notava, ninguém sequer sabia que eu existia, ninguém exceto Mellanie e Noah. Uma
batida na porta me tirou de meus devaneios.
– Pode entrar.
– Oi. – Noah entrou no quarto e sentou na minha cama. – Eu tive uma pequena
conversa com Luke. Você está bem?
– Ele não fez nada demais Noah. Você e a Mel já deveriam ter me amarrado numa camisa de força e me largado no primeiro sanatório que aparecesse.
– Você não é louca Lilly, apenas passou por coisas demais. Nós vamos te ajudar até você conseguir se sentir confortável com outras pessoas.
– Nem imagino como eu posso agradecer. – eu disse, apoiando minha cabeça em seu peito. Noah me envolveu em seus braços e
acariciou meus cabelos.
– Se tornando uma garota feliz. Arrumando um namorado e finalmente deixando aquele passado horroroso para trás.
Fiquei encarando Noah. Minhas palavras se dissiparam e o ar silencioso começou a incomodar. Ele pegou uma pequena mecha de cabelo que estava na frente do meu rosto e a acomodou atrás de minha orelha. Seus lábios estavam muito próximos aos meus. Seu hálito era fresco e marcante. Em um impulso puxei a camisa de Noah e o beijei. A boca dele se abriu para a minha enquanto minhas mãos exploravam minuciosamente sua nuca. Meus dedos se embolaram em seus cabelos e
os dele nos meus. Uma sensação estranha e diferente tomou meu corpo. Uma parte de mim que eu nunca havia tomado conhecimento despertou. Meu corpo ardia,
parecia em chamas. Meu mundo congelou quando Noah se afastou.
– M–me desculpe. – meu corpo começou a tremer. – E–eu não devia ter feito isso.
– Calma Lilly, está tudo bem. Vem cá.
Noah me abraçou e eu fique em seus braços até meu corpo parar de tremer. Eu estava assustada comigo mesma. Essas estranhas sensações. Eu nunca senti nada parecido em toda a minha vida. Nunca fiz amor com ninguém, embora eu não seja mais virgem, amor, eu nunca conheci. Minha intimidade estava úmida e latejante e tentar me acalmar nos braços de Noah estava se tornando algo difícil. Respirei fundo algumas vezes para me aclamar.
– Noah, por favor, eu posso ficar um pouco sozinha?
– Claro. – disse ele preocupado. – Estarei no fim do corredor e a Mel está bem aqui ao lado, se precisar de algo é só chamar.
Ele me deu um beijo na testa e partiu. Desliguei as luzes, peguei minha venda de camomila para relaxar e a coloquei sobre os olhos. Me ajeitei na cama,
desliguei o abajur e me entreguei ao sono.
Acordei me sentindo estranha. Diferente. Algo havia mudado dentro de mim.
Lembrar do beijo que eu dei em Noah ontem me fez sentir um certo medo de sair do quarto. O que deu em mim? Noah é meu melhor amigo, como um irmão. Eu gostei do beijo, mas foi diferente do beijo com Luke. O gosto do beijo de Luke fez uma corrente elétrica atravessar meu corpo, o de Noah simplesmente mexeu com minha vontade reprimida.
– Bom dia Lilly – Cumprimentou Mellanie ao entrar no quarto. – Eu fiquei preocupada quando não te vi à mesa do café. Meu irmão e eu vamos ao clube para um brunch com alguns amigos. Acho que ainda dá tempo de você tomar um banho para ir com a gente. Vai ser legal, vamos?
– Vai ser legal como a festa de ontem? – Indaguei.
– Luke não vai estar lá, e Noah disse que você não deve ficar envergonhada pelo que aconteceu ontem.
– Ele contou a você? – Afundei meu rosto em minhas mãos. Eu estava mais do que constrangida pelo fato de ter beijado Noah.
– Lilly, está tudo bem. – Disse Mellanie condescendente. – Sei dos seus medos, mas comigo e com meu irmão eles não tem razão de acontecerem.
– Ah Mel, se você soubesse.
– Seu eu não percebi alguma coisa, então me conta. Lilly, somos mais que amigas e se você está gostando do Noah, mesmo ele sendo meu irmão não tem por que você me esconder isso, certo?
– Eu não estou gostando do Noah, estou gos...
– De quem? – pressionou Mellanie. – Ah Meu Deus! Você está gostando do Luke? Não imagino que seja outra pessoa já que você não conhece mais ninguém na cidade.
– É estranho. – Admiti. – Eu não deveria ter beijado o Noah, não sei por que fiz isso, mas foi diferente com o Luke. Mel, quando a gente gosta do beijo de
alguém realmente sentimos uma corrente elétrica passar por nosso corpo? Eu senti isso com Luke.
– Lilly, você já pensou que um dia alguém vai despertar seu coração? Você vai ter que deixar acontecer. Tudo o que eu quero é que você seja feliz, então levanta logo essa bunda branquela daí e vai tomar um banho. Te espero lá embaixo em vinte minutos.
***
Mellanie estacionou o carro numa vaga próxima ao prédio principal, onde funcionava o restaurante do clube. Entramos no prédio e ela me guiou para uma mesa onde estavam Paige e mais duas meninas. Nenhum sinal de Luke e como Noah teve um compromisso de última hora e não nos acompanharia mais ao clube, o dia prometia ser tranquilo e sem ataques de pânico.
– Paige, espero que tenha pedido dois daiquiris a mais. Sabe que odeio esperar.
– Claro Mel, e você não odeia esperar, apenas finge que odeia para perturbar o pobre Seth. – respondeu Paige.
– Ele continua caidinho por você querida, acho que você deveria dar uma chance a ele.– Disse uma morena que estava ao lado de Paige.
