Prometida ao Tempo

Titulo do capítulo: A insana busca

Autor: Corine Guenièvre

Dana acordou com os raios suaves do sol invadindo seu quarto, iluminando o ambiente e trazendo uma sensação acolhedora. No momento em que abriu os olhos, foi tomada pelas lembranças da noite anterior, uma noite regada de paixão e fervor com um desconhecido. Ao sentar-se na cama, ela percebeu que Charles já não estava mais presente em seu apartamento. No entanto, seu coração deu um salto de surpresa ao notar um bilhete carinhoso ao seu lado e um delicioso café da manhã cuidadosamente preparado sobre a mesa do quarto. Aquele gesto atencioso a deixou completamente intrigada.

Ela serviu com uma xícara fumegante de café, refletindo sobre a noite anterior e sobre o quanto Charles se preocupou exclusivamente com seu prazer. Era incomum e raro encontrar alguém tão atencioso e dedicado a satisfazer o desejo do outro, especialmente em encontros casuais. Essa demonstração de cuidado a deixou curiosa sobre de onde poderia ter vindo aquele homem.

Diana lia e relia o bilhete, pois as palavras escritas ali com uma bela caligrafia tocavam seu coração e sua mente ao mesmo tempo. Ele agradecia a noite maravilhosa que tiveram juntos e revelava o quanto ela o havia surpreendido. Charles deixava claro que a ausência era temporária, mas também respeitava o espaço que Diana deveria querer para decidir se desejava continuar o contato com ele. A sinceridade contida na mensagem despertava a confiança e também a dúvida em seu coração.

Enquanto saboreava o café e lia o bilhete pela última vez, Diana sentia-se dividida entre atração e cautela. A sensação de ter sido tão valorizada em uma noite de paixão fugaz era avassaladora, porém, também a deixava com certa apreensão. Olhando em volta, Diana percebeu que muitos questionamentos foram surgindo em sua mente. Mas a principal pergunta foi: como ele poderia ter sentimentos tão gentis e preocupados? Diana sabia que a única maneira de responder a essa pergunta seria se aventurar mais fundo no desconhecido.

Apesar da incerteza que pairava no ar, Diana decidiu dar uma chance para essa descoberta. Ela se viu disposta a abrir-se para a possibilidade de algo especial, uma conexão genuína com aquele estranho que despertou nela um turbilhão de emoções. Por fim, ela decidiu que sim, iria agir em prol de saber tudo sobre Charles Denbora. 

Desesperada e ansiosa pelo novo, Diana se apressou em se arrumar após lembrar do fato principal. Charles, o homem misterioso com quem havia compartilhado uma noite inesquecível, afirmava ser um dos sócios da empresa onde ela trabalhava. A esperança de revê-lo e entender mais sobre esse relacionamento repentino fez com que ela ignorasse o restante da sua rotina matinal habitual.

Enquanto vestia seu melhor conjunto de roupas profissionais, Diana repassava mentalmente todas as possibilidades de onde e como poderia encontrar Charles no escritório. Seu coração batia acelerado, uma mistura de antecipação e insegurança dominava seus pensamentos.

Ao sair apressadamente de seu apartamento, Diana estava determinada a investigar cada canto do escritório em busca de respostas. Afinal, como um suposto novo sócio da empresa, ele já deveria estar sendo falado por todos. Ela pensou que encontraria um homem de fibra, talvez sentado em uma sala luxuosa ou rodeado de funcionários em uma reunião importante.

No entanto, ao chegar ao escritório, Diana percebeu que as coisas não seriam tão simples. Os corredores estavam movimentados, com funcionários indo e vindo em suas tarefas diárias, mas não havia nenhum sinal de Charles. A lista de sócios, por sua vez, era extensa e cansativa, mas mesmo assim não tinha o nome que ela buscava.

