CHARLLES - SÉRIE MÁFIA GAILLARD VOL.2

CHARLLES

O meu irmão Adrien está ao meu lado falando sobre ter adquirido alguns búfalos. Além dos cavalos que ele cria, e que sempre foi a nossa paixão desde crianças; nós disputávamos corridas sempre, na fazenda do nosso avô. As mulheres e os cavalos sempre foram as nossas válvulas de escape, mas desde a adolescência nós começamos a disputar por elas também e agora ele decidiu se aventurar na criação de búfalos. Por mais que o assunto esteja interessante, a minha atenção e o meu interesse foram direcionados para a pista de dança por causa dela. Yennefer.

A ruiva, dona de um par de incríveis olhos esverdeados e curvas fascinantes, que chama a atenção na pista de dança com aquele vestido vermelho que molda cada curva do seu corpo. Sinceramente, qualquer homem em sua sã consciência fica atraído por ela. Yennefer… além de ser delicada e ter um sorriso doce, carinhoso e encantador, ela consegue fazer desaparecer todos os meus problemas com um único sorriso seu, como se fosse em um passe de mágica.

Ela está dançando com o desagradável do seu irmão, Artem, na pista de dança.

Apesar de estarmos casados, eu sei que não deveria olhá-la dessa maneira ou nutrir esse sentimento por ela. Yennefer merece um homem por inteiro e sem traumas obscuros.

Nesses dois mundos em que vivo, só consigo ver o pior das pessoas diante de mim. Senti na pele a perversidade das pessoas. Tanto que não consigo esquecer e nem falar para a minha própria família. Eles me perseguem de dia e à noite… todos os dias me assombram.

Não sirvo para um relacionamento sério ou construir uma família. Eu sei que a fiz sofrer nesse tempo que estivemos juntos e dou graças a Deus por seus abortos espontâneos. O que eu poderia oferecer a ela e a uma criança? Não conseguirei ser o homem que ela merece que eu seja. A única vida que consigo lhe oferecer ao meu lado é a vida que levávamos miserável regada de dor e obscuridade, onde continuaria ser negado a ela a felicidade plena, a alegria de viver e sem a possibilidade de ser amada como deveria ser, e de formar uma família como ela deseja ter. E eu sei que esse homem não sou eu… definitivamente!

Eu a amo e sempre cuidei e a protegi mesmo estando longe esses anos todos. No segundo dia após o nosso casamento ela tentou aproximar-se, mas fui muito grosseiro, sendo que a minha vontade era de carregá-la para a nossa cama, mas fiz o que fiz com o único intuito de protegê-la de mim mesmo. Estou destruído e me sinto podre.

Do jeito que estou não vejo possibilidade de deixá-la fazer parte da minha vida, essa porta contínua fechada a sete chaves para o amor, eu sei que nunca serei merecedor do seu amor. Não posso e não sou merecedor do seu amor, só sou merecedor dos meus pensamentos sombrios, esses que habitam em mim dia e noite.

Desde que a conheci, Yennefer sempre foi uma garota tímida e reservada, ao invés de ficar conversando futilidades com outras garotas, sempre teve poucas amigas. E esse seu jeito me chamou a atenção, e a admirei de longe quando descobri que ela seria minha futura senhora Gaillard.

— Viva ao amor! — Proferiu Alícia, ficando ao meu lado.

— Está apaixonada por quem? Qual o nome dele, para que eu possa mandá-lo para o inferno antes que ele ouse tocar em você!

— O amor não faz parte da minha vida, irmãozinho. Não tente mudar de assunto porque sabe que estou falando de você.

— Continue com esse pensamento de não querer saber de relacionamentos, que vai muito bem.

— Relacionamento sério não quero, mas aventuras sim.

— Vá brincando com fogo e depois acabe se queimando.

Prefiro focar o assunto na minha irmã e tentar esquecer esse desejo louco de sentir o calor do seu corpo, e o gosto do beijo de Yennefer. Não posso deixar passar despercebido que Yennefer se transformou em uma linda mulher e ainda mais desejável, o meu desejo por ela só aumenta cada vez mais e a minha vontade é de arrancá-la dos braços do seu irmão, de levá-la para o meu carro e irmos para a nossa casa, arrancar aquele vestido vermelho muito sexy com os meus dentes e amá-la até saciar o meu desejo, que cresce descontroladamente.

— Você não me engana, irmão.

— Essa sua afirmação, Alícia, é descabida.

— Em vez de você ficar aqui em pé ao meu lado, e do Adrien, deveria ir até onde ela está, tomá-la em seus braços e ser feliz. Porque hoje estamos aqui, amanhã podemos ser apenas lembranças. Então aproveite cada momento, não gaste tempo com coisas bobas, pois a vida não avisa quando vai acabar.

— Alícia, fique com a sua alucinação, porque eu tenho um assunto mais importante para tratar e sabe que je fuis l’amour comme le diable fuit la croix, j’aime faire la fête et les bells femmes pour satis faire mes désirs sexuels au lit. Do que mais posso querer? Nada! Então se uma mulher não quer ter o seu coração quebrado por mim, baby, corra! — Terminei de falar e andei na direção da morena.

A minha vontade na verdade era de dizer que mesmo esses anos longe dela, o meu amor por ela crescia cada vez mais e mais. No entanto, não importa o que sinto ou deixo de sentir, não presto para ela, mas também não posso deixá-la ir.

Não mesmo!

Por mais que eu tivesse tentado matar esse amor em mim, esse amor não diminuiu… só aumentou com o tempo… cada vez mais. E hoje, quando a olhei, só confirmou o que já sei e o que sinto.

Antes que eu possa chegar perto da morena, o meu irmão Alêxy aparece bem na minha frente.

— Que bom, meu irmão, que decidiu aparecer no meu casamento. — Alêxy falou me dando um abraço.

— Você acha mesmo que eu perderia o seu casamento, meu irmão? Mas é claro que não.

— Por que você não nos procurou quando chegou, há uma semana?

— Como é que você ficou sabendo da minha chegada?

— Nada passa despercebido por mim quando se trata da nossa família. Você ainda não respondeu a minha pergunta.

— Ora, ora, então, o senhor nada passa despercebido não sabe por que não entrei em contato. Aqui não é um lugar apropriado para falar sobre o assunto. Só precisa saber que precisei resolver alguns assuntos antes. Irei matar o Jasper, por ter aberto aquela boca grande dele!

— E você não pode adiantar nada sobre esses assuntos misteriosos?

— Não se preocupe, não é nada de mais. A festa está muito agradável e a sua bela esposa está linda.

Sorri e peguei um copo de uísque que o garçon passou servindo.

— Quem é aquela morena? — pergunto indicando onde ela está. — Não estou a reconhecendo.

— É a prima da minha Alexandra.

— Muito bonita.

— Qual é o seu interesse nela?

Sorri e sorvi um pouco mais do meu uísque.

— Fala logo, Charlles. Sei que tem alguma intenção por trás.

— Que imagem você faz de mim! Só percebi que ela não faz parte do nosso meio.

— Eu sei que tem algo a mais nessa sua pergunta. Nem ouse chegar perto dela e nem tente algo. Ela é a melhor amiga da Alexandra, e a sua mulher está aqui com os seus familiares que, aliás, querem a sua cabeça. Então, não faça nada para piorar a sua situação.

— Não farei nada, não se preocupe. Com relação à minha esposa e a família dela, irei resolver.

— Você está sabendo que ela quer o divórcio e tanto o pai, quanto os irmãos, querem um pedaço do seu corpo.

— É um dos motivos da minha volta: não haverá divórcio. Eles podem até tentar, mas não irão conseguir. Ela é minha e de mais ninguém! Yennefer transformou-se em uma mulher desejável. Dá para perceber o olhar de desejo em cada homem dessa festa que a observa, e a minha vontade é de arrancar os olhos de cada um, e fazer coisa bem pior com cada um. Esse tempo que passei longe, ela nunca deixou os meus pensamentos e, para aplacar o meu desejo latente por ela, me masturbava pensando nela até me saciar completamente. Muitas vezes ia para bares ou boates com o único objetivo: o de saciar o meu desejo de uma boa foda forte e cheia de putaria, mas quando liberava o meu gozo, sentia sempre um vazio porque sabia que faltava ela.

— Você precisa saber que a Yennefer está saindo com um outro homem.

— Estou sabendo. — Falo cerrando os dentes e fechando as mãos em empunho.

— Charlles, ela seguiu com a vida dela. Você não achou que ela ficaria esperando por você.

— Pois, deveria! Afinal, ainda sou o marido dela. Esse é mais um dos assuntos que voltei para resolver.

— Não faça merda, irmão. Só um conselho: quando o amor é sincero e verdadeiro, não há nada que faça ele acabar... Se os anos passarem ele fica mais forte, se a distância separar ele fica mais forte... Porque quando é amor de verdade tudo suporta... Não tem essa de que o amor acabou, se é amor de verdade não acaba. Agora se você ainda se encontra em uma batalha interna, resolva-se antes de tentar entrar novamente na vida dela. Lembre-se: uma mulher se apaixona pela forma como é tratada... E deixa de gostar pelo mesmo motivo. E nós sabemos que o casamento de vocês não foi, desde o começo, um mar de rosas. Então pense bem se quer entrar nessa luta ou deixe-a ir. — Ele terminou de falar e foi convidado para dançar pela mãe da sua esposa.

Eu fui em direção da prima da mulher dele, para convidá-la para dançar e tirar a imagem da minha mulher indo para a cama com outro homem. Só essa imagem me dá vontade de estourar a cabeça dele, e tirar satisfação com ela por essa traição. Mas como não quero acabar com a festa do meu irmão, me contenho. Por essa noite, irei me divertir com a morena.

***

YENNEFER

Muitas vezes o destino brinca conosco, e temos que aprender a vencer vários obstáculos que a vida nos impõe pela frente, que nos fazem escolher vários caminhos, e eu fiz a minha escolha de seguir em frente sem o Charlles em minha vida.

Quando o meu pai anunciou que eu iria me casar com o Charlles, criei várias expectativas de que iríamos ser felizes e que a fase ruim, de quando perdi a minha mãe, tinha acabado. Ele foi o sopro de felicidade que eu precisava para a minha vida ter cor novamente, mas o que ele fez me destruiu novamente e criei um obstáculo para o amor e homens, ele me transformou em uma mulher amarga, a antiga Yennefer doce, meiga e carinhosa, não existe mais. Ele me fez amadurecer e o que vivi com ele me transformou na mulher que sou hoje.

Sinto que sou incapaz de me envolver e ter sentimentos por outros homens. Estou saindo com o Marcelo porque ele é um homem interessante, inteligente e tem uma boa conversa, mas deixei bem claro que não temos nada sério, é só um sexo casual e… bom… ele concordou.

Depois que decidi apagar o Charlles da minha vida senti que tinha que aproveitar tudo o que tinha direito. Acreditar e correr atrás dos meus sonhos e do meu tempo perdido, principalmente da minha carreira profissional. Desde então, não deixo de atender as minhas necessidades para atender as dos outros. Sou adulta, posso tomar as minhas decisões e tomar conta de mim.

Já o meu pai e os meus irmãos, não concordam. Já perdi as contas de quantas vezes discutimos sobre a minha liberdade, o meu direito de escolha e para onde ir e vir sem precisar de escolta.

Quando era mais nova, eles controlavam a minha vida, mas depois de tudo o que aconteceu com o Charlles, aprendi que eu tenho que tomar o comando da minha vida, mas a minha família não aceita muito bem isso. Acham que ainda sou uma criança que precisa ser protegida. Quando mais precisei, foram eles que me apoiaram e me protegeram.

Não colocarei em risco novamente o meu coração e nem o meu amor próprio por Charlles, e nem por nenhum outro homem. Gosto dessa minha nova versão, onde nada me afeta e poucas pessoas me importam.

VOCABULÁRIO: