Ela Em Minha Vida - A Filha do Meu Melhor Amigo

Titulo do capítulo: CAPÍTULO UM

Autor: Sandra Lymah

Pouco depois de os nossos meninos fazerem cinco anos, foi a vez da mãe de Carlos nos deixar. Ela teve uma infecção no estômago. Uma bactéria resistente, que nenhum medicamento conseguiu destruir, e a infecção acabou generalizando, levando-a a óbito em menos de vinte dias.

Seu pai começou a ir para bordéis. Puteiros mesmo! Começou a dizer que isso aliviava a sua dor de perder a esposa. Em um ano e meio, contraiu sífilis, mas não procurou tratamento e, quando o levamos para o hospital, já era tarde. Os médicos fizeram o que podiam. Ele chegou a ficar internado por quase um mês, mas também não resistiu.

Tive que consolar e trazer Carlos de volta à realidade. Por quase um ano, ele não queria saber de nada. Não queria mais trabalhar, não ligava para a esposa, e passava a maior parte do tempo dormindo. Por ficar tanto tempo deitado, começou a ter algumas escaras.

Eu já não conseguia lidar com ele, e não me orgulho de dizer, que lhe dei uma surra. Mas consegui fazê-lo se levantar! Maria estava com medo de ficar viúva…

 — Infelizmente, você é viúva de um marido vivo, Maria! Isso acaba agora!

Disse a ela, pouco antes de entrar no quarto em que ele estava dormindo. Ele já estava com um cheiro de putrefação! Maria não se atrevia a entrar ali, e passou a dormir no quarto de Henrique. Eu mesmo levei uma cama para ela poder dormir com seu filho. Mas a busquei e a fiz ficar comigo e Ana por semanas, várias vezes. E até fizemos uma festa de aniversário para ela.

Quando entrei no quarto em que Carlos dormia, com uma cinta na mão, eu não disse nada. Apenas entrei, abri as janelas, e ele começou a reclamar da claridade. Era exatamente o que eu queria que ele fizesse! Então avancei, a passos largos, para onde ele estava, e retirei as cobertas de cima dele, com apenas um puxão. A cada cintada que eu dava em suas pernas e outras partes, falava que o filho estava crescendo sem o pai, que ainda era uma criança, que ele teve a oportunidade de viver com seus pais por mais de trinta anos, e que ele estava negando essa oportunidade, para o próprio filho! Que sua esposa estava começando a ficar doente com sua atitude, que ela estava com apenas vinte e quatro anos, e que ele deixaria seu filho órfão.

Ele tentou protestar, mas eu não deixei! Então, ele começou a dizer, que eu cuidaria do filho dele… isso me deixou realmente emputecido! Tanto, que comecei a bater nele com muito mais força! E não parei, nem mesmo quando ele entrou no chuveiro. Ao todo, foi mais ou menos, meia hora de surra. Ele ficou com as pernas, a bunda e as costas, cheias de hematomas e vergões. Além de ter chorado muito! Mas eu ainda o fiz fazer a barba, que estava enorme, cheia de embaraçamentos parecidos com dreads, além de muito fedida.

Pensa que eu o deixei se recuperar, das dores e hematomas? No mesmo dia eu o fiz sair comigo, o levei à minha fazenda, para decidirmos o que faríamos, com as entregas dos seus armamentos e drogas, que estavam atrasadas. Ele foi mancando ao meu lado, pois eu o fiz andar até lá! Acho até que fui muito bom com ele, pois usei o caminho por dentro da fazenda dele. Indo pelos fundos, onde as árvores quase se encontram. Dá para passar até a cavalo por ali.

Sim. Quando começamos a ganhar nosso próprio dinheiro, na organização, compramos fazendas vizinhas, já tínhamos o acordo de termos nossos filhos na mesma época, e de torná-los amigos, crescendo juntos. Portanto, esse foi apenas mais um passo, dentro de nossos planos. E nossos filhos herdarão nossas fazendas, pois quando eles entrarem, nós nos aposentaremos, para viajar com nossas esposas.

Quando se “passa o bastão”, e se aposenta, há algumas coisas a serem cumpridas, para a organização. Isso acontece, para que todos saibam que continuamos fiéis e, as tarefas, são determinadas no momento da aposentadoria. Nossos pais não nos falaram o que foi designado a eles. Sei que é muito cedo, mas de vez em quando, eu e Carlos, conversamos sobre esse assunto.

Nessa época, em que Carlos ficou um ano se escondendo de suas dores, nossos filhos já haviam começado a ir para a escola. Ou seja, Carlos perdeu um ano de conselhos paternos, para o bom desenvolvimento do filho. Os conselhos que dei ao meu filho, dei ao filho dele também. Pedi para que evitassem entrar em brigas, principalmente, por conta da ocupação que temos, e que eles vão herdar. Expliquei a eles muitas coisas, incluindo os perigos de se fazer inimigos tão cedo, e as consequências desses atos.

Não que tenha dado muito resultado, muito menos, que eles não me tenham dado ouvidos, mas crianças nessas idades, nem sempre levam os conselhos muito a sério, mas Raphael vive me dizendo, que ele só defende as outras crianças, e principalmente Henrique.

Eu os observei e continuei acompanhando o que aprontavam na escola. Cheguei à conclusão, de que meu filho não estava mentindo. Havia vários grupos na escola, e a maioria, queria mandar na escola inteira. Coisas de gangue, como se eles estivessem demarcando seus territórios. Mas algumas dessas turminhas, que agiam como gangues, eram formadas por valentões. Raphael, que sempre foi maior e mais forte que Henrique, acabava tomando as dores de todos os garotos menores, então fui chamado diversas vezes na diretoria, por conta de brigas, que não era meu filho que causava.

 — Você não vai expulsar meu filho! — falei mais uma vez ao diretor, com a voz contida, mas dura o suficiente, para ele saber que eu não iria recuar.

 — Eu… — ele respira fundo, pois sabe muito bem quem eu sou. — Dom Luiz, entenda, por favor…

 — Entender o quê? — chego mais perto de sua mesa, e ele se levanta, suando. — Que você quer proteger alguns filhos de políticos, que estão se comportando como marginais? — ele engole seco, quando começo a dar a volta na mesa, me aproximando dele. — Nem nós que pertencemos a uma organização, nos comportamos como esses pré-delinquentes!

 — Tudo bem… — ele afrouxa a gravata, e engole seco, mais uma vez, antes de limpar a garganta. — o que o senhor quer que eu faça?

 — Chame os pais desses moleques, e marque uma reunião comigo! Os pais! Não as mães!

 — Para quando o senhor quer essa reunião? — ele fica de cabeça baixa, durante todo o tempo.

 — Marque a reunião e me avise! Eu largo tudo o que estiver fazendo, e venho aqui, para falar a eles, o que você não tem a coragem para dizer! Ou seja, eu vou fazer o seu trabalho, seu imprestável!

 — S-s-sim, s-s-senhor. — ele gagueja baixo.

Saio de sua sala, e os meninos estão me esperando do lado de fora, sentados nos bancos no corredor.

 — Pai, eu não sei o que ele te disse, mas você tem que me ouvir! — Raphael se levanta e vem até mim, assim que fecho a porta em minhas costas.

 — Não preciso te ouvir de novo, filho. — sorrio para ele. — As duas crianças que você estava protegendo, já falaram comigo. — acaricio a sua cabeça. — Então, eu sei que você não estava mentindo. — me viro para Henrique, ainda sorrindo. — Vamos, Henrique? Acho que os dois vão querer tomar um sorvete, estou certo?

 — Você realmente não está bravo, tio Luiz? — ele me olha com o semblante de medo e preocupação.

 — Com vocês não, garoto! — alargo meu sorriso. — Mas acho que também não vai adiantar muita coisa, continuar falando com o imprestável do diretor. Vamos embora.

Claro que o inútil não marcou a reunião, então eu tive que ir atrás de alguns desses pais que eu queria falar. Na verdade, queria dar uma surra em cada um deles, para ver se conseguiam aprender a criar melhor os seus filhos! Mas suas vidas são tão patéticas, que isso apenas serviria para sujar as minhas mãos, nas caras de merda que eles têm!

Se por um lado, não havia jeito, tratei de contratar um bom treinador para os meninos! Carlos foi contra, dizendo que não queria que o filho dele ficasse brigando na porta da escola. Então tive que perguntar a ele, se ele preferiria ver seu filho chegando com hematomas em seu rosto em casa.

Desde o começo, percebi que Henrique não progredia muito, mas pelo menos, aprendeu a se desviar, e a montar uma boa guarda, para não apanhar tanto. Acredito que por influência do pai, para não bater nos outros. Mas Raphael aprendeu a não ter dó de quem não merece tê-la, e se fortaleceu cada vez mais.

 — Henrique, no nosso ramo, você vai ter que fazer coisas de que não vai gostar, nem se orgulhar, filho. — eu disse a ele.

 — Eu sei, tio Luiz. Mas vou deixar para as situações mais críticas. Sei que elas virão quando eu crescer.

 — Mas você estará preparado para essas situações, quando elas se apresentarem a você? — pergunto.

 — Isso eu não sei… — ele abaixa a cabeça pensativo.

 — Tudo bem! — suspiro. — Faça o seguinte. — ele me olha atentamente. — Quando você tiver que fazer alguma coisa, que sabe que não vai se orgulhar depois, mas que sabe que terá que fazer, coloque todos os seus sentimentos de lado, e esfrie seu coração. Apague a lâmpada do seu cérebro, e deixe apenas o lado sombrio, que você tanto reprime, agir por conta própria.

 — E como eu faço isso? — ele me olhou franzindo as sobrancelhas.

 — Não pense e nem olhe, para quem seja, ou para o problema que seja, como se fosse algo que você pode resolver com amor. Esvazie sua mente, e todo o restante vai sair junto. Lembre-se, antes de esvaziar a mente, que aquela situação, ou a pessoa, à sua frente, pode tirar a sua vida, ou a vida da pessoa que você mais ama! Se for uma pessoa, faça com ela, pior do que ela faria com você! — ele arregala os olhos, enquanto vai me ouvindo. — E, qualquer pessoa que vier contra você, vai querer que você sofra muito! Vai querer que você implore por misericórdia! E vai rir na sua cara, quando você o fizer!

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