Histórias Fantásticas e Millinares

Titulo do capítulo: Prologo-O acordo Primordial

Autor: Jonathan Alves

Prólogo - O Acordo Primordial

        “Conforme o grande acordo, as entidades devem entregar seu

sangue e poder para a criação de entes divinos, onde a partir dos fragmentos da

luz irão eclodir em sete deuses e pelos resquícios das trevas em dois deuses

sombrios. Pela manifestação de seus poderes, a grande criação Millinar deve

ascender à glória da existência, onde o caos e a ordem do panteão divino

entregarão bênçãos e tragédias aos seus habitantes. O futuro e a sorte,

entretanto, devem ser jogados aos residentes. Aos deuses pouca ou nenhuma

intervenção. Isso com o intuito de conhecer os resultados das criaturas no novo

continente.”

 

    Observo, no plano etéreo, uma

imagem das terras virgens abaixo de nós. Um reflexo que faz o novo continente

parecer como uma tela em branco, apresentando a nós uma infinidade de

possibilidades. Pergunto-me, quem será o artista?

Dos nove deuses, nenhum deles

tem o pincel para realizar esta obra solo. Apesar disso, têm-se intrigas e

conflitos pela soberania, ao menos ainda posso assistir e relatar nesse livro

todas elas. Fico intrigada com quantas descobertas podemos usar com as

faculdades que nos foram entregues, porém a nossa arrogância não faria com que

admitíssemos que todos nós somos necessários para que os nossos projetos do

continente não acabassem em ruínas.

Somos divididos em nove:

destino, espaço, tempo, poder, vida, alma e quem escreve estas palavras, a

deusa da sabedoria, Fremita. Juntamente com dois deuses das trevas, Deathnara,

como a ceifadora da morte e o deus mais enigmático, Emptious, do vazio.

Devido a nossa divergência, a

luz sobre o pretexto da ordem, escondia nossa soberba a ponto de ignorarmos os

serviços das trevas. Tentamos por meios nossos criar o equilíbrio nessa terra.

Mas o que me decepcionava era

a cegueira em que nós, deuses da luz, tentávamos fazer as paisagens e ordenar a

geografia do continente. Para determinar o acordo para a criação de algo era

preciso à união de dois ou mais deuses, porém não sabíamos a medida de nossa

intervenção na criação e sempre colocamos nossos poderes acima dos outros.

A exemplo disso posso citar as

montanhas, elas tiveram o intermédio do arauto do poder, Tilanus, e das mãos do

pequeno deus Spatius, do espaço. Entretanto o deus das barbas incandescentes

não estava satisfeito, como ele demonstraria nas demais interferências:

 

— Mas que insanidade é essa?

Isso é apenas pedra amontada, Spatius, faça fluir fogo para mostrar uma fonte

de poder digno de nosso nome! — Dizia o deus impondo sua vontade.

— Se colocarmos muita lava

haverá erupções infinitas, queremos que a vida prospere e não a queimar na

primeira chance. Mas concordo, vulcões serão necessários, lava solidificada

dará um solo com joias e nutrientes. Aposto que eles vão gostar disso.

Dessa forma foram erguidas as terras

vulcânicas de Oclidean e as cadeias montanhosas de Rizors.

Da mesma maneira Tilanus e

Viet, a deusa mãe da natureza e da própria vida, fizeram florestas exuberantes

ao Norte, terras essas que hoje são Goldenran. O senhor do destino, Galitinus,

com a assistência de Dimetia, senhorita das almas, permitiram as colinas

campestres e desertas no Centro-Sul, terras de Aresin.

E para finalizar, o avanço

natural do tempo deveria começar. O arqueiro com a flecha da entropia, Ziet,

lançou o regime de começo, meio e fim, o equilíbrio para vida estava a se

construindo. Ou era assim que planejávamos.

Pelo mandamento de Viet, as

vidas inteligentes começaram a andar na terra e foram evoluindo de um ancestral

hominídeo em comum. Nós, deuses, estávamos ansiosos pelos resultados de nossas

obras, então observamos de nossos tronos a reação das criaturas.

Porém nada mudou. Após

centenas de anos a falta da morte e omissão do vazio naqueles seres os fizeram

cair na ociosidade, estagnados na evolução.

O motivo era simples: Por que

arrumar alimento quando não há risco da desnutrição? Por que aventurar-se

quando não há adrenalina atiçada pelo risco ou recompensa? Por que sequer

pensar quando não há desafio? Mergulhados em sua zona de conforto, os

hominídeos tornaram-se zumbis emocionais, sem prazeres, sem medo, sem ambições,

francamente, não se diferenciavam das rochas inanimadas do local. Nossa luz nos

cegou e cegos guiávamos os burros para lugar nenhum.

Logo mais os deuses das trevas

apareceram no panteão rindo com escárnio, eles sabiam desde o princípio sobre

fracasso da ordem luminosa. Emptious em especial adorava a situação, por razões

misteriosas, assim como seu poder. Envolto em um manto escuro com o rosto e

corpo desconhecidos, ele afirmava que a falta do vazio no ambiente e nas almas

dos seres impediam com que houvesse dor em seus corações, sem dor não há

conflito, logo, rindo quase que de forma maníaca:

— Meu poder pode ser uma

maldição para aqueles que o têm, mas se torna uma insanidade para todos aqueles

que não o conhecem. Desejam minha assistência? Então me permitam moldar a

consciência dos vivos. — Declarou Emptious com uma voz que duvidamos que fosse

sua própria.

Perante os olhos de todos,

Emptious sacou de sua manga um orbe feito de obsidiana e na outra mão uma luz

opaca que encantaria qualquer mortal, os hipnotizando, os prendendo num transe

eterno. Num gesto abrupto, Emptious inseriu a luz dentro do orbe e nesse

momento ouviu-se uma pequena voz de grito e sussurros.

— Estes hominídeos são uma

perjura ao acordo das entidades! Dê a eles a malícia, a ambição e

principalmente o instinto de querer viver. O vazio será entregue a suas almas,

dessa maneira eles terão inúmeras razões para existir, sempre com o intuito de

preencher tal vazio. Por diferentes razões haverá conflitos, intrigas, guerras,

mas também existiram alianças, prazeres, famílias, amores, algo que poderá ser

digno dos nossos olhos. Para que eles sobrevivam é preciso que queiram viver e

para querer viver... Devem antes sentir o peso do vazio em suas almas. Este

orbe se encarregará de causar o vazio nos seres do continente de Millinar. —

Afirmou Emptious.

E por fim, vinda de um

ambiente sombrio, a deusa da morte, Deathnara, apareceu por meio de uma cortina

de fumaça com seus passos suaves e com seus saltos que ecoavam pelo panteão.

Apresentava-se com sua foice nas costas, ostentando um vestido negro, olhos

vermelhos, um cabelo preto longo e pele acinzentada. Ela estava com um sorriso

de escárnio, como seu irmão, sabendo que tudo ocorreu como previsto.

— Os hominídeos de lá são como

grama não cuidada, deixaram de podar e agora são verdadeiras pestes que

infestam o continente sem qualquer razão para estarem ali.

Com um erguer de sua foice,

apontou para a terra abaixo e deixou um corte no céu acima e apenas pela sua

presença deixou o seu poder se espalhar pelas terras. Pela primeira vez, os

humanoides e outros seres jamais iriam se aproximar dos deuses, pois a

mortalidade se apoderava de todos os corpos.

— Apenas agora deixem o curso

dos mortais fluir. Querem se surpreender? Deixem os mais aptos triunfarem.

Deathnara apenas deu as costas

e junto com Emptious partiram tão rápido quanto haviam chegado, deixando um

rastro de fumaça e sombras que se esvaiu com o tempo.

Nós, deuses da luz, por mais

que quiséssemos intervir, concordamos que já havíamos falhado demais e se

fizéssemos mais do que isso seria como quebrar o acordo sagrado das entidades

criadoras. Portanto os humanoides, agora mortais, estavam jogados à própria

sorte.

Todavia as nossas expectativas

foram quebradas. Partimos do princípio que era uma questão de tempo até os

pequenos se aniquilassem em alguma guerra ou tragédia, entretanto, mesmo

havendo muitas mortes e assassinatos entre grupos e clãs, pela primeira vez os

vimos se espalharem por Millinar por comida, abrigo, questões sociais, vimos

brigarem pela vida que demos.

Alastraram-se ao longo dos

séculos pelas terras vulcânicas de Oclidean, cadeias montanhosas de Rizors,

adentraram nas florestas densas de Goldenran, já outros se instalaram nas terras

de Aresin.

Compreendemos o que os deuses

das trevas ofereceram a eles, deram a oportunidade de evoluírem através das

adversidades. Não obstante, não fora somente os mais fortes que sobreviveram e

se reproduziram, os mais adaptados ao ambiente também persistiam nas gerações,

deixo aqui o relato que sua evolução estava atrelada ao ambiente que se

localizavam.

Os humanoides em Oclidean

sobreviveram pela força bruta devido aos poucos recursos, perigos naturais e

predadores. Ao que parece, as cinzas vulcânicas se juntaram a sua pele e a

deixaram cinzenta ao longo dos anos e transformaram seus olhos dando-lhes uma

cor avermelhada, mais rudes, atualmente são chamamos de Orcs.

Ao Norte por sua vez, os que

sobreviveram nas florestas densas de Goldenran, tiveram uma abundância de

alimentos e poucos predadores. Logo seus intelectos aumentaram

substancialmente, aprenderam a habilidade de escalar e se tornaram mais leves,

obtiveram peles claras e orelhas pontudas e hoje são os mais belos. São

chamados de Elfos e se consideram os mais orgulhosos de Millinar.

No Leste, em Rizors, os que

foram cercados de montanhas construíram suas sociedades debaixo dos tetos

rochosos das obras de Spatius, com túneis e grutas que ligavam as cavernas.

Devido ao pouco espaço ali encontrado, sua estatura diminuíra com o tempo,

porém ganharam força e aprenderam as técnicas da mineração. Hoje formam uma

sociedade de construtores, criaram mecanismos baseados a vapor para transporte

de minérios e dependem do comércio. São hoje os menores, mas tão robustos

quanto Orcs, os famigerados Anões de Millinar.

E por fim, ao Sul, as tribos

de Aresin em suas terras campestres e rios perenes em desertos, aprenderam a

ficar eretos antes de todos. Sua socialização e rivalidade com outros seres

ocasionaram a adaptação e construção de ferramentas de forma mais rápida, com

certo tempo, se tornaram os que mais rapidamente se incorporaram ao meio e se

dividiram em diferentes tipos de visões. Foram eles que criaram os mais

diversos cultos a nós, deuses. São os mais comuns de Millinar, os Humanos.

Nessas páginas deixo os

relatos do início da criação e do futuro dos seres aqui listados.

E por fim, eu, Fremita,

deixarei um conselho divino ao leitor deste livro:

"Tua ignorância não vem do fato que tu não sabes de

nada, mas sim da tua premissa que conheces tudo".

























































































































































Como Deathnara e Emptious nos

mostraram, ignorar um dos os lados em uma criação não nos fez estabelecer um

equilíbrio nos poderes divinos. Sequer conseguimos implantá-lo. Para ordem é

preciso haver o caos, para o dia raiar é preciso ter a noite fria, por fim,

para luz se manter é preciso que as trevas se contraponham.

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