
QUEM ME BEIJOU?
Titulo do capítulo: QMB - CAPÍTULO DOIS
Autor: Sandra Lymah
Chego na porta da sala em que Alek está me aguardando, ainda pensando, me perguntando por que cargas d´água, ainda não me divorciei de Eli. Abro a porta e o assunto some de minha mente. Alek está de pé próximo à janela, com um semblante sereno e pensativo, de lado para mim, em toda a sua majestosa beleza e eu o fico admirando por alguns segundos.
“— Ah! Se eu fosse solteira!” — suspiro mentalmente, imaginando-o ao meu lado em vez de Eli.
— Boa tarde. — ele fala sem se virar, me tirando de meu devaneio e prossegue, sem esperar uma resposta. — Você já imaginou para onde cada pessoa está indo, quando olha por uma janela? — ele me olha nos olhos.
— Confesso que eu nunca parei para ficar pensando nessas coisas, Alek. — respondo me recompondo. — Pensando bem, acho que não olho muito pela janela.
— Venha! — ele me estende a mão, sorrindo. — Olhe comigo.
Sem pensar, coloco o bloco de notas eletrônico e estendo a mão indo até ele. Ele pega a minha mão, entrelaçando os seus dedos nos meus e me puxa até que eu fique perto a ponto de nossos ombros se tocarem levemente. Observo os carros passando dez andares abaixo de nós.
— Está vendo aquele táxi? — ele me pergunta e eu assinto. — Pode ser um encontro de negócios, pode ser alguém indo fazer compras ou indo para a escola, — ele suspira – fugindo de uma entrevista para um reality show... bem, há uma infinidade de opções. Você já imaginou saber o que acontece em cada carro que passa por você quando está na rua? O propósito de cada um? De ao menos um?
— Não. Na verdade, não. — suspiro tentando acompanhar seu raciocínio. — Mas, por que você pensa nisso? — desvio o olhar para sua boca e depois para os seus olhos.
— Eu acho que é um hábito... um vício. — ele ri baixinho. — Desde quando eu era novo, eu me imaginava dentro de vários carros que passavam por mim e imaginava o que eu estaria fazendo, para onde eu estaria indo. Principalmente quando eu estava nervoso, eu fazia isso... e ainda me pego fazendo até hoje.
— Você está nervoso? — franzo as sobrancelhas.
— Promete que não vai contar para ninguém? — ele olha intensamente em meus olhos, como se avaliasse até onde poderia confiar em mim.
— Prometo que se depender de mim, ninguém vai saber o que estamos conversando antes da entrevista. — ele estreita os olhos para mim. — E nem depois! — emendo sorrindo.
— Estou apavorado! Se essa coisa toda der certo, eu saio daqui casado, não é? — assinto para ele. — Isso quer dizer que eu posso ter minha vida toda redefinida por um programa de televisão! Um reality show com o poder de transformar a minha vida em outra, completamente diferente!
— Eu sei o que esse programa tem esse poder, mas confesso que não tinha pensado com toda essa... significância, até agora. Mas olha só, é por isso que fazemos todas essas entrevistas até termos certeza de que você está preparado para começar. — sorrio para ele. — E você não é obrigado a sair daqui casado, Alek. Sabe disso, não sabe? Você não tem que agradar ao público e nem a nenhuma das candidatas. Só tem que agradar a si mesmo! — ele me sorri de volta.
— É por isso que eles mandaram você? Para me tranquilizar? — ele amplia o sorriso.
— Não. Eles nem sabem que eu tranquilizo os participantes. — rio baixinho, ainda nervoso. — Não conte para ninguém, ou eles me tiram das entrevistas. — ele ri, se descontraindo. — Vamos ao seu tempo, está bem? Começamos a entrevista quando você estiver pronto. — ele assente.
— Estou pronto, graças a você. Obrigado! — ele estende a mão apontando para a mesa e as cadeiras. — Depois de você, Sue.
— Sinta-se à vontade para pular as questões que não souber como ou que não quiser responder, está bem?
— Está bem. — ele concorda.
— Eu tenho que abrir esse programa de questionamento me apresentando, tá? — falo preparando o programa. — Boa tarde, Alek. Meu nome é Sue e vou conduzir essa que, provavelmente, será sua última entrevista antes de começarmos as gravações e o ao vivo da próxima edição de “Quem Me Beijou?”. Se por algum motivo você quiser desistir do programa, sinta-se à vontade para me falar, está bem?
— Sim, Sue. Está bem.
— Por que você quis participar do “Quem Me Beijou?”, Alek?
— Porque eu estou cansado de pessoas que se aproximam de mim, por causa de dinheiro e fama. — ele suspira. — Eu quero conhecer alguém que realmente me enxergue, que veja quem eu sou por dentro.
Eu sei que essa é sempre a resposta de todas as celebridades masculinas que vêm participar, mas algo no tom de voz dele, realmente me toca. Consigo sentir a mágoa pesando em cada uma de suas palavras. O programa me dá a oportunidade de inserir minha própria pergunta ou seguir para a próxima programada, então formulo uma.
— Você se apaixonou por alguém e se machucou, Alek? — sinto sua mão em cima da minha e percebo que coloquei a mão em seu braço.
— Tenho que agradecer por não ter sido profundamente em nenhuma das três vezes, ou eu teria me cegado para a verdade, não é? — ele sorri tristemente. Aperto levemente seu braço, assentindo.
Continuo com as perguntas que o programa vai disponibilizando, e essa foi a entrevista mais longa pré-programa de Alek. Quase duas horas de duração, mas ao chegarmos no final, ele estava bem relaxado e pronto para começar as gravações.
Acompanho Alek até a limousine que o levará de volta ao hotel de confinamento, ele me abraça e agradece por tê-lo ajudado a relaxar, antes de dar um beijo em minha testa e entrar no carro de luxo.
Fico ali parada no estacionamento do prédio, observando o carro se afastar, levando Alek. Só depois que o carro some, depois de passar a cancela, me viro e começo a caminhar lentamente para o elevador, perdida em pensamentos sobre a minha vida. Imagino se, mesmo não ganhando tanto dinheiro quanto Alek, não tenha sido esse o motivo de Eli ter se casado comigo, e se eu fui ingênua o suficiente para não perceber.
Suspiro entrando na sala de descanso do décimo segundo andar, onde também fazemos relatórios e conversamos sobre novas ideias para o programa, em reuniões informais, a sala está vazia. Me sento em uma poltrona e abro a última entrevista de Alek e a envio para Chris, que me manda uma mensagem dizendo que teremos uma reunião em seu escritório em trinta minutos.
A sala de Chris é bem ampla e cabe pelo menos umas vinte pessoas para uma reunião rápida ou não, quando ele não quer usar a sala de reuniões. Definimos alguns tópicos do reality, além de quem comanda o que, no palco central.
Phill ficou responsável pela trilha sonora e cortes de propaganda e terá oito assistentes. Lisy comanda a movimentação do palco com doze assistentes e eu, comando as câmeras com dez assistentes.
— Chris, por que você quis selecionar a Sharon para a décima segunda candidata no palco? — pergunto a ele quando Lisy e Phill saem da sala.
— Ela é cética quanto ao amor, e paixão, você percebeu? — ele me dá um meio sorriso.
— Sim. Mas... o que um cético tem a ver com um programa onde estamos tentando buscar a parceira ideal para o nosso cara? — continuo sem entender o seu propósito.
— Podemos provar a ela que isso tudo existe, ou podemos mostrar ao público que uma pessoa pode ficar ambiciosa de uma hora para outra, já que ela nunca correu atrás de fama e dinheiro…
— Pelo menos até onde sabemos, não é? Se levarmos em conta que ela se inscreveu num reality show onde ela pode sair casada com uma celebridade cheia da grana, podemos dizer que ela estava só esperando a oportunidade certa.
— Sim. Podemos realmente pensar assim, mas o público não precisa pensar dessa forma. — seu sorriso de alarga. — Eles comprarão o peixe que nós vendermos para eles, Sue. Sempre foi assim: a TV e o Rádio, sempre ditaram as regras sobre o que a grande massa vai acreditar. Eles acreditam naquilo que nós queremos! Naquilo que nós dizemos para acreditarem! — abaixo a cabeça com uma risadinha.
Chris está certo! A grande massa acredita em tudo o que passa na TV, e antes acreditava em tudo o que se passava no rádio.
Saio da sala de Chris, pensando em Alek em seu confinamento de luxo. Lá ele não tem acesso ao telefone ou à internet, para que não se comunique com ninguém. A informação de que ele será o próximo “noivo” do “QMB?” não pode vazar. Isso já aconteceu antes e tivemos que trocar o principal na última hora.
O “Dia Um” amanhece às quatro horas da manhã para mim. Estou dormindo no quarto de hóspedes da minha casa. Me levanto, me arrumo e saio sem tomar café. Não quero encontrar Eli e seus pedidos forjados de desculpas. Meu dia começa mais cedo, pois sou eu quem vai buscar Alek no Hotel.
“— Que Deus me proteja dessa tentação!” — penso no rosto bonito, e no porte forte de Alek e um arrepio passa por toda a extensão do meu corpo. Um arrepio bom! Daqueles que relaxam a gente e… ai-ai…