– Claire, e sua história com o Garry? Achei que tivesse ido à Califórnia com ele.
– Garry e eu terminamos. – Disse Claire fingindo sofrimento. – Ele preferiu uma morena com os seios grandes a uma loira inteligente.
– Sinto muito por isso, na verdade, não sinto não. Você está muito melhor sem aquele idiota.
– E você Lilly? – perguntou Paige. – Como está depois de toda a história com o Luke?
– Normal, afinal todo mundo se beija hoje em dia.
– Josh viu vocês se beijando e disse que foi uma cena típica de filme de romance. – Disse a outra garota, sei que a conheci, mas não me recordo seu nome.
– Kathleen, Luke beijou Lilly à força. – Mellanie me defendeu.
– Na verdade eu também correspondi ao beijo Mel.
– E como foi garota? – indagou Claire. – Luke não namora ninguém desde a morte da Lisa.
– Quem é Lisa? – perguntei.
– Lisa é a falecida noiva de Luke. Desde que ela morreu em um trágico acidente de carro há dois anos, ele nunca mais namorou ninguém. Ele apenas levava as garotas para o quarto e depois de algum tempo as dispensava. – continuou Kathleen.
– Eu acho que ele gosta de você Lilly. – Afirmou Claire.
–Não é uma boa. Eu não sou a namorada adequada para ninguém.
– Claro que é! – Rebateu Claire, enquanto Paige e Mellanie cochichavam em particular. – O que você tem fumado garota? Você é linda. Esse belo par de olhos verde esmeralda, esses cabelos negros compridos e essa pele pálida fazem de você uma mulher belíssima.
Olhei para as meninas à minha frente e vi que estavam encarando alguma coisa atrás de mim. Me virei instintivamente e meu coração simplesmente gelou. Luke Svenson estava vindo em nossa direção. Voltei minha atenção às meninas e vi que Mellanie me olhava cautelosa.
– Olá meninas. Bom dia. – cumprimentou. – Vejo que estão se divertindo. – ele olhou para mim por um segundo mais do que o necessário. – Podemos conversar em particular por um momento Lilly? – Perguntou. Seu sorriso se expandiu mostrando lindas
covinhas em seu rosto.
– Eu não sei se deveria. – Olhei para Mellanie procurando uma ajuda e ela apenas deu de ombros.
– Prometo que será uma conversa agradável, não precisa ter medo de mim.
– Eu não tenho medo de você. Como já lhe disse, tenho medo de mim mesma.
– Devolvo você para suas amigas em dez minutos, por favor?
– Tudo bem.
– Lilly! – chamou Mellanie. – Está com o celular?
– Tenho o seu número na discagem rápida há quatro anos Mel, obrigada.
Me levantei e enlacei meu braço ao de Luke. Fomos caminhando até seu escritório. Ele abriu a porta e me convidou a entrar. Quando fechou a porta, sua fisionomia mudou, ele não sorria mais, seus olhos encontraram os meus. Seu olhar era uma miscelânea de sentimentos. Ele me encostou na parede e apoiou seus braços de modo que não havia mais espaço pessoal. Seu hálito era doce e fresco como na primeira vez. Eu o fitei apreensiva. Senti meu coração começar a disparar e não de uma maneira positiva. Um ataque de pânico estava a caminho e eu respirava profundamente tentando me acalmar.
– Não precisa ter medo de mim Lilly. – Disse ele finalmente. – Eu não vou beijar você novamente.
– Por que não? – perguntei antes que pudesse tapar a boca.
– Você quer? – perguntou curioso.
– Eu não sei. Não sei quem eu sou. E enquanto não descobrir isso, gostaria que você ficasse longe de mim.
– É isso que você realmente quer?
– Eu já disse que eu não sei. – Gritei. – Mais que droga!
Lágrimas romperam as barreiras de meus olhos e escorreram pelo meu rosto. Luke se aproximou mais e beijou a linha que elas deixavam ao cair. Eu respirei fundo mais uma vez e virei meu rosto para sentir seus lábios se apoderando dos meus novamente. Sua boca explorava a minha com beijos ávidos. Ele prendeu meu quadril contra a parede apenas usando seu quadril. A sensação de eletricidade percorrendo meu corpo voltou. Eu sentia necessidade de algo que nunca conheci. Sentia uma queimação agradável e suplicante bem abaixo do meu ventre. A mão livre dele percorreu minhas costas e subiu pela lateral de meu corpo. Hesitante ele acariciou vagarosamente a lateral de um dos meus seios e foi se apoderando dele pouco a pouco. Ele me dava espaço para assimilar o que estava acontecendo e me fazia sentir segura ao seu lado. Havia apenas dois dias que nos conhecíamos e pareciam anos.
Seus lábios soltaram os meus devagar e ele me dava leves beijos até meus olhos se abrirem e me trazerem de volta de um torpor repleto de novas sensações.
– Me perdoa Lilly. – Ele me abraçou forte. – Por favor, não fique com medo de mim. Ontem, depois do nosso beijo, eu conversei com Noah. Ele não me disse seu segredo, mas disse que há um motivo para você ter se assustado com o beijo. Sei que mal nos conhecemos, mas eu quero te conhecer mais. Eu preciso te conhecer mais.
– Quando você vai entender que o medo que eu tenho é de mim mesma?
– Quando você me disser do que tem tanto medo de verdade.
– Eu não posso. E–eu preciso ir.
Saí do escritório de Luke me sentindo trôpega. Me encostei na parede e tomei fôlego. Caminhei até a mesa em que estávamos e me sentei. Só Mellanie e Paige continuavam lá. Olhei para ambas, abaixei a cabeça e chorei.