
A Rainha dos Quatro Reinos
Titulo do capítulo: 2⁰ Noivado
Autor: Tamara Santos
Reino Verão
Bella
Falta-me coragem para fugir, volto para a cama e choro até adormecer.
— Acorde, Bella! Vai se atrasar para o café da manhã. Não se esqueça que temos convidados. — Disse Esmeralda, entrando em meu quarto.
— Ai, Esmeralda. Já estou acordada! — Respondo, levantando da cama.
— Não parece! — disse ela.
— Não quero sair do quarto. — Resmungo descontente.
— Você é uma princesa, deve estar apresentável. — retrucou novamente.
Já que não tem acordo, me banho e visto apropriada, o penteado fica por conta de Esmeralda, coque alto com alguns adereços. Saio do quarto rumo a sala de refeições, adentro fazendo o mínimo barulho para não ser lotada. Caminho até a mesa e me sento sem dizer uma só palavra, e sequer olhei para minha mãe. Em um aceno meu pai se levanta chamando a atenção de todos que estão à mesa.
— Estamos aqui reunidos por uma razão muito especial, todos sabem que em duas semanas celebraremos o aniversário da minha querida filha, visando o melhor para ela e para o reino este jantar tem a finalidade de anunciar o noivado entre ela e o príncipe Antony — Ele me olha — o casamento e a coroação serão feitos em uma única cerimônia, assim ao término deste grande evento estaremos diante dos novos reis.
Após ouvir tudo, incrédula de que realmente está acontecendo e que um destino já está traçado para mim, vejo não haver mais volta. Todos os presentes olharam para mim, esperando alguma reação, a única coisa que ouvem é o barulho do copo se quebrando no chão. Sem olhar para ninguém e sem esperar por nada saio correndo para o meu quarto, meu único desejo é poder evaporar no ar. Tranco a porta e me entrego ao choro. Um tanto mais calma, me olho no espelho, estou horrível, permaneço observando cada detalhe dessa visão deplorável. Pego meu capuz vermelho, um que uso sempre para sair escondido do Castelo. Tentando não chorar caminho até o vilarejo tentando encontrar minha amiga Esmeralda. Não quero me casar, mas não posso ficar contra meus pais.
Cavalgo até a fronteira entre meu reino e o reino Primavera, paro no meio do caminho e olho para longe, passarei o resto da minha vida aqui e mesmo sem conhecê-lo já o odeio. Um misto de sentimentos toma conta de mim por isso resolvo ir para outro lugar, venho até a fronteira do Reino Inverno. O vento toca meu rosto e joga meu cabelo para trás, observo o portão e os guardas, com cuidado passo escondida por eles. Ando de um lado para o outro sem rumo definido, até que uma árvore chama minha atenção, toda em gelo, tão bonita, fico maravilhada com as flores.
Admirada com tamanha beleza desejo uma dessas flores, o branco dela me fez sentir uma paz tão grande. Mesmo com vontade não posso ir até lá, meu reino e o Reino Inverno quase se destruíram recentemente e o conflito está cessado com o acordo de que nenhum atravesse a fronteira do outro, até mesmo as operações mercantis só acontecem através dos duques e marqueses.
Há rumores de que essa rivalidade foi ocasionada por uma traição, não sei que tipo de traição e nem da parte de quem, uma vez perguntei à minha mãe sobre isso, no entanto, ela disse que isso é só mais um boato das criadas. Paro de andar e me sento, ainda admirando a flor branca, permaneço em paz por alguns minutos e me assusto ao ver um homem todo de preto, sentado debaixo da árvore. Ele está de costas e não dá para ver seu rosto, a julgar pelo que vejo ele tem aproximadamente 1,80 de altura, costas largas, pele tão branca quanto a neve e cabelo preto. Sem dúvida é mais forte do que alguns guardas do palácio. Ele se vira e agora posso ver seu rosto, e também a grande coroa que está usando.
Meu Deus! Ele é lindo. Olhando para esse homem, eu sei que ele não é deste mundo, e sim um dos deuses gregos. Julgo que para estar aqui só há uma explicação, os deuses do Olimpo resolveram visitar a terra e não nos avisaram. Chego mais perto para observá-lo melhor, não que eu esteja interessada nele, mas só de pensar em olhar sinto um frio na barriga, as minhas pernas tremem, meu coração acelera, e com dificuldade de respirar.
Algo dentro de mim me diz que ainda o verei outras vezes, até me sinto como uma princesa dos contos de fadas, tal qual as que Esmeralda me contava, contudo, as dela sempre encontraram o final feliz, a realidade é um pouco mais rude, posso até ser uma princesa, mas não terei o meu "feliz para sempre".
Sinto uma fraqueza tomar conta do meu corpo, deve ser esse feio que está cortante. Observo o homem mais um pouco e algo no olhar dele me dá medo e além de uma sensação que não sei decifrar, seu olhar me transmite escuridão. Sei bem que esses sentimentos não são seguros e principalmente não devem ser nutridos por outro homem que não seja o meu marido. Lembrar de Antony faz minha cabeça ferve, estou vivendo um pesadelo, lembro-me de quando escutava as conversas da mamãe com as duquesas, sobre como se contentavam com tão pouco. Sempre abominei a ideia de um matrimônio assim, sem o afeto dos maridos, aceitavam tudo o que era designado para si, de cabeça abaixada. Dizia a mim mesma que não seria mais uma dessas mulheres.
Suspirei triste, eu não consegui manter a minha promessa, estou sendo derrotada pelas circunstâncias da vida. Levantei-me para ir embora quando uma mulher chega perto dele o abraçando e dando beijos. Melhor eu sair daqui! Parece que o rei do gelo não está contente com a mulher que tem, isso me faz ver que não serei a primeira e nem a última a me casar sem amor, o que é lamentável. Sério, preciso arrumar novas amizades, já estou falando igual à Esmeralda. Volto ao palácio, meu doce lar, onde tudo é uma maravilha. Lindo engano, o doce virou fel! Passo o portão quase voando para o meu quarto, fazendo de tudo para não encontrar com ninguém pelo caminho. Ao me deparar com minha mãe outra vez em meu quarto à minha espera, sento me na cama para ver qual será o assunto desta vez.
— Pode soltar o que a senhora está querendo falar, sei que veio aqui para podermos conversar sobre o que aconteceu hoje.
— Elisabete Bella Ferraz Alçante, o que você pensa que está fazendo? Você fugiu o dia inteiro! — Minha mãe fala de forma alterada, se levantando de onde está no mesmo instante.
Eu não disse nada, pois não há o que dizer, permaneço olhando fixamente em direção a ela, mesmo não a enxergando. — Me responda! Não fique me olhando como se eu estivesse falando algo sem importância.
— Mamãe, se a senhora me der licença, eu preciso ir dormir. — Peço calma.
— É só isso que tem para dizer? — Ela indaga, incrédula com meu silêncio.
— Sim. — Suspirei, já cansada dessa conversa.
Mamãe fica calada olhando de cima a baixo, depois sai sem dizer nada. Parece que ela não vê que isso é novidade para mim, ninguém sequer perguntou se eu queria me casar, simplesmente decidiram o destino da minha vida. Por mais que eu queira, não há nada que eu possa fazer para mudar tudo isso. As mulheres nunca tiveram voz nesse reino e pelo visto nunca teremos. Arrumo-me para dormir, fiquei muito tempo lá fora e não vi quão tarde já é. Amanhã será o meu primeiro encontro com o príncipe Antony, eu não o conheço, mas decidi que não quero matrimônio problemático, decidi tentar amá-lo, caso isso não aconteça, poderemos ser amigos. Algo me diz que vem muitas coisas pela frente e terei que ser firme, ou me fortalecer com o tempo. Sei que terão vários caminhos, espero que eu tenha sabedoria para escolher o certo, não quero fazer nada que possa me arrepender quando não houver volta.
[…]
Esmeralda entra no quarto e eu já estou acordada.
— Nossa… que bicho te mordeu, para estar acordada a essa hora? Já estava planejando jogar uma desilusão em você.
— Não ouse fazer isso ou eu mesma ordenarei que cortem sua cabeça fora.
— Ai que medo — Ela riu — Agora levanta da cama e vai tomar banho, deixarei o vestido aqui em cima da cama para você.
Saio do banho, me deparo com um vestido vermelho bem chamativo, colo ele no corpo mesmo desconfiada.
Caminhando pelo corredor do palácio, observo à distância, o meu querido noivo, devo admitir que ele é lindo, tão lindo que muitas donzelas que ficariam encantadas por ele facilmente, mas eu não sinto nada. Para mim, a única diferença entre Antony e o diabo é que um tem chifres e o outro usa cabelo penteado para cima.
— Oi! Bella, fico feliz em vê-la. Você está linda! Gostaria passear pelo Jardim? — Ele me olha com um belo sorriso.
— Oi! Antony, gostaria sim! — Respondo de forma educada.
— Ótimo! — Ele suspira, esticando o braço para me apoiar, e eu como boa moça aceitei, entrelaçando o meu ao dele.
Se Antony soubesse o que eu realmente estou pensando sobre ele, certamente voltaria correndo para o palácio. Poderia fazer de tudo para impedir esse casamento, mas estaria condenando a vida de milhares de famílias inocentes. Pensando longe, só me dei conta que já estava no jardim quando ouvi vozes e risos, todos já estavam conversando alegremente á mesa do café da manhã que foi posta no jardim. Quase não conversei com ninguém, já estava doida para sair daqui, porém Antony foi mais rápido, me chamando para outro passeio, fomos caminhando em silêncio até chegar em um banco.
— Bella, eu sei que você não quer casar comigo. — Ele disse, diretamente.
— Eu não disse que não queria me casar, só acredito que não nos conhecemos direito.
— Pode ficar tranquila, eu vou fazer de tudo para que o nosso casamento dê certo — Antony segurou em minha mão, e sem dizer mais nada, ele me beijou, foi um beijo bom, contudo não senti nada.
— Está bem, vou confiar em você.
Depois do passeio pelo Jardim, falei com Esmeralda que estava na ala dos empregados, logo a vi conversando com uns dos guardas, ela não perde tempo mesmo.
— Esmeralda, o que está fazendo?
— Antes de você chegar, estava prestes a ser convidada para um passeio. Mas você acabou de atrapalhar tudo, muitíssimo obrigada! Aproveitando sua interferência, tenho algo para lhe contar, o mensageiro do Reino Inverno esteve aqui para falar com seu pai. — Disse ela, mordendo uma maçã em seguida.
— Mas para que ele faria isso? Se os nossos reinos não fazem negócios e sequer fizeram algum tratado de paz?
— Isso é algo que eu não sei, mas por que você não vai ver do que se trata?
— Estou indo mesmo, mais tarde conversamos.
Saio praticamente correndo da cozinha, se minha mãe me visse agora, certamente estaria me dando um grande sermão.
Entro na sala do trono, com passos mais calmos, me aproximo dele.
— Papai, soube que o mensageiro do Reino Inverno esteve aqui, posso saber do que se trata?— Questiono sem rodeios.
— Esteve sim, filha, mas fique tranquila, veio somente para avisar que o filho herdeiro do Rei Arthur irá se casar com a herdeira do Reino Outono, não me recordo muito bem, mas me parece que eles se chamam Cassian e Rosa.
— Fico aliviada! Pensei que fosse algo importante, visto que, vez ou outra acontecem alguns conflitos, e nós não temos um tratado de paz com eles, era somente essa minha preocupação.
— Não se preocupe, não está nos planos, mas se acontecer uma guerra entre os reinos, temos o exército do Reino Primavera conosco.
Dos males o menor, ao menos esse casamento arranjado servirá para algo, caso a guerra aconteça.