Eclipse: A Sombra do vento Noturno

Titulo do capítulo: Capítulo 2

Autor: Sarah Camargo

꧁•⊹ ٭N E C E S S I D A D E ٭⊹•꧂

& evolução


2,5 milhões de anos a 250 mil anos a.C.


O período paleolítico estava se iniciando. Homens de estaturas medianas, musculosos e com pelos por todo o corpo se faziam presentes na natureza. A pele espessa e protegida por camadas de lama ajudava contra os raios solares e insetos. Boa parte desses hominídeos se encontravam nas matas silvestres por toda a  planície terrena existente ali, sempre em busca de recursos para suprir suas necessidades, como por exemplo; vegetais, raízes e carne animal.

Normalmente tinham uma cultura nômade, sempre vagando seja por situações climáticas extremas ou fugas causadas por animais selvagens nos territórios. Nesse período já havia uma divisão social entre atividades para mulheres e homens, criando uma espécie de hierarquia social.

Bhoo estava escondido entre duas árvores, segurando sua lança e olhando para além dos arbustos, em sua frente um mamífero pastava tranquilamente. Ele se preparou para lançar o instrumento de caça quando as orelhas do veado erguem atentos, Bhoo parou e também ficou em alerta.

O barulho alto foi seguido por uma espessa nuvem de vento com areia, o sapien se jogou contra o chão para se proteger enquanto o animal pulava entre os galhos de árvores caídas até se encontrar longe do local.

Perto dali um grupo de fêmeas estavam colhendo raízes e alguns frutos, uma delas carregava o bebê em um dos braços, Gaamby parecia mais desatenta do que as demais quando elas deixaram tudo para trás e correram no primeiro sinal de perigo.

Ela ficou para trás. Considerada a se a única fêmea mais curiosa do que as outras, essa personalidade se tornou um problema para si mesma, Gaamby segurou seu bebê mais forte contra os seios expostos e caminhou em meio a poeira que aos poucos abaixava. O bebê começou emitir sons baixos incomodado com algo enquanto a fêmea estava cautelosa.

Gaamby protegeu os olhos com o antebraço e seguiu para dentro daquela suposta neblina de areia, seu bebê agarrou alguns fios de seus cabelos longos e ela prosseguiu ao ouvir mais barulhos estranhos em sua frente.

Abaixou perto de algumas árvores e viu um bando igual ao seu, eles estavam caídos no chão, rastros de sangue por toda parte, ela ouvia os pássaros agitados, os sons de alguns animais ao longe lhe deixou com os pelos do corpo eriçados igualmente acontecia com os bicos rígidos de seus seios, uma linguagem corporal que indicavam o aumento da adrenalina em seu sangue. O que havia causado aquilo ela não sabia, mas pulou assustada ao sentir uma mão puxar seu braço.

— Ufg! — Bhoo exclamou atrás de sua fêmea, segurou com firmeza em sua cintura e elevou ela em seus braços.

— Homuk. — Gaamby se comunicou pela primeira vez e seu companheiro apenas ficou em silêncio, ele sabia que algo não estava certo, então deixou o local onde estava caçando e foi em busca de sua companheira que vive se metendo em confusão.

Eles subiram para o alto das montanhas, um lugar mais seguro, lá já estava boa parte do bando, a maioria já em volta da fogueira, todos esperando pelo líder. Os caçadores que tiveram sucesso chegaram depois, dois deles carregando cestos com peixes, o restante trazendo carne de javalis.

As mulheres também trouxeram o que conseguiram colher antes do estrondo acontecer, Bhoo não precisaria se preocupar com provisões por alguns dias, mas por conta dos eventos estranhos, o melhor a se fazer era mudar de local.

Do lado de fora uma chuva fina se iniciava, um homem estranho de estatura alta caminhava despreocupadamente sujando os pés descalços na lama, suas narinas puxava o ar e expelia juntamente da fumaça por conta da baixa temperatura que parecia cair rápidamente. As pernas de músculos grossos, a pele clara e bem pouca presença de pelos por todo o corpo, essa eram as diferenças que podiam ser notadas no estranho ser.

Os cabelos negros na altura dos ombros se destacavam e estando completamente nú em meio a natureza, ele andou por todo o território, analisando os tipos de árvores, a humidade do solo e se tinha água potável para o seu consumo.

Poucos metros a frente ele encontra uma nascente de águas cristalinas, peixes nadavam formando um arco íris no fundo e também podia ser vistos alguns mamíferos por onde ele passava. Entrou na água para sentir a temperatura, fechou os olhos e apreciou a correnteza bater e balançar suas partes íntimas com movimentos suaves abaixo de si.

Pegou os dedos e molhou, levou aos lábios para sentir qualquer gosto que pudesse sobressair o que seria normal daquele líquido. Depois de alguns minutos ele se ergue da água e retorna por onde veio, avistando as duas grandes pedras de pontas arredondadas por onde passou antes.

O céu estava escurecendo quando ele avistou a sua nave, pouco mais de um tempo depois, ele buscou por alimento na região e se preparou para refazer a viagem.

Nannk, Ziaah e Lan estavam descascando algumas raízes com pedras afiadas, elas preparavam alguns alimentos enquanto Bhoo as olhava, ele cheirou o ar e continuou observando as mulheres. Ziaah estava recolhendo as cascas, ela sentia seu corpo mais febril do que o normal, a mulher mais nova do bando era ela e mais um ciclo de lua terminava naquela noite.

Percebendo os olhares do líder, Ziaah se afastou saindo da caverna, jogaria as cascas em qualquer lugar, talvez ficaria um pouco mais do lado de fora, ela sentia seu ventre dolorido e temia por isso. 

Dois ciclos atrás Nannk também estava do jeito que Ziaah se sentia, e nessa mesma época, dois machos disputaram por ela. No final, o líder teve a chance de a ter para si, Ziaah não queria isso, ela se sentia bem como estava, pensava diferente das outras fêmeas.

Por outro lado, Lan já estava com os primeiros sinais de ter conseguido engravidar, ela se sentia feliz por estar gerando um bebê em sua barriga que crescia aos poucos conforme o tempo passava.

Os Homo sapiens levam muito a sério a reprodução, como um ritual, uma dádiva dos deuses poder gerar outro ser dentro de si, mas para Ziaah parecia mais como uma maldição. Ela quer se sentir livre e independente assim como o seu espírito, mas não sabia como fazer isso, logo machos estariam disputando por ela e também, um deles deveria se acasalar como sempre deve acontecer, talvez se tivesse sorte, mais de um deles conseguiriam isso.

Com certeza esse seria um de seus muitos motivos para não querer estar fértil naquele momento. O céu já estava escuro por quase completo, as estrelas podiam ser vistas de onde ela estava, seus pés sentiam o frio da rocha e mais alguns passos a diante ela parou.

A beirada do precipício da montanha estava bem na sua frente, o coração acelerou, ela fechou os olhos e colocou a mão em seu ventre dolorido, um filete de sangue escorreu por entre suas pernas, o vento traz uma neblina espessa fazendo Ziaah tremer.

Ela desejou não ser vista, ficar invisível diante de seu bando, abriu os olhos e se deparou com algo novo no céu. Uma estrela, um pouco maior na direção de um par de constelações, ela era diferente de formato e até mesmo de cor. Ziaah ficou olhando hipnotizada, talvez até maravilhada com aquele suposto sinal no céu, quem sabe os deuses tenham ouvido suas preces, então contente ela se afastou da beirada e voltou para a caverna onde todos já se encontravam dormindo e aproveitando o calor da fogueira.

Enquanto isso, o homem estranho já estava dentro de sua nave, ajustava o curso  cortado os céus, naquele momento alcançando a atmosfera da terra em uma velocidade alta, ele está voltando para levar seu relatório sobre os elementos do planeta, tudo que ele havia tido contato até aquele momento estava vivo em seus sentidos.

Bhaa ainda se mantinha acordado, mas estava deitado junto de sua primeira companheira, as peles em volta deles ajudaria com o frio repentino. Ele gostava de se manter acordado por um tempo, talvez fosse pelo trauma de infância que sofreu, ou por saber que ainda tinha alguém acordado do lado de fora e o cheiro persuasivo provinha de lá.

Ele sentiu os passos de alguém entrando, o odor ficou cada vez mais forte e atrativo, ele abriu os olhos quando Ziaah passou cautelosa do seu lado, ela estava de costas para ele, mas tentava passagem entre dois corpos deitados no chão.

Então ele saiu de baixo das peles quando ela cambaleou e Bhaa segurou o seu braço para que Ziaah não caísse em cima de um macho evitando que ela fosse agredida.

— Arg! — Gritou assustada pelo contato e logo tapando a boca com a mão livre.

— Ziaah. — Bhaa olhou sério para ela e sinalizou para que continuasse a caminhar, ele a levou para o fundo da caverna e então ela tremeu sentindo medo.

Mas ele não era o único macho acordado ali, Bhaa sentia movimentos de uma calma respiração quando levava a garota para lá e então o barulho de alguém se levantando. Ele não poderia perder tempo, precisa marcar a fêmea para garantir sua posse sobre ela, então Bhaa puxou o corpo de Ziaah para o seu e passou a língua sobre a curvatura do pescoço dela.