Desapontada, Diana consultou a planilha de funcionários da empresa, procurando qualquer menção a um sócio chamado Charles. Para sua surpresa e desânimo, não havia ninguém com esse nome nas posições de liderança. Uma sensação de desconforto tomou conta de Diana. Ela se sentiu tola por ter sido enganada ou mal interpretada pelas palavras de Charles. Sua mente foi invadida por uma guerra de dúvidas e questionamentos sobre a real identidade do homem com quem se envolveu. Seria possível que tudo tivesse sido uma mentira cuidadosamente arquitetada?

O mundo ao seu redor se tornou embaçado enquanto Diana tentava assimilar a decepção. Sentindo-se vulnerável e confusa, ela se resignou ao fato de que talvez nunca descobrisse a verdade sobre Charles.

Enquanto continuava seu dia de trabalho, Diana tentava se concentrar nas tarefas diárias, mas sua mente vagava constantemente para aquela noite apaixonada. Ela se questionava sobre suas próprias decisões e sobre a natureza fugaz dos relacionamentos em sua vida. A noite linda de amor com Charles tornou-se uma memória agridoce, misturando prazer e incerteza que a deixava inquieta. 

— E então? O bonitão e bom de cama não apareceu ainda? — Luzia perguntou.

— Estou começando a acreditar que eu enlouqueci e ele nunca existiu.

— Não seja tola, vocês são o assunto do momento. Só se todos aqui tiveram a mesma imaginação que a sua. — A amiga riu do olhar desconfiado de Diana. — Relaxa, garota. Ele vai aparecer.

Diana suspirou, permitindo que um pequeno fio de esperança se infiltrasse em sua desilusão. Ela sabia que Luzia estava tentando confortá-la, mas a ideia de que o homem desconhecido que a conquistara tão intensamente pudesse realmente aparecer ainda parecia distante demais.

Enquanto as horas se arrastavam, Diana se viu mais incapaz de se concentrar em suas tarefas de trabalho. Sua mente estava constantemente voltada para a possibilidade de Charles surgir de repente em algum lugar do escritório. Ela vasculhava cada corredor, olhava em cada sala de reuniões, procurando por qualquer sinal de que o encontro deles não havia sido apenas um sonho.

Essa situação também deixava Diana frustrada consigo mesma, pois sua obsessão por alguém com quem ficou apenas por algumas horas estava saindo da realidade. Era como se aquele homem tivesse um poder enigmático e fantasioso sobre ela. Como se realmente fosse algo da sua imaginação. Luzia, percebendo o estado de ansiedade de Diana, decidiu intervir. Colocando uma mão em seu ombro, ela sorriu encorajadoramente.

— Não se preocupe, amiga. Acredite, se ele realmente se importou o suficiente para deixar um bilhete e um café da manhã para você, ele definitivamente aparecerá. Talvez ele só esteja esperando o momento certo.

Apesar das palavras reconfortantes de Luzia, Diana não conseguia silenciar completamente suas dúvidas. Ela ainda se questionava se Charles havia sido sincero ou se tinha apenas brincado com seus sentimentos e desaparecido. O turbilhão de emoções estava começando a esgotá-la. O resto do dia passou lentamente, cheio de olhares furtivos e momentos de distração. Diana tentava se convencer a não criar expectativas, mas, ao mesmo tempo, sentia uma necessidade urgente de descobrir a verdade.

Finalmente, quando o dia de trabalho chegou ao fim, Diana preparou-se para deixar o escritório com um misto de decepção e resignação. Ela fez um último esforço para se reconciliar com a possibilidade de que talvez nunca mais visse Charles e seguiu em direção à saída.

⏳⏳


Enquanto Diana procurava por Charles na terra, nos confins do cosmos, o Deus Tempo caminhou apressadamente pelas estrelas. Seu rosto refletindo preocupação, pois ouviu notícias preocupantes vindas da milésima que sempre estava ao lado de sua amada. A pequena criatura alada, com seu corpo reluzente e asas translúcidas, voou até ele para entregar a urgente mensagem. 

— A mãe Terra quer vê-lo, meu senhor e disse que se não for até ela virá até o palácio Milenar. 

Parecia que a Mãe Terra estava enfurecida com o Tempo, e ele sabia que a razão era por quebrar as regras do universo ao sair para ver Diana em uma festa humana, pois aquele evento ocorreu antes do tempo estabelecido para o encontro das suas almas. Isso com toda certeza desequilibrou as forças seculares e causou um caos momentâneo, fazendo com que a Mãe Terra se sentisse traída pelo filho do qual era mais próxima.

Ao receber esse recado durante a madrugada em que observava sua amada dormir tranquilamente e preocupado com as consequências desse rompimento, o Tempo soube que tinha que partir antes que Diana acordasse. Ele furtivamente tomou essa decisão para conter os danos maiores e correu para reparar o equilíbrio do universo. Milésimo, com seus olhos brilhantes e expressão preocupada, tentou tranquilizar seu mestre, porém, sem sucesso.

Diana, alheia a toda essa sequência de eventos, seguia suas buscas na Terra. Ela não tinha ciência do perigo que o Deus do Tempo enfrentou e do possível impacto em sua própria vida, afinal ela não sabia que Charles era muito mais do que um simples sócio de uma empresa. Um vazio inexplicável continuou a assombrá-la, enquanto seu caminho se cruzava com pessoas que sentiam a influência do Tempo desalinhado.

— Charles Denbora — a voz delicada que sempre estava em um tom acolhedor, naquele instante parecia insatisfeita e rude. Os portões revestidos de cipós e flores diversas se abriram para a presença adentrar os domínios daquela voz. Havia uma grande estátua de pedra sentada sentada em um trono também de pedra enquanto pássaros giravam ao redor da silhueta coberta por um tecido de seda branco. — Que nome peculiar. continue: 

— Diana gostou do nome Charles e precisei ser rápido com o meu sobrenome. Sabe o que é um sobrenome? Os humanos usam muito essa coisa. — Disse o Tempo que caminhou até a enorme mesa de frutas para se divertir com o banquete e os olhos da estátua o acompanharam. 

— Sem piadas, meu filho. Você infringiu a lei e foi ver quem ama antes do tempo certo. — A mãe Terra o repreendeu.

— Eu a amo muito, mãe. Sei que não deveria ter ido até ela, mas nunca consigo resistir. Quando a vejo pela primeira vez em cada vida nova, meu coração se enche daquela sensação poderosa e não consigo me controlar.

A mãe Terra olhou para Tempo com um misto de compreensão e preocupação. Ela sabia que o amor era uma força poderosa, mas também entendia as consequências de interferir com a vida humana.

— Tempo, o amor de vocês é milenar, mas também é delicado. Diana sempre escolhe a vida porque entende o seu propósito como ser divino, então precisa ter cuidado, meu filho. As emoções humanas são intensas e voláteis demais, e interferir com o tempo delas pode causar danos irreparáveis. Lembre-se de sua responsabilidade como guardião do tempo.

Tempo assentiu, com a expressão séria. Ele sabia que a mãe Terra estava certa e que precisava agir com cautela. Ele não queria causar sofrimento a Diana ou a qualquer outra pessoa.

— Eu entendo, mãe. Eu preciso ser cuidadoso e respeitar as leis. Mas, ao mesmo tempo, sinto a conexão profunda com Diana. Nosso destino sempre está entrelaçado e anseio por tê-la.

A mãe Terra olhou para ele, sentindo vontade de tocar seu rosto com carinho sem poder, pois ela era apenas uma presença que se comunicava através da grande estátua de pedra.

— O amor pode ser misterioso, Tempo. Às vezes, as pessoas estão destinadas a se encontrarem e compartilharem suas vidas. Mas, mesmo assim, é importante lembrar que o tempo tem seu próprio curso e não podemos controlar tudo. Confie no processo, confie no seu nome.

Tempo ouviu atentamente as palavras da mãe Terra, absorvendo cada uma delas. Ele sabia que, mesmo que amasse Diana, não estava acima das leis do universo. Ele precisava encontrar um equilíbrio entre seu amor por ela e suas responsabilidades como guardião do tempo.

— Eu tentarei, mãe. Vou respeitar as leis e agir com sabedoria. Encontrarei uma maneira de estar com Diana nos momentos certos, seguindo o curso natural das coisas.

A mãe Terra sorriu para ele, sentindo-se aliviada.

— Isso é tudo o que eu peço, meu filho. Esteja presente em seu amor, mas também seja respeitoso com o fluxo da vida. Confie em mim, tudo acontecerá no momento certo.

— Só não consigo entender... porque Diana nunca escolheu a eternidade ao meu lado? Ela sempre escolhe a vida e eu sou obrigado a vê-la viver e morrer diversas vezes. — O Tempo iniciou olhando para a mãe Terra. — Em todos os nossos encontros eu tento convencê-la a estar comigo e sei que ela me ama a ponto de querer isso, mas ela sempre escolhe continuar sendo humana e ela tão frágil. Porquê?

A mãe Terra suspirou e olhou carinhosamente para o Tempo. Ela entendia sua tristeza e frustração diante da situação.

— Meu filho, cada ser humano tem seu próprio caminho e suas próprias escolhas a fazer. A vida humana é efêmera e frágil, mas também é repleta de experiências e crescimento. Diana escolhe viver como humana porque é sua essência. Ela deseja continuar experimentando todas as suas emoções, aventuras e aprender as lições que só a vida humana pode proporcionar.

O Tempo balançou a cabeça, tentando processar as palavras da mãe Terra.

— Mas, mãe, eu posso oferecer tanto a ela. Poderíamos estar juntos para sempre, sem a passagem do tempo. Eu poderia lhe proporcionar a eternidade, o amor intenso e inalterado.

A mãe Terra olhou profundamente nos olhos do Tempo e segurou suas mãos com ternura.

— Tempo, o amor verdadeiro não é sobre possuir ou controlar o outro. É sobre respeitar e aceitar as escolhas daqueles que amamos, mesmo que essas escolhas sejam diferentes das nossas. Diana escolhe abraçar a vida humana e a efemeridade que a acompanha. Amar alguém é aceitar e apoiar suas escolhas, mesmo que às vezes isso traga dor e saudade.

O Tempo sentiu um aperto no coração, mas sabia que a mãe Terra estava certa. Ele também precisava aprender a aceitar as escolhas de Diana e a lidar com a saudade que acompanha o amor.

— Mesmo assim eu não a entendo, mãe. Mas preciso aceitar que Diana é uma alma livre e que ela vive de acordo com o seu próprio tempo. Vou continuar tentando respeitar as decisões que ela tomar e vou amá-la incondicionalmente, mesmo que isso signifique que nem sempre estaremos juntos.

A mãe Terra sorriu, orgulhosa da compreensão e amadurecimento do Tempo.

— Isso é o que o amor verdadeiro significa, meu filho. Amar é permitir que o outro siga o seu próprio caminho, mesmo que isso signifique que nossos caminhos nem sempre se cruzem. Lembre-se que, apesar de todo o tempo que passou, as memórias e os momentos compartilhados com Diana serão eternos em seu coração.


O Tempo assentiu com gratidão, sentindo-se reconfortado pelas palavras sábias da mãe Terra. Ele sabia que ainda havia muito a aprender sobre o amor e sobre como conciliar sua natureza com a dos seres humanos. Mas estava disposto a crescer, a amar incondicionalmente e a aceitar que o tempo e o amor nem sempre seguem o mesmo curso. Tempo assentiu mais uma vez, sentindo um vazio dentro de si. Ele sabia que não seria fácil controlar seus sentimentos, mas estava determinado a fazer o melhor para todos.

Enquanto ele voltava sua atenção para a mesa de frutas, os olhos da estátua de pedra continuaram a observá-lo. Tempo tinha uma missão pela frente, uma missão de encontrar uma forma de viver seu amor dentro das regras do tempo. Ele estava determinado a encontrar uma solução e preservar a harmonia entre o amor e a passagem da vida.

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