A fêmea tremeu e arfou, era novo o que sentia, suas dores parecia ter diminuído um pouco com o contato sensual de seu membro úmido em sua pele, ele abaixou e alcançou a intimidade de Ziaah, colocou a língua lá e movimentou. 

Bhaa precisaria deixar seu cheiro no corpo dela, era a melhor forma de marcar uma fêmea e seria preciso fazer isso até porque boa parte dos machos de seu bando eram mais agressivos com as fêmeas na hora do acasalamento.

Mas apenas marcar ela não seria o suficiente, todos já sabiam disso e Gouaha também. Ele era o macho mais robusto do bando, a pele mais morena que indicava boa resistência ao sol, ele estava de pé e sentia o cheiro de Ziaah, mas também sentia o de Bhaa e decidiu ficar a espreita, porque uma hora ele a deixaria sozinha e talvez essa seria a sua chance de conseguir uma fêmea para si.

Bhaa sentia a presença do macho acordado e logo em seguida, mais machos acordaram. Ziaah tremia em seus braços, sabia que agora seria o seu fim, ela tem apenas duas escolhas ficar com o líder que poderia lhe proteger, ou esperar que encontre um macho menos agressivo o que basicamente seria quase impossível.

Mas nem tudo dependia apenas dela, Bhaa precisaria escolher ficar ou não com Ziaah, nesse momento, os olhos castanhos dela brilharam para ele. Estava preocupada com a situação, Bhaa levantou de onde estava e ofereceu a mão, ela aceitou e ele guiou seus passos para a outra saída da caverna.

O caminho foi ficando estreito até ambos conseguirem enxergar a luz da lua no final do túnel, Ziaah estava sem forças nas pernas quando deu seu último passo para o final do corredor de pedras, seus pés deixaram de sentir o chão gelado para a maciez da grama.

Estava mais frio quando Bhaa parou os passos e ambos ficaram em baixo de algumas árvores altas. Ele sentia a respiração abafada da fêmea atrás de si, ela estava com medo e ansiosa, aquele seria o momento se ele quisesse a escolher, ou a hora certa para ela fugir e encontrar um local seguro longe dos homens.

— Ziaah. — Ele pronunciou o nome dela, a garota tremeu em resposta, mas soltou a mão do homem e se pôs de frente para ele.

— Minha Akang. — O abraço chegou de surpresa. Ziaah já não sabia se iria perder os sentidos ali quando as mãos grandes de Bhaa rodearam sua cintura. Ele observou mais a fêmea, ela é bela, com bastante curvas chamativas, os seios médios e de aspectos pesados que eram bem atrativos, os seus lábios carnudos e os olhos castanhos.

Ziaah esperava que ele a tomasse para si, mas apenas sentiu um beijo no topo de sua cabeça, talvez era para ela sair dali e assim foi feito. Seus pés corriam o mais rápido possível pisando entre folhagens secas, a grama e até algumas partes com lama, ela estava livre nesse momento. Enquanto seus cabelos chicoteavam suas costas, ela pensava em um lugar novo para poder ficar, mas não estava completamente segura, pois pela região sempre haveria bandos se acampando ao redor da nascente.

Ziaah parou de correr quando escutou barulhos estranhos na mata, olhou em volta e nada aconteceu, mas seus pelos do corpo estavam arrepiados. Sentia medo daquela área escura e fechada e ela tinha toda a razão em temer naquele momento, quando seu corpo foi puxado para dentro daquele denso verde, seus gritos já não eram mais ouvidos enquanto o homem arrastava seu corpo cada vez mais para dentro da floresta, seu corpo lutava contra os braços daquele estranho, mas agora de nada adiantaria seus inúteis esforços.

Algumas milhas de distância daquele local, uma nave pousa em um grande bloco de gelo. O homem sai de dentro dela e em sua frente já poderia ser visto a grande base da colônia em formato de pirâmide, o símbolo reluzente  se encontrava bem no topo da construção, o eclipse estava lá no céu brilhando em vermelho, uma lua engolia a outra e rochas da colisão caiam do céu como uma grande chuva de fragmentos flamejantes em tons azulados e alaranjados.

Eles precisam mudar dali antes mesmo de tudo vier acontecer, as esperanças estavam nele, a salvação de toda uma raça.

Então andou pelo gelo sem se importar de não estar em sua outra forma como de costume, mais ao longe ele pode ver grupos de machos de sua raça sair por entre as instalações, eles soltavam o ar pelas narinas e cravam as garras no gelo, balançavam a cabeça e seguiam para o lado leste do planeta, talvez foram em busca de comida e estavam impacientes.

Aos poucos conseguia chegar mais perto da instalação, os machos já sentiram a sua presença, mesmo que eles não precisassem de olhar em sua direção, o objetivo está em sua frente e ele não parou até passar pela grande passagem principal na grande pirâmide.